Prêmio para quem zerar foco de dengue é considerado incoerente

Data: 10/03/2016

Fonte/Veículo: O Popular

Link direto para a notícia: http://www.opopular.com.br/editorias/cidades/pr%C3%AAmio-para-quem-zerar-foco-de-dengue-%C3%A9-considerado-incoerente-1.1049759

Bônus não vai para cidades que precisam de recursos para controlar Aedes, apontam técnicos

Decreto assinado ontem pelo governador Marconi Perillo (PSDB) dobra a verba da contrapartida estadual de saúde aos municípios que conseguirem zerar os focos de Aedes aegypti. Entretanto, pesquisadores e técnicos de saúde coletiva acreditam que a medida soa incoerente, por não beneficiar os municípios que precisam de recursos para controlar o mosquito, e dificilmente deverá ser cumprida pelos grandes centros urbanos.

"Não vejo incoerência. Vamos premiar o município que estiver efetivamente trabalhando. Não dá para a gente dar dinheiro para quem não faz a sua parte, o seu dever de casa. Os municípios que estão trabalhando duro para eliminar o Aedes vão receber um prêmio do governo do Estado", defendeu o governador durante evento para assinar o decreto e anunciar a redução do índice de infestação dos imóveis nos municípios goianos (veja quadro).

Para o professor em saúde coletiva da Universidade Federal de Goiás (UFG), Carlos Magno Neves, alcançar a meta estabelecida pelo governo estadual seria algo utópico. “O município de pequeno porte pode ter a possibilidade maior, mas não necessariamente alcançará a meta. Isso em função do ciclo de reprodução do mosquito, que é rápido. Se em uma semana não forem encontrados criadouros, já na próxima eles podem aparecer”, diz.

Neves lembra que os ovos do Aedes aegypti podem ficar até um ano em local seco apenas à espera de um pouco de água, não necessariamente limpa, para eclodir. “Então temos a possibilidade de eclosão do ano passado e desse ano também. Além disso, uma tampa de garrafa com um milímetro de água pode se tornar um criadouro. Por isso, vejo essa como uma ação pontual, com poucas condições de se tornar real”, afirma.

Professora adjunta do curso de medicina da Unievangélica, em Anápolis, Carla Guimarães Alves argumenta que o controle nas cidades maiores é mais complexo, constituindo áreas em situação de risco. “O ideal é identificar os municípios que realmente têm trabalhado no combate ao mosquito e recompensar de uma maneira escalonada. Para os grandes centros, poderia ser criado um porcentual como recompensa que não fosse o dobro", propõe.

Praticamente impossível

A opinião dos pesquisadores é, em parte, compartilhada pelo secretário municipal de Saúde de Goiânia, Fernando Machado. "Visitar 100% dos imóveis é possível, mas erradicar o mosquito em grandes centros urbanos como a capital é praticamente impossível. Isso, levando em consideração o rápido ciclo de reprodução do Aedes e a cultura vigente da população", avalia.

Goiânia conta com um corpo de quase 1,3 mil pessoas (agentes de endemias e agentes de saúde) para visitar em torno de 600 mil imóveis, entre casas, apartamentos, lotes e comércios. O problema, segundo Fernando Machado, é o ciclo biológico do mosquito. Entre nascer, picar e se reproduzir, o Aedes leva de 8 a 10 dias. Dentro de um mês, os agentes deveriam fazer três ciclos de visitas.

Outro fator apontado por Machado é a necessidade de conscientização da população. "O agente de saúde não é um agente de limpeza. A limpeza quem faz é o dono do imóvel. O servidor faz uma vistoria, diz o que está errado e depois volta para ver se a orientação foi seguida”, explica.

Estímulo

O secretário estadual de Saúde, Leonardo Vilela, defende a efetividade da medida. “Sabemos que é muito difícil que todos consigam. É uma questão a longo prazo. Acreditamos que é um estímulo importante e que alguns municípios vão atingir a meta. Temos municípios com 80% a 90% dos imóveis visitados e que estão muito perto de conseguir."