Vacina é bem-vinda, mas erradicação da dengue vai demorar

Data: 03/10/2016

Veículo/fonte: O Tempo

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SÃO PAULO. A primeira vacina contra a dengue já está acessível gratuitamente para a população de 30 municípios do Paraná. Embora ainda não exista previsão para que outras regiões do país sejam beneficiadas pela novidade, a espera não deve ser longa. A notícia é comemorada por especialistas, mas o pesquisador João Bosco Siqueira Júnior, da UFG (Universidade Federal de Goiás), alerta que é preciso dosar a euforia, já que leva tempo entre a introdução de uma vacina e a percepção de seu impacto na saúde da população.

Siqueira Júnior lembrou que, no passado, a introdução de outras vacinas demoraram a surtir efeito na população e que as gerações atuais vivem um cenário em que várias doenças já estão erradicadas. “Essas pessoas não têm a vivência, por exemplo, de que entre o início da vacina da poliomelite e o controle da doença, se passou um bom tempo. Então é preciso educar a população nesse sentido, pois a dengue não vai acabar amanhã”, disse ele na 18ª Jornada Nacional de Imunizações, que aconteceu de quinta a sábado últimos, em Belo Horizonte.

Registrada em dezembro de 2015 na Anvisa, a primeira campanha da vacina atendeu a rede pública do Paraná, em julho. A primeira dose já foi distribuída a 30 municípios. Enquanto não chega à rede pública de outros Estados, a vacina pode ser encontrada em hospitais e clínicas de imunização privados. O custo para os estabelecimentos varia entre R$ 132 e R$ 138. Para o consumidor, o valor sai mais caro.

A presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, também avalia de forma positiva a novidade, mas ressalta o desafio de conscientizar a população. “A vacina é ótima. Tem uma eficácia de mais de 90% para as formas mais graves da doença. O único ponto negativo é a necessidade de três doses. Por que digo isso? Porque é muito difícil vacinar o adulto. Quando o alvo é uma faixa etária de 9 a 45 anos, há um desafio enorme de trazer as pessoas para a sala de vacinação. Ainda mais quando precisamos fazer isso três vezes, em intervalos de seis meses”.

Isabella diz ainda que a inclusão da vacina na rede pública demanda estratégia. “Antes do governo adquirir do laboratório, nós precisamos ter um plano elaborado que permita trazer as pessoas à sala de vacinação. Este é o maior desafio. Do contrário, a vacina fica parada na geladeira. E é preciso garantir também que não vai faltar orçamento para adquirir nenhuma das três doses”.

Responsável

Campo. O laboratório francês Sanofi Pasteur é o responsável pelo desenvolvimento da vacina. Como não há muitos casos de dengue na França, a avaliação de campo ocorreu na Ásia e na América Latina.

SAÚDE PÚBLICA

Situação do idoso é desafio

SÃO PAULO. “A vacina tem resultados que foram divulgados para um indivíduo. Os benefícios individuais estão bem registrados. A nossa próxima pergunta é qual o impacto que a vacina tem na perspectiva da saúde pública. Qual é o resultado de se ter muita gente imunizada?”, indaga o pesquisador João Bosco Siqueira Júnior, da UFG (Universidade Federal de Goiás). Segundo ele, um aspecto que precisa ser analisado é a situação dos idosos.

Segundo o Ministério da Saúde, idosos têm 12 vezes mais chances de morrer pela doença do que pessoas de outras faixas etárias. No entanto, a vacina foi elaborada para quem possui entre 9 e 45 anos. Ou seja, os idosos estão fora do público alvo. “Mesmo assim, eles podem ser beneficiados. Pois se as pessoas entre 9 e 45 anos estiverem imunizadas, elas deixam de ser fonte do vírus para o mosquito que picá-las.

Dessa forma, espera-se que a quantidade de mosquitos infectados caia. Assim, nós protegemos indiretamente os idosos. É um contexto possível, mas que só as pesquisas poderão confirmar”.

ESTUDOS

Controle. Dois estudos promissores podem conseguir controlar o Aedes aegypti. Um deles pretende utilizar mosquitos geneticamente modificados para impedir a reprodução da espécie. O outro faz uso da bactéria Wolbachia, facilmente encontrada no meio ambiente. Pesquisas preliminares apontam que os vírus da dengue, da febre chikungunya e da zika, quando infectados por esta bactéria, não conseguem mais ser transmitidos pelo mosquito.