O amor que move Elder Rocha Lima

Data: 16/03/2016

Veículo: Diário da Manhã

Link da notícia: http://www.dm.com.br/opiniao/2016/03/o-amor-que-move-elder-rocha-lima.html

 

No finalzinho de 2015 tive a honra de presidir uma solenidade para homenagear um dos goianos mais consagrados da atualidade, cuja obra é patrimônio de Goiás: Elder Rocha Lima, agraciado com o Troféu Jaburu, pelo Conselho Estadual de Cultural.

Elder Rocha Lima é um vulto cultural que dispensa apresentação. Nascido na cidade de Goiás, em 1928, este pintor, desenhista, aquarelista, arquiteto, crítico de arte, artista gráfico e professor é um grande exemplo da efervescência cultural goiana.

Formado pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, é um especialista em desenho e pintura. Paralelamente à atividade de arquiteto, começou a pintar principalmente imagens do cotidiano com figuras humanas e naturezas-mortas. Elder Rocha lecionou História da Arte do Brasil, no Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Federal de Goiás (UFG), e Desenho e História da Arte na Universidade Católica de Goiás (UCG), em Goiânia, até 1970. Criou, com Frei Nazareno Confaloni (1917-1977), o curso de Arquitetura e Urbanismo da UCG e fundou a empresa Terracota, especializada em artigos de cerâmica artística.

Esse artista genuíno produz uma obra perfeitamente identificada com a saga dos goianos. Seus traços revelam a maturidade de um grande e sensível pintor, além de uma visão de apurada do homem e a sua visão sobre as coisas que o cerca. Intrépido, Elder Rocha Lima além de fazer desenhos de calçadas em mosaico português para a prefeitura de Goiânia e desenhos de azulejos decorados para produção industrial. Em sua vasta produção, fez capas para livros e publicações variadas.

Em 1980, Elder Rocha Lima trabalhou como crítico de arte no Jornal de Brasília. Em 1991, recebeu homenagem da Universidade Federal de Goiás (UFG), com uma exposição no Museu de Arte Contemporânea de Goiânia (MAC), onde são expostas obras de suas diferentes fases, desde pinturas do começo da carreira até experiências fora da tela plana, nas quais trabalha com raízes, bolas de gude e outros objetos.

Por inúmeras oportunidades, Elder Rocha Lima tem declarado seu amor pela pequena cidade de Pirenópolis, a cidade das pedras, exuberância de riquezas naturais e um dos principais berços da cultura goiana. Não perdeu a oportunidade de lançar o Guia Sentimental de Pirenópolis, com informações históricas e curiosidades sobre a cidade, ilustrados por desenhos feitos a bico de pena e fotografias.

Por ser um grande benfeitor da cultura goiana, detém o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. É autor de Ex-votos de Trindade, Utopia – O discurso e a prática; Apologia das Mãos; Octo Marques: Trajetória de um Artista; Itinerário Cora Coralina; Notícias de Corumbá de Goiás; Guia Afetivo da Cidade de Goiás; e Guia Sentimental de Pirenópolis, dentre outras obras. O prédio da Biblioteca Central da PUC-Goiás, com aproximadamente 40 mil volumes, tem a assinatura do grande arquiteto goiano, que lecionou no curso de arquitetura da UCG e foi mestre de expressivo número de consagrados arquitetos goianos.

Como já se disse: um povo sem memória é um povo sem história. Elder Rocha Lima é um artista completo. Além de sua apurada técnica, evidencia, ao longo de sua brilhante trajetória, a figura de ser humano da melhor qualidade, que trabalha incansavelmente para preservar a memória de Goiás e para ressaltar os valores fundamentais da pessoa humana, traduzidos pela igualdade, fraternidade e liberdade. Seu traço tem o vigor da juventude e o equilíbrio do homem experiente, a sapiência do ser letrado e a cultura genuína do povo, a agitação de um ativista e a calmaria do timoneiro que leva o barco a porto seguro.

A vida de Elder Rocha Lima se traduz por uma poesia diária, cujos versos narram o seu amor pela vida e pelo seu povo. Para concluir, recorro a ensinamentos do sábio Platão, que encaixam bem na figura deste grande artista goiano: “Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o Amor toma conta dele.”

Elder era tomado por esse amor de ser brasileiro e goiano. Cera vez, ele se definiu como “um verdadeiro homo cerratensis” e disse que “temos por cá uma natureza e uma cultura com características próprias, dignas de serem preservadas e estudadas.” Dos dizeres de Elder Rocha Lima depreendemos o sentido e o objetivo de sua obra monumental, uma verdadeira declaração de amor a Goiás.

(Marconi Perillo, governador de Goiás)