No dedilhar da viola: música caipira ganha novo fôlego

Data: 31/07/2016

Fonte/Veículo: O Popular

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No dedilhar da viola: música caipira ganha novo fôlego

Tradição no Brasil há muitos anos, música caipira ganha novos nomes e destaque em meio ao sertanejo universitário

Marcus Biancardini ganhou a viola do violeiro Renato Andrade

Quando a cantora Bruna Viola nasceu, há 23 anos, uma das suas maiores influências na música caipira, Tião Carreiro, já era uma lenda no segmento. Na mesma linha do tempo, Inezita Barroso, na época com 68 anos, tinha combatido e vencido preconceitos contra a mulher e abriu caminho para novos talentos no gênero. O que a loira cuiabana, uma das sensações do momento, não poderia imaginar é que ela daria continuidade à tradição e oxigenaria o público de uma das mais importantes ramificações do sertanejo: a moda de viola. “Cresci escutando isso”, explica Bruna. (veja entrevista completa na página)

A música sertaneja nasceu no sertão caipira, cantando a vida do homem no campo, o contato com a natureza, a melancolia e a solidão do caboclo, cresceu com o romantismo e nas últimas décadas ganhou maior apelo comercial e urbano, com o segmento universitário. Porém, a moda de viola, apesar de aparentemente esquecida do grande público, nunca perdeu espaço no mercado. Um bom exemplo disso é a carreira do violeiro Almir Sater, um dos responsáveis por dar grande visibilidade ao instrumento nas novelas, e de Renato Teixeira, seu grande parceiro e um dos mais destacados cantores regionalistas.

Em Goiás, berço da música sertaneja, a moda de viola formou também uma centena de nomes, como Melrinho & Belguinha (cantaram no Batismo Cultural de Goiânia), Marrequinho & Nuvem Negra, Galvan & Galvãozinho, Trio da Vitória, Goiá & Goiazinho, André & Andrade, Reizão & Zé Rezende. No cenário nacional destacavam-se Tião Carreiro & Pardinho, Tônico & Tinoco, Léo Canhoto & Robertinho, Zico Dias & Ferrinho, Laureano & Soares, Mandi & Sorocabinha e Mariano & Caçula. Nessa época, inclusive, o palco dos shows eram os circos, alguns rodeios, as rádios e depois a TV.

“A viola desde a sua aparição nas telenovelas com Almir Sater tem ganhado novos adeptos, os jovens, cada vez mais têm se interessado pelo instrumento e esse tipo de música. A viola tem conseguido também abrir portas no meio acadêmico, desde 2004 temos até curso superior em viola caipira, numa iniciativa da USP e sobre coordenação do violeiro e professor Ivan Vilela. Grandes talentos no instrumento vêm surgindo e despontando na atualidade, sejam dispostos a manter a tradição da música caipira de viola ou mesmo retrabalhar essa música com outros diálogos sonoros”, avalia o professor, violeiro, doutorando e graduado em música pela UFG, Denis Rilk Malaquias.

Renato Andrade

A viola foi influenciando vários nomes nas décadas seguintes, como Almir Pessoa e caso do violeiro Marcus Biancardini, 37, que aprendeu a tocar sozinho quando tinha 15 anos vendo amigos do seu pai tocando Tião Carreiro e Tonico & Tinoco na fazenda da família. Um dos tocadores da roda apresentou para o jovem LP’s do violeiro Renato Andrade, considerado o melhor do Brasil. Por iniciativa de sua mãe que, na cara e coragem, ligou para o músico e falou que o filho era seu fã, eles se conheceram. “A primeira pergunta que ele me fez foi se eu tocava com unha ou dedeira aí falei ‘com unha’ e ele falou ‘muito bem’”.

Quando encontrou Renato Andrade no pátio do hotel lá mesmo começaram a tocar. “Quando ele tocou tinha a certeza de que estava a milhões de anos a minha frente. Não estava entendo nada do que ele fazia. Mas eu era um pouco atrevido e já tocava a caricatura da música dele. Naquele momento ele me considerou seu aluno e me convidou para o seu show em Brasília e foi a primeira vez que subi em um palco. Depois dei um salto no instrumento e ele me considerou seu sucessor”, conta.