O sonho de salvar vidas, como a que lhe foi tirada

Data: 24/02/2016

Veículo: O Popular

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24/02/2016 05:00 Mantovani FernandesA description...

Oswaldo José Zucatelli, pai de Nathalia: “Era uma atleta a minha filha” Sarah Teófilo

Nathalia era a caçula de quatro filhos, sendo que dois fizeram Medicina na Bolívia e a irmã fez enfermagem. E ela queria seguir os passos do irmão, mas aqui no Brasil. O sonho de salvar vidas, entretanto, lhe foi tirado na esquina do Colégio Protágoras, onde estava mergulhada nos livros da biblioteca.

De Ji-Paraná, Rondônia, Nathalia escolheu estudar em Goiânia depois de muita conversa com amigos, buscando o melhor lugar se preparar com o intuito de cursar Medicina, tendo cogitado ir também para Viçosa. Entretanto, tomou a decisão depois que a prima da amiga Vitória Costa passou para o curso de medicina na Universidade Federal de Goiás (UFG) após estudar no Colégio Protágoras.

Foi com essa amiga que Nathalia ficou por duas semanas, enquanto procurava um apartamento mais perto do colégio. As duas se conheceram no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (Ifro), onde Nathalia fez o ensino médio e curso técnico para técnico em florestas. As duas, e outras amigas, jogavam juntas no time de futsal do Ifro.

O amor pelo esporte era imenso. O pai da jovem, Oswaldo José Zucatelli, contou que a filha gostava não só de futsal, como também de vôlei, natação e tênis de mesa. “Era uma atleta a minha filha”, disse. Foi no time de futsal que fez a maior parte das amigas que deixou em Rondônia.

O time sempre viajava junto. Era Nathalia quem acalmava a todos. As amigas de Porto Velho a chamam carinhosamente de “caipira”, ou “Zuca”, apelido que não houve tempo suficiente para ser chamada por novos amigos em Goiânia.

Nathalia era muito inocente, assim como contam as amigas. Leandra Aguiar disse que a jovem não tinha medo e achava que Goiânia era uma cidade tranquila – fato este que Vitória já a havia alertado. “Disse para ela tomar cuidado, que Goiânia era perigosa”, explicou.

A jovem também era responsável e determinada. Foi ela que escolheu Goiânia, o colégio e a quitinete onde morava sozinha há uma semana.

A determinação era imensa. Os estudos sempre em primeiro lugar, e as horas prolongadas na biblioteca eram parte do cotidiano de Nathalia. “Não adiantava chamar para sair. Ela só queria estudar”, disse Vitória.

Para todas as amigas, a dedicação aos estudos é o primeiro ponto que vem a mente ao falar de Natália. Mas o futsal não é deixado para trás, quando chegou a confidenciar a uma amiga que se não fosse Medicina, faria Educação Física. “Ela se dedicava muito aos estudos, mas o Futsal era a paixão dela”, disse Thalyta Leite

A “caipira” era calma e não cabia em si de felicidade por estar em Goiânia. No pequeno quarto de Nathalia, os pedaços de melancia cortados na geladeira, as caixas de água de coco e o pacote de bolacha maisena na porta da geladeira mostram seu rastro. Os materiais de estudo ficavam dispostos na mesa da cozinha, bem organizados, e a cadeira preta que comprou recentemente. As listas de exercícios deixadas na mesa junto com a redação datada de 9 de fevereiro sobre alternativas para escassez da água. A escova de dente estava guardada no armário do banheiro, os pacotes de absorvente e cotonetes colocados cuidadosamente. Todos deixados para trás, junto com o sonho pelo qual tanto lutou.