Garota trans recorre à campanha de financiamento coletivo para custear cirurgia de mudança de sexo

Data da notícia: 18/10/2016
Veículo/Fonte: bhaz
Link da matéria: http://bhaz.com.br/2016/10/18/garota-trans-recorre-a-campanha-de-financiamento-coletivo-para-custear-cirurgia-de-mudanca-de-sexo/

 

13938339_1159360350751873_8973945951257180300_n

 

Em meio ao desamparo do SUS (Sistema Único de Saúde) quanto à oferta de cirurgias de mudança de sexo em Minas Gerais, a mineira Clara Houri, de 21 anos, aposta no financiamento coletivo como o único caminho para conquistar a plenitude de sua identidade de gênero. Para ela, a tão sonhada redesignação de sexo seria o fim de um “desconforto” que a acompanha desde os primeiros anos de vida. Em todo país, apenas cinco instituições oferecem o serviço custeado pelo SUS. Na rede particular, a cirurgia pode chegar a R$ 60 mil.

Clara Houri acumulou R$ 605 na primeira semana em que lançou a campanha de financiamento coletivo por meio de uma página na internet. Ela espera complementar a sua renda de garçonete em um restaurante da capital para realizar o precedimento.

“Sempre tive desconforto com o corpo e com a genitália, mas eu não sabia o que era. Me identificava apenas como um menino gay. Então, há três anos, passei a pesquisar, quando descobri o que era ser trans”.

Desde de então, ela vem trilhando o caminho para conseguir a tão sonhada cirurgia. No entanto, as dificuldades, segundo conta, começam dentro da própria família. “A minha mãe não me apoia, mas pelo menos não me expulsou de casa. E nenhuma outra pessoa da minha família teria como pagar a cirurgia”, conta.

Para ela, a iniciativa de se expor na internet para obter o custeamento da operação, além da possibilidade de realização de um sonho, contribui para conscientizar as pessoas sobre o impacto que a intervenção cirúrgica pode causar na vida de uma pessoa trans. “Espero alcançar o maior número de pessoas para mostrar que essa cirurgia não é estética. Não estou fazendo a cirurgia para ninguém, estou fazendo por mim. Porque estou em desespero”, declara, emocionada.

Houri ressalta ainda que já pensou em recorrer ao sistema público de saúde para realização da cirurgia. Contudo, acabou desistindo diante da burocratização das pré-consultas e da longa fila de espera.  “O SUS é muito burocrático, ficam muito tempo tentando provar que você é trans. Além da burocracia, a espera na fila é estimada em dez anos. Tenho uma amiga que está há 8 anos esperando e até hoje não foi chamada”.

SUS

Desde 2008, as cirurgias de mudança de sexo são custeadas pelo SUS. Do período de implantação do processo cirúrgico pelo SUS até 2015, a quantidade de procedimentos realizados cresceu 33 vezes, saltando de 101 no primeiro ano — em 2008 — para 3.440, em 2015. Até o mês de junho deste ano foram realizados 2.286 procedimentos.

A Portaria n° 457, de agosto de 2008, que viabilizou a prestação do serviço pelo sistema público de saúde, determina que as instituições credenciadas devam oferecer serviços de atenção especializada com médicos das áreas de endocrinologia, ginecologistas, urologistas, obstetras, cirurgiões plásticos, psicólogos e psiquiatras, além de enfermeiros e assistentes sociais.

Segundo o Ministério da Saúde, em todo o país, apenas cinco instituições se enquadraram nos requisitos: o Hospital das Clinicas da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia (GO); o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre (RS); o Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (RJ); a Fundação Faculdade de Medicina, da Universidade de São Paulo (USP); e o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife (PE).

Nessas instituições são realizados todas as intervenções que integram o processo transexualizador: as cirurgias de redesignação sexual, de mastectomia (retirada de mama), de plástica mamária reconstrutiva (incluindo próteses de silicone) e de tireoplastia (troca da voz).

Além disso, no campo ambulatorial, há terapia hormonal e acompanhamento dos usuários em consultas e no pré e pós-operatório. Ainda segundo a pasta, existem alguns serviços ambulatoriais em funcionamento no país, os quais foram implantados por iniciativa local. EsseS serviços são oferecidos em João Pessoa, capital da Paraíba; Uberlândia, no Triângulo Mineiro; em Curitiba, capital paranaense; e em São Paulo.

Em Belo Horizonte

Aberto em 2014, o Ambulatório de Transexualidade do Hospital das Clínicas da UFMG — instalado na unidade Borges da Costa, na região hospitalar de Belo Horizonte — ainda depende de autorização do Ministério da Saúde para oferecer as cirurgias de redesignação de sexo.

No ano de inauguração, a instituição passou a receber alguns pacientes transexuais para orientá-los quanto ao tratamento hormonal. Porém, atualmente, o ambulatório suspendeu também as atividades de acompanhamento.

Idade mínima

Para procedimentos cirúrgicos, segundo informa o Ministério da Saúde, a idade mínima exigida é de 21 anos. Após a cirurgia deve ser realizado um ano de acompanhamento pós-cirúrgico. Depois desse processo, os atendimentos devem ser prestados pelos serviços da rede de saúde conforme a necessidade do paciente.