Cidades encaixotadas

Data: 14/03/2016

Veículo: Diário da Manhã

Link da notícia: http://www.dm.com.br/cultura/2016/03/cidades-encaixotadas.html

 


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O ambiente urbano apertado e caustrofóbico cheio de prédios, residências, carros, ônibus e lojas. Por outro lado, as janelas largas e coloniais das cidades interioranas. São estes contrastes da vida urbana, que se pode notar em Cidades, a mais recente exposição do artista plástico e professor universitário ZèCésar. A mostra fica aberta para exposição, até o dia 16 de abril na Plus Galeria de Arte.

Nela estão expostas 40 obras do artista plástico, devidamente divididas em duas séries pelas quais o artista trabalha amplas possibilidades de gravuras feitas em papelão. A primeira, que é composta por 15 peças, revela metrópoles construídas com recortes deste tipo de papel e trabalhadas com incisões e colados dentro de caixas abertas do mesmo material.

“São cidades montadas dentro de pequenas caixas, cidades encaixotadas, que, de certa forma, remetem ao crescimento desordenado das metrópoles superpovoadas. São trabalhos ‘quase’ tridimensionais”, detalha ZèCésar.

Já na outra série, o artista transforma embalagens de computadores e, outros equipamentos tecnológicos, em passado. Nestes materiais gravou com estilete, – agora sim – de forma tridimensional, as janelas e portas de cidades coloniais das quais já visitou e lhe impressionaram especialmente.

“Fiz ‘simulacros’ de casarios coloniais, barrocos, sem muita pretensão de fidelidade. É apenas a evocação dessas cidades, principalmente das janelas das casas da Cidade de Goiás Goiás”, acrescenta.

Nova empreitada

A dedicação de ZèCésar com as gravuras – ou como ele prefere dizer: às suas diversas técnicas e materiais – começou há cerca de 30 anos. E, desde então suas obras sentem “na pele” o apreço do artista pela experimentação. Já criou a partir das mais diversas superfícies, como: madeiras (xilogravura), metais, plásticos, tecidos, lonas, gesso, entre várias outras.

Sua mais nova aventura artística pode também ser conferida em Cidades e, trata-se da litogravura a seco. “Eu não conhecia este processo, que consiste na substituição da pedra litográfica pela chapa de offsete com aplicação de silicone. Fui conhecer no México, onde me dediquei a seu aprendizado.  Agora continuo aprofundando e ensinando a técnica na UFG”, diz.

DMRevissta: Esta exposição guarda uma ironia, correto? O papelão que é jogado fora todos os dias você transforma em cidade?

ZèCésar: Realmente, é uma ironia, ou uma alegoria – transformar um material descartado pela cidade em representações dessa mesma cidade.

DMRevista: Como foi que se descobriu artista?

ZèCésar: Não sei quando me ‘tornei’ artista. Sempre desenhei – vivia rabiscando (até hoje) – me formei em Ciências Sociais (na UFG), depois me matriculei no Instituto de Artes (hoje Faculdade de Artes Visuais) para “aprender algumas técnicas” e não abandonei mais a arte. Hoje sou artista e professor de arte, não faço muita distinção entre essas duas atividades.

DMRevista: As gravuras estão presente nas exposição e em sua história de vida. Por que este estilo de arte tanto te fascina?

ZèCésar: Eu me especializei em gravura; há mais de trinta anos que me dedico a essa técnica, ou melhor dito, a suas diversas técnicas e materiais. A gravura é um processo indireto, isto é, se grava uma imagem sobre um suporte (madeira, metal, pedra e outros) que funciona como uma matriz que é posteriormente impressa sobre um papel. A maneira indireta de trabalhar – a obra só se consolida quando é impressa – proporciona muitas vezes surpresas, o que instiga à produção de novos trabalhos e novas experimentações – pesquisas, isso foi talvez o que me motivou a me dedicar à gravura. Mesmo o trabalho com papelão – onde há incisões, cortes, recortes, colagem, típicos da gravura – só cheguei a ele por causa de minha experimentações com a gravura.

DMRevista: Recentemente você fez uma exposição em Cuba, a ZoomCity. Como foi esta experiência?

ZèCésar: A experiência em Cuba foi excelente. É um povo muito acolhedor; se parecem muito com os brasileiros em hospitalidade, têm muita sensibilidade para a arte e para a música. A recepção à exposição – minha e do pintor G Fogaça – foi impressionante.

DMRevista: Quais outras exposições mais te marcaram no decorrer da sua carreira?

ZèCésar: Para mim todas as exposições são importantes. O trabalho artístico é feito para ser mostrado. Para ser apreciado, degustado, pensado, discutido, etc… Algumas me marcaram mais, talvez, como a realizada em 2010 – intitulada Ocupação – na Galeria da Faculdade de Artes da UFG, ZoomCity, em Cuba, outra de gravuras na Austrália, em Belo Horizonte, mais recentemente uma coletiva de artistas contemporâneos Triangulações que percorreu Goiânia, Salvador e Fortaleza. Há também o Prêmio Itamaraty em 2012.

DMRevista: Tendo em vista sua experiência como artista e professor de arte, como analisa o cenário das artes plásticas em Goiás?

ZèCésar: Goiânia tem uma profusão de bons artistas e sempre têm surgido novos, tanto provenientes da Faculdade de Artes Visuais – UFG, quanto da comunidade.

SERVIÇO

Exposição Cidades, de ZèCésar

Visitação: Até o dia 16 de abril

Local: Plus Galeria

Endereço: Rua 114 nº 70. St. Sul – Goiânia-GO

Quanto: Entrada franca