Manifestações chegam à escola

Data: 22/03/2016

Veículo: O Popular

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Fatos políticos recentes são discutidos em aula, mas há divergências quanto atuação dos professores

Em tempos de crise política - e esta sendo exposta a todo momento na mídia e nas ruas -, é fácil que as discussões cheguem até as salas de aula. Alunos de todas as idades discutindo política e o futuro do País pode ser uma boa ideia para formar cidadãos, mas também pode incitar acirramento entre polos divergentes e grandes discussões, cabendo à escola e aos educadores saber como lidar com situações polêmicas. O ponto mais divergente é justamente como professores devem atuar nas salas de aula.

Em um ponto, todos os educadores e diretores de escolas ouvidos pelo POPULAR foram unânimes: não dá para ignorar o assunto. Seja pela mídia tradicional ou pela internet, os alunos terão acesso a crise instituída com a polarização pró-governo ou pró-impeachment. Mais que isso. Em todas as manifestações populares nas ruas, é possível ver pais com seus filhos, independente de idade, o que faz com que o assunto chegue às escolas até mesmo pelos alunos, caso não se tenha a iniciativa dos educadores.

A divergência é sobre como o professor deve atuar nesses casos. O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Goiânia (Sepe-GO), Flávio Roberto de Castro, entende que é preciso estimular as discussões políticas, mas que os professores não defendam uma corrente política ou situação. Já o sociólogo, professor e presidente do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro-GO), Alan Francisco de Carvalho, o educador não pode negar o seu posicionamento ao aluno, mostrando qual sua opinião, ao usar sua formação e experiência para um debate tolerante e respeitoso.

Cobrança

Flávio Roberto considera que a crise política é tratada como qualquer outro assunto polêmico nas escolas, como religião e sexualidade, por exemplo. O diretor e proprietário do Colégio MilleniumClasse, Gustavo Silva, reforça que os próprios alunos cobram o debate em temas polêmicos e a chance de se posicionar. “É nítido e claro que, nestes últimos anos, os alunos estão prestando mais atenção e se posicionando. Hoje a diversidade é muito grande, é muita dor de cabeça, os pais ligam na escola e cobram o que os professores falam em sala de aula.”

Silva lembra que é comum ter divergências nas aulas e que cabe ao professor mediar as opiniões mais polêmicas, de modo que alunos e familiares cobram essa possível imparcialidade dos educadores. “Eu peço bom senso aos professores, que não é para omitir nada e nem deixar de dar o conteúdo, mas se for se posicionar tem que saber que o aluno também vai fazer o mesmo e aí tem que respeitar a opinião dele, falar baixo e ganhar no argumento”, diz.

Em relação à análise das notícias, o presidente do Sepe-GO, Flávio Castro, afirma que orienta os professores a esperar um pouco mais tempo para falar sobre determinado assunto, até para que se tenha mais clareza do que ocorreu. Com as informações e análises rápidas, haveria o risco de se perder ao não perceber todo o contexto do problema.

A professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), Miriam Bianca Amaral Ribeiro, afirma que o professor não pode se colocar como alguém neutro, mas também não condicionar seu pensamento aos outros. “A escola está dentro das contradições do mundo, é a própria vida, não é uma ilha, não podemos desnaturalizar o que parece natural”, reforça. Assim, para ela, as escolas que buscam a imparcialidade nos professores são as que querem achar que o aluno também pode ser imparcial e, simplesmente, não se posicionar sobre o assunto.

“O que o professor deve fazer é problematizar e pensar criticamente para que o aluno entenda o processo em curso, como o processo de poder e de construção de riqueza”, se posiciona Miriam. A professora ainda lembra que as manifestações recentes, especialmente a que resultou em ocupação das escolas estaduais contra o projeto estadual de administração das unidades por organizações sociais e também contra o aumento da passagem do transporte coletivo, mostram que os adolescentes estão cientes da realidade.

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