Eram mais de 410 nas ruas, mas 61 foram mortos

Data: 25/02/2016

Veículo: O Popular

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Levantamento da UFG a pedido da Prefeitura mostra que número de moradores de rua assassinados pode ser maior. Há 110 corpos sem identificação no IML

25/02/2016 05:00Marcello Dantas

 

Em três anos, 61 moradores de rua foram assassinados em Goiânia, de acordo com pesquisa do Núcleo de Estudos Sobre Criminalidade e Violência da Universidade Federal de Goiás (Necrivi-UFG). Os pesquisadores consideram a quantidade de homicídios alarmante, quando comparada ao número de 351 pessoas encontradas no censo da população em situação de rua na capital em 2015.

O relatório intitulado Censo e perfil da população em situação de rua, desenvolvido com o apoio da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) e apresentado ontem pelo Necrivi, mostra que as mortes foram registradas entre agosto de 2012 e maio de 2015. E o número ainda pode ser maior, pois, segundo os dados da Associação dos Papiloscopistas Policiais do Estado de Goiás (Appego), só em 2014 foram encontrados 102 corpos sem identificação na Região metropolitana de Goiânia.

Segundo a pesquisa do Necrivi, 46,4% dos indivíduos vivem na região central de Goiânia. Em seguida aparecem as regiões Sul, Oeste e Leste (veja quadro). O sociólogo Djaci David de Oliveira, coordenador da pesquisa, diz que a maioria deles se concentra nas avenidas Independência e Paranaíba e na extensão do Eixo Anhanguera.

Por serem regiões economicamente centrais e com grande quantidade de comércios e alto fluxo de pessoas, os moradores de ruas as procuram para atuar como pedintes, ou exercer atividades corriqueiras caracterizadas como bicos, como flanelinha, vigia de carros e ambulantes. E por isso estão ali também os serviços de assistência pública como a Semas, o Complexo 24 horas, a Casa de Acolhida Cidadã e o Restaurante Cidadão.

A população de rua de Goiânia é formada sobretudo por homens, negros, solteiros e com baixa escolaridade. Os principais motivos que os levaram a essa situação de vulnerabilidade são os problemas familiares, o desemprego e a dependência de algum tipo de substância psicoativa.

A pesquisa, diz Oliveira, evidenciou a necessidade de políticas públicas para evitar a evasão escolar, pois a maioria tem, no máximo, o ensino fundamental completo. “Isso dificulta a inserção no mercado de trabalho”, diz. A permanência nas ruas repete a lógica da desigualdade racial do Brasil. “Precisamos de políticas transversais”, diz o sociólogo.

Além disso, a população de rua é muito vulnerável. “Todos os entrevistados reclamam da violência policial em todos os níveis, da militar à Guarda Civil Metropolitana” conta o sociólogo, que também ressalta a violência do meio empresarial. “As pessoas tratam os moradores de rua como lixo. Eles precisam ser tratados como seres humanos se quisermos resolver o problema.”

Quem são:

Total: 351

Crianças: 21

Adolescentes: 10

Adultos: 298

Idosos: 22

 

80,6% são homens

70% tem no máximo fundamental completa

70% são negros

48% relatam conflitos familiares

59,5% dormem nas ruas

40,5% passam a noite em instituições de abrigo

 

Distribuição por regiões

Região Central 46%

Região Sul 15,8%

Região Oeste 11,5%

Região Leste 10%

Região Norte 8,1%

Região Sudoeste 3,3%

NSD 2,9%

Região Noroeste 1,9%