Das possibilidades do giz

Data: 07/07/2016

Veículo/Fonte: O Hoje

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Das possibilidades do giz
Galeria da FAV reabre as portas com a exposição ‘Esculpindo Brancusi’, de Natasha Baricelli, que mostra recriações em miniatura da obra do célebre escultor romeno

JÚNIOR BUENO

Constantin Brancusi foi o mais célebre escultor romeno e um dos principais nomes da vanguarda moderna. Formado na Escola de Artes de Craiova e depois na escola nacional de Belas Artes de Bucareste, ele completou sua formação em Paris. Foi uma figura central do movimento moderno e um dos pioneiros da abstração. Sua escultura é conhecida pela elegância visual e pelo uso de materiais sensíveis, combinando a escultura franca do camponês com a sofisticação da vanguarda parisiense. Brancusi criou sua primeira grande obra, O Beijo, em 1908.

A partir deste momento sua escultura tornou-se cada vez mais abstrata. Entre outras, destacam-se na sua obra Musa Adormecida, A Maiastra, O Mundo, O Pássaro e A Coluna Sem Fim. A escultura de Brancusi ganhou notoriedade internacional em 1913, no Armory Show, em Nova York. Seu ateliê em Paris foi preservado depois de sua morte e reconstruído ao lado do Centro Georges Pompidou, o Beaubourg, pelo interesse dedicado ao arranjo de suas esculturas que, em si, foi pensado como problema artístico e foi documentado em fotografias e filmes pelo próprio artista. Ele deixou o conteúdo de seu estúdio para o Museu de Arte da Cidade de Paris na condição de o estúdio ser instalado no museu em sua totalidade. 

Mas quem não pode ir a Paris tem a chance de conhecer as obras de Brancusi em uma releitura bem inusitada. A galeria da Faculdade de Artes Visuais (FAV) da Universidade Federal de Goiás abre, hoje (7), a exposição Esculpindo Brancusi, da artista paulista Natasha Barricelli. A mostra marca a reabertura da galeria, sob nova coordenação, e reúne uma série de esculturas e fotografias. Nesta exposição, Natasha Barricelli se debruça sobre as obras e os paradoxos levantados pelo escultor romeno.

Ao esculpir em giz delicadas réplicas e pequena escala de algumas obras seminais do escultor, Barricelli cria um campo metalinguístico de voltagem poética. Neste ensejo, ao acolher as réplicas em giz, ela interrompe essa relação da escultura brancusiana com o espaço da implantação da obra. 

Entre leituras possíveis, é um gesto afirmativo no sentido de reiterar que as obras resistem consecutivamente ao artista, e seguem seu rumo desdobrando o vasto imaginário de seu criador ao infinito. A escultura é o escultor. Serão apresentados trabalhos da série Brancusi dos quais estarão presentes tanto as esculturas em giz quanto as fotografias feitas destas pela artista. 

Natasha afirma que escolheu trabalhar com Brancusi, em primeiro lugar, porque se trata de um nome forte na arte da escultura. “Pela tradição das esculturas, já Brancusi trouxe uma ruptura com a base e pelo uso do material, já que ele trabalhava com gesso”. Outro motivo é que o trabalho anterior da artista revisitava as obras de Rodin, que foi mestre de Brancusi. “Um projeto sempre leva a outro e, nesse caso, o próximo passo era fazer algo com Brancusi”, explica ela.

A escolha do giz foi também uma forma de se comunicar com o trabalho de Brancusi. O trabalho de esculpir miniaturas, em giz, segundo a artista, é “um trabalho de cirurgião”. Como o material é poroso, há muitas perdas no processos. Perdas que ela faz questão de registrar e incorporar à obra. “Não descarto nada”, diz ela.

Natasha Barricelli vive em São Paulo. Estudou Artes Plásticas na instituição de ensino FAAP e na Fundação Armando Alvares Penteado em São Paulo. A artista foi uma dos 22 artistas participantes da exposição O Espaço Sonha O Sujeito, referente ao edital Arte Londrina 3, e expôs em diversos espaços, como a Galeia Quarta Parede, onde participou da exposição Um Lugar Para O Outro. 

Expôs também no Centro Histórico Mackenzie, no Espaço Ophicina e no Ateliê 397, em São Paulo. Neste último espaço, Barricelli propôs uma intervenção com cerca de 100 quilos de gesso, diretamente sobre a parede mais utilizada do ateliê, percorrendo com a forma escultórica branca os ‘acidentes’ da arquitetura: janelas, portas, desníveis, entre outros. 

Essa mostra inaugura a nova gestão da galeria da FAV sobre a coordenação dos professores Samuel José Gilbert De Jesus, crítico, curador, professor de História da Arte e da imagem, e Rubens Pileggi Sá, artista, crítico de Arte e professor de Desenho e Escultura, ambos na faculdade de Artes Visuais da UFG. Segundo Rubens, a galeria esteve fechada para essa nova reformulação, e a nova coordenação foi aclamada pelo conselho diretor com duração de dois anos.

Para a reabertura, a exposição de Natasha foi escolhida por edital. Entre 90 projetos, seis foram escolhidos e vão entrar na programação da galeria em sequência. “Depois disso, nós vamos abrir editais para novos artistas,” finaliza Rubens.

SERVIÇO

Exposição ‘Esculpindo Brancusi’, da artista 

paulista Natasha Barricelli

Onde: Galeria da FAV-UFG, Campus II

Abertura: Hoje (7 de julho) às 10h

Visitação: De segunda a sexta das 9h às 17h

Entrada franca