Força-tarefa liderada por goiana

Data: 29/02/2016

Veículo: O Popular

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Cientista quer experts de várias partes do País unidos em busca de medicamento contra doença

29/02/2016 05:00 Marcello Dantas

Carolina Horta criou com americano grupo envolvendo várias universidades brasileiras



Premiada por trabalhos na área da leishmaniose, a cientista goiana Carolina Horta, de 32 anos, juntamente com o pesquisador norte-americano Sean Ekins, doutor em descoberta de fármacos, deu início a uma força-tarefa para a descoberta de um medicamento contra o zika vírus. O esforço conta atualmente com 13 pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos e deve testar princípios ativos já analisados no combate à dengue, provenientes da biodiversidade brasileira. “Estamos reunindo experts, cada um em sua área, para aplicar os conhecimentos na tentativa de descobrir um medicamento, um antiviral para tratar o paciente infectado e matar o vírus zika”, diz a pesquisadora goiana.

Carolina conta que ela e Sean trabalhavam juntos desde o ano passado, pesquisando novos fármacos para a dengue, quando o zika vírus se proliferou no Brasil. Eles começaram, então, a dar atenção ao problema. Em seguida, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu o alerta global sobre o risco de epidemia do zika vírus. No comunicado aos países membros no fim de janeiro deste ano, a OMS reconheceu pela primeira vez, oficialmente, a relação entre zika e microcefalia. A cientista também destaca as evidências em relação à síndrome de guillain-barré.

A força-tarefa conta com cientistas da Universidade da Califórnia, da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade de Campinas (Unicamp), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal de Goiás (UFG) e de empresas da área farmacológica. O grupo está em fase de adesão de pesquisadores e elaboração do projeto para a busca de recursos. Como os profissionais estão distribuídos em lugares diferentes, a comunicação é feita via e-mail e Skype.

Mesmo em estágio inicial, Carolina considera que há avanços, como a aplicação para o zika da pesquisa já em andamento contra a dengue. A dupla está testando substâncias de algas e produtos marinhos como esponjas como potenciais princípios ativos de antivirais. “Mesmo em relação à dengue, ainda é feito apenas o tratamento dos sintomas e não das doenças. Os dois vírus, dengue e zika, são da mesma família e são muito parecidos. Vamos aproveitar esse conhecimento adquirido para um e aplicar para o outro.”

Processo longo

A busca de novos fármacos é um processo longo. Segundo Carolina, gira em torno de 10 a 15 anos e é preciso investimentos dos governos e das indústrias. “O Brasil tem investido, mas esse valor ainda fica muito aquém do que é aplicado nos países desenvolvidos.”

Segundo a pesquisadora, a principal preocupação é com a situação das pacientes grávidas. Apesar da relação causal entre o vírus zika e a microcefalia em recém-nascidos ainda ser uma questão polêmica no meio científico, Carolina acredita que há uma correlação muito forte.

“Não está 100% provada, mas muitos estudos já apontam indícios dessa relação entre o vírus zika com o aumento dos casos de microcefalia. Por isso, vários pesquisadores no Brasil e no mundo estão envolvidos em pesquisas para desvendar e entender como o vírus atua no organismo humano.”

Apesar do desenvolvimento de uma vacina ou medicamento não ser um processo rápido, a especialista se mostra otimista. “Se nós pesquisadores trabalharmos juntos, em busca do bem comum, eu acredito que em 2 ou 3 anos é possível sim a descoberta de uma substância que seja eficaz em eliminar o zika vírus.”