Mosca branca: 8 fatos para entender o inseto e realizar o melhor manejo

Data: 19/10/2016

Veículo/fonte: Farming

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Além de introduzir toxinas nas plantas, a mosca branca transmite doenças severas que prejudicam principalmente lavouras de soja e feijão

Por Carolina Barros*

Mosca-branca

A primeira coisa que precisa ser esclarecida sobre a mosca branca (Bemisia tabaci) é que, na verdade, ela não é uma mosca. Na classificação da biologia, moscas são insetos da ordem Díptera, porque possuem só um par de asas. Já o inseto chamado de mosca branca pertence à ordem Hemíptera, o que significa que possui dois pares de asas, uma rígida presa a base do corpo e outra flexível, responsável pelo voo do inseto. Esse grupo é formado por insetos sugadores, como cigarras, cigarrinhas, afídios e bichos-frade. “Ela se chama mosca branca mas ela não é uma mosca, esta praga é uma pequena cigarrinha”, afirma Cecília Czepak, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Goiás.

A mosca branca é uma praga preocupante principalmente porque é vetora de doenças que afetam diferentes culturas. Exemplo disso é o Begomovírus, que ataca as lavouras de tomate, e o mosaico dourado e Carlavírus na cultura do feijão. A mosca branca pode ser encontrada em plantações de soja, tomate, feijão, algodão e hortaliças em geral. “A mosca branca se adaptou a inúmeras culturas”, diz. Segundo a pesquisadora, o inseto consegue se reproduzir em plantações de mais de 600 espécies de plantas.

1 – Como identificar o inseto?

A mosca branca possui corpo de coloração amarelada e nas asas apresenta um tipo de “pó branco”, característico dessa espécie, que define o seu nome. Os insetos possuem um aparelho bucal sugador, usado para inserir no tecido das plantas e se alimentar da seiva, o que também prejudica as plantas. O ciclo de vida do inseto é de 15 a 21 dias, desde a fase de ovo até adulto.

2 – Sintomas

Quando se alimenta, a mosca branca introduz toxinas na planta, o que altera o desenvolvimento reprodutivo e vegetativo da cultura. Dessa forma, a praga reduz a produtividade e a qualidade da produção. Além disso, a mosca libera na planta substâncias açucaradas que facilitam o desenvolvimento de doenças como fumagina, causada por fungos.

Porém, não há muitos sintomas diretos causados pela mosca branca, porque o problema real causado pela mosca são as doenças que ela transmite. “Ela afeta a produção de forma irreversível devido a transmissão das doenças, diminuindo produtividades de cultivos como feijão, tomate, soja e algodão”, afirma Cecília.

3 – Prevenção

A pesquisadora orienta que o produtor deve fazer um plano de amostragem criterioso, que deve ser contínuo e repetido a cada três dias. Além disso, deve eliminar plantas hospedeiras antes do plantio e imediatamente depois da colheita, destruir os restos de cultura, fazer uso correto de inseticidas e o controle das ninfas (fase jovem do inseto).

Outra medida é a rotação de cultura, porque dessa forma há quebra no ciclo da praga. O ideal é a rotação com gramíneas. O milho, que também é classificado como gramínea, é uma boa opção para a rotação, porque apesar de permitir a multiplicação de mosca branca, as lavouras de milho não são hospedeiras frequentes. “Essas são medidas que devem ser adotadas por todos, pois se só alguns produtores fizerem, o manejo não funcionará, já que o adulto é capaz de migrar entre as lavouras”, diz Cecília.

4 – Controle da mosca branca

Em lavouras infestadas, o produtor deve fazer o Manejo Integrado da Praga (MIP), que são uma série de medidas para realizar um controle completo e eficiente. “Estamos caminhando a passos lentos em relação ao manejo e infelizmente nos baseando quase que exclusivamente no controle químico e isso não é sustentável ao meu ver”, afirma Cecília.

Ao realizar o controle químico, o produtor deve ter conhecimento técnico sobre o produto para saber qual é o mais indicado de acordo com o estágio de desenvolvimento da praga, com as condições climáticas e o estado da lavoura. Segundo a pesquisadora, o principal erro é não rotacionar os inseticidas de modo de ação diferentes e não identificar o estágio do inseto de forma correta.

5 – Clima

A mosca branca é altamente afetada pela temperatura, pois o ciclo de vida da praga varia de acordo com o clima. A uma temperatura de 16ºC, o ciclo completa-se em 70 dias, já a 26ºC completa-se em 22 dias. “Assim, quanto mais quente, menor será o ciclo da praga, podendo ter até duas gerações ao mês nas lavouras”, diz Cecília.

6 – Prejuízos

A pesquisadora explica que a introdução de toxinas, por alterar o desenvolvimento da planta, reduz a produtividade e a qualidade da produção, mas o nível de dano na lavoura varia de acordo com a cultura. “Os danos são maiores para cultivos em que ela é vetora de vírus”, afirma Cecília. Segundo a pesquisadora, em plantações de tomate, a mosca branca pode comprometer gerar perdas superiores a 50%. No caso do algodão, a praga prejudica a comercialização da fibra, porque a substância adocicada que a mosca branca expele ao ingerir a seiva da planta altera a composição da fibra.

7 – Praga resistente

Um grande problema é que já foram reportados casos de resistência da praga a químicos, mas o método de combate à mosca branca se baseia quase que totalmente no uso desses produtos, já que a maioria dos agricultores brasileiros não realizam o MIP. “Estaremos sempre cada vez mais dependentes apenas de uma tática de controle, a química, e isso tornará a agricultura insustentável”, afirma Cecília. A pesquisadora conta que não há previsão para o desenvolvimento de novas tecnologias, o que atrapalha a redução da ocorrência da praga.

Um outro problema da mosca branca é a ocorrência da espécie Bemisia tabaci “biótipo Q”, que já foi encontrada na região Sudeste do Brasil. “Deve ser motivo de preocupação para todos, isso porque esse biótipo é resistente à maioria dos inseticidas hoje eficientes para o controle da mosca-branca e é vetor de outros vírus”, conta Cecília. O “biótipo Q” transmite o geminivírus e o Tomato Yellow Leaf Curl Virus (TYLCV), que é exótico no País. “Se introduzido no Brasil, pode causar danos severos à tomaticultura nacional”, diz.

8 – Ocorrência da praga

A dispersão da mosca branca acontece por meio do vento, mas também por implementos agrícolas ou produtos agrícolas que “carregam” os insetos entre diferentes lavoura. “O homem é seu principal dispersor, tanto é que ela chegou ao País pela importação de plantas ornamentais”, diz a pesquisadora.

Ela conta que no Centro-Oeste, por ser uma região de condições climáticas adequadas ao desenvolvimento da praga e por ter uma agricultura com cultivos hospedeiros de forma contínua, a incidência da mosca branca é alta. A região Sul também registra incidência da praga, mas não de forma tão expressiva. Atualmente, a incidência da mosca branca em lavouras de soja transgênica BT também está crescendo. “O problema é que temos cultivos hospedeiros o ano inteiro no País”, afirma Cecília.

*Carolina Barros é trainee, com supervisão de Darlene Santiago