Mielofibrose: novo medicamento reduz risco de morte em até 42%

Data: 11/04/2016

Fonte/Veículo: Folha Web

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Recém-liberado pela Anvisa, ruxolitinibe é o único tratamento para câncer raro que provoca o mau funcionamento da medula óssea

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Pacientes com baixa qualidade de sangue não devem usar o medicamento, segundo o hematologista Renato Tavares
Acaba de ser liberada no Brasil a venda do ruxolitinibe, medicamento fabricado pela Novartis indicado para o tratamento da mielofibrose de risco intermediário ou alto. A mielofibrose é um tipo raro de neoplasia, que provoca o mau funcionamento da medula óssea, fazendo com que esta deixe de produzir quantidades normais de células sanguíneas. Na medula sadia, há a produção exata de glóbulos vermelhos (hemácias), glóbulos brancos (leucócitos) e plaquetas, para que o corpo funcione corretamente. Já na medula de pacientes com mielofibrose, ocorre uma "cicatrização" que reduz a produção desses hemocomponentes.

"O ruxolitinibe é o único tratamento disponível atualmente para esta doença. Até então, os pacientes tinham tratamento de suporte, ou seja, tratávamos os sintomas, conforme eles iam aparecendo", explica Renato Tavares, médico hematologista do Banco de Sangue Hemolabor e professor-assistente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG).
O medicamento foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro do ano passado. Nos Estados Unidos, a agência reguladora americana Food and Drug Administrations (FDA) liberou o seu uso em novembro de 2011 e a Comissão Europeia aprovou em agosto de 2012. Com a liberação da Anvisa, os pacientes brasileiros podem importar o medicamento, cujo preço para venda no País ainda não foi definido.
De evolução lenta e causas ainda desconhecidas, a mielofibrose tem como sintomas a perda de peso, anemia e palidez, sudorese noturna, coceira intensa, fadiga, hematomas sem causa aparente, cansaço e o baço aumentado. Enquanto um baço normal tem até 15 centímetros e pesa até 150 gramas, em pacientes com mielofibrose ele pode pesar até dez quilos e alcançar até 36 centímetros de comprimento. O aumento ocorre porque o órgão tenta compensar a redução de glóbulos no corpo, ampliando a sua produção e, consequentemente, mais que dobrando seu volume.
"O paciente pode ficar muito fraco, alguns não conseguem nem falar. A doença também provoca processos inflamatórios por isso a qualidade de vida pode se tornar muito ruim. Embora não haja cura, com o medicamento há uma melhora de qualidade de vida, principalmente com a diminuição do volume do baço", explica Tavares.
Entre os efeitos colaterais do novo medicamento estão a diminuição na quantidade de plaquetas, maior risco de infecções nas vias aéreas e urinárias e a ocorrência de herpes. "Pacientes com a qualidade do sangue muito ruim não devem usar o medicamento", aponta o hematologista.

SOBREVIDA
Resultados na Europa apontaram sobrevida dos pacientes, com redução do tamanho do baço e diminuição dos sintomas. "No Brasil, os pacientes foram tratados em protocolo de pesquisa e das 27 pessoas que acompanhei e haviam recebido o medicamento, a maioria teve uma resposta muito boa. Ainda é apenas uma impressão, mas os resultados indicam que quanto mais precocemente o paciente começa a usar o medicamento, melhor é a resposta ao tratamento."
Segundo os resultados obtidos até agora, o ruxolitinibe reduz em até 42% o risco de morte pela doença. Em geral, a média de sobrevida de um paciente com mielofibrose sem tratamento é de 5 a 6 anos, caindo para 1,3 ano em pacientes classificados como de alto risco. A doença também pode progredir para leucemia mieloide aguda ou insuficiência medular, segundo o hematologista.
Por enquanto o medicamento não é ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e será necessário aguardar até 2018, quando será feito o novo Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde para que haja a possibilidade deste ser ofertado pelos planos de saúde. (A repórter viajou a convite da Novartis)
Érika Gonçalves
Reportagem Local