Apesar de ter apoiado golpe, Mauro Borges cai em novembro

Data: 25/11/2014

Veículo: Diário da Manhã

Link da matéria: http://www.dm.com.br/texto/198497-apesar-de-ter-apoiado-golpe-mauro-borges-cai-em-novembro

 

 

Palácio das Esmeraldas, Goiânia, 26 de novembro de 1964. Então governador de Goiás, Mauro Borges é deposto. O coronel Meira Mattos assume a Casa Verde. Apesar de ter integrado a Cadeia da Legalidade, movimento nacional para garantir a posse do vice-presidente da República, João Belchior Goulart, liderado por Leonel Brizola, o filho de Pedro Ludovico Teixeira havia participado do golpe de Estado civil e militar de 31 de março daquele ano, que depôs Jango e implantou uma ditadura que durou exatos 21 anos [1964-1985]. É o que afirma com exclusividade ao jornal Diário da Manhã o historiador e presidente da Associação dos Anistiados de Goiás (Anigo), Marcantonio Dela Côrte.

 

 

– Mauro Borges tentou entrar para a história como vítima do golpe de 1964, mas ele apoiou os militares e queria permanecer no poder. 

 

 

A socióloga e professora da Universidade Federal de Goiás [UFG] Dalva Maria Borges diz em sua dissertação de mestrado "O ovo da serpente" que a linha dura do exército, os proprietários de terras e a velha UDN conspiraram contra a sua permanência no poder. Não havia identidade entre o programa e a história dos golpistas de 1964 com os herdeiros de Pedro Ludovico, daí a sua queda, insiste Dela Côrte. Aliados de Mauro Borges, como o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, e o senador Pedro Ludovico, seu pai, foram cassados. Oficial de gabinete de Mauro Borges, Hugo Brockes, antes mesmo da deposição do governador, já havia sido preso e torturado. Ele registrou as torturas em cartório.

 

 

O doutor em história e promotor de Justiça, Jales Guedes Coelho Mendonça, autor de "A invenção de Goiânia e o outro lado da Mudança", diz ao Diário da Manhã que há um elo entre a revolução de 1930, protagonizada por Getúlio Vargas, que suicidou-se em 24 de agosto de 1954, o afastamento do poder, operacionalizado por Pedro Ludovico, da oligarquia Caiado, e a derrubada de Mauro Borges, em 1964. O autor enfatiza que Mauro Borges jogou água benta na queda de Jango em 31 de março. Os dois já estavam rompidos politicamente. Mesmo assim, as forças golpistas em Goiás lhe derrubaram no dia 26 de novembro do mesmo ano, no Palácio das Esmeraldas.  

 

 

O assalto ao tiro de guerra, realizado em 14 de novembro de 1964, contribuiu para abreviar a permanência de Mauro Borges no poder, acredita Marcantonio Dela Côrte. Único participante da operação ainda vivo, Neso Natal conta que o ato teria sido organizado pelo Partido Comunista do Brasil, seção de Goiás. O capa-preta da organização era Ângelo Arroyo, que morreria, em dezembro de 1976, na chamada 'Chacina da Lapa'. Os revolucionários levaram 65 fuzis e farta munição. Mas logo, logo foram presos. O motorista da operação, Miguel Batista, os delatou. Além de Neso Natal, caíram Daniel Ângelo, Belarmino Vieira, José Mendes, Jaime José, assim como Miguel Batista.

 

 

Mauro Borges foi deposto 12 dias depois. Meira Mattos assume o poder. Logo depois, o marechal Emílio Ribas Júnior é nomeado interventor no Estado de Goiás. Com as eleições de 1965, Otávio Lage de Siqueira, derrota Peixoto da Silveira. Leonino Caiado sobe os degraus do Palácio das Esmeraldas em 1970. Ele constrói o Estádio Serra Dourada e o Autódromo Internacional de Goiânia. Em 1974, Irapuan Costa Jr, engenheiro ligado ao serviço de informações da ditadura civil e militar, é indicado governador biônico. Em 1978, Ary Ribeiro Valadão, que criou o Projeto Rio Formoso, é o último homem ungido pelos generais de plantão. Iris Rezende e Mauro Borges recuperam seus direitos políticos.

 

 

O que foi a ditadura civil e militar no Brasil

 

 

31 de março de 1964:fardados e civis derrubam o presidente João Goulart e implantam uma ditadura. À sombra da guerra fria, a estratégia era desagregar o bloco-histórico populista e levar os interesses multinacionais e associados à direção do Estado.

 

 

As tropas de Olímpio Mourão Filho desceram a serra sem um só tiro ou protesto. Jango teria voado com o general Assis Brasil à Fazenda Rancho Grande, em São Borja. Depois, com Maria Thereza e filhos, tomou um C-47 e aterrissou no exílio: Uruguai. 

 

 

O primeiro general-presidente a entrar em cena foi Castello Branco. Ele queria um ato institucional que durasse apenas três meses. "Assinou três". Queria que as cassações se limitassem a uma ou duas dezenas: cassou quinhentas pessoas e demitiu 2 mil. 

 

 

O seu governo durou 32 meses, 23 dos quais sob a vigência de 37 atos complementares. O general Castello Branco foi o cérebro do golpe de 1964.Ele era o líder da Sorbonne militar, composta, por exemplo, de Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva.

 

 

Para o brasilianista Thomas Skidmore, o movimento civil e militar de 1964 ocorreu com dez anos de atraso e nunca atingiu o seu objetivo: desmantelar a estrutura estatal e sindical corporativista montada por Getúlio Vargas, morto em 1954.

 

 

"O golpe seria dado em 1954, mas falhou por causa do suicídio de Vargas". Não foi uma quartelada, mas uma ação de classe traçada tática e estrategicamente pelas elites orgânicas do capital transnacional, analisa René Armand Dreiffus. 

 

 

 

 

    • Ipes, Ibad e ESG consideravam o Estado como instrumento de um novo arranjo político e de um "novo modelo de acumulação". 

 

 

 

 

História: as articulações contra João Goulart começaram antes de sua posse, em 1961. Mais: se intensificaram a partir do plebiscito que decretou a volta do presidencialismo, em janeiro de 1963, e tomaram as ruas após o anúncio das reformas de base. 

 

 

Sucessor de Castello Branco, Costa e Silva decreta o Ato Institucional nº5 em 13 de dezembro de 68.Vice, Pedro Aleixo foi impedido de assumir o Palácio do Planalto. Depois de um breve exercício da Junta Militar, Garrastazu Médici chegou ao poder.

 

 

Em 1977, Ernesto Geisel, que havia executado a partir de 1974 a distensão lenta, gradual e segura, baixa o Pacote de Abril. João Figueiredo é abençoado pela caserna no ano de 1978 e o Congresso Nacional aprova a Lei da Anistia, em 1979.

 

 

Os exilados retornaram ao Brasil e os presos políticos deixam os cárceres. A ditadura acabou em 15 de março de 1985. Já Daniel Aarão Reis diz que a ditadura acaba, de fato, em 1979. Para ele, de 1979 a 1988 há, no Brasil, um período de transição. 

 

 

A democracia no Brasil, depois dos anos de ditadura civil e militar, só se consolida e se institucionaliza, com a remoção do legado constitucional autoritário e a promulgação da Constituição de 5 de outubro de 1988, sob a Nova República. (Renato Dias)

 

 

A ditadura em números

 

 

64 Ano do golpe de Estado no Brasil.

 

 

15 Número de mortos e desaparecidos no Estado de Goiás.

 

 

479 Número de vítimas no Brasil pós-64.

 

 

2.000 Número de índios mortos na ditadura.

 

 

Dicas de Leitura

 

 

 

 

    • Brasil Nunca Mais - Org. Dom Paulo Evaristo Arns e reverendo Jaime Wright

 

 

 

 

 

 

    • A ditadura que mudou o Brasil - Daniel Aarão Reis Filho

 

 

 

 

 

 

    • Ditadura e democracia no Brasil - Daniel Aarão Reis Filho

 

 

 

 

 

 

    • Luta armada/ALN-Molipo As Quatro Mortes de Maria Augusta Thomaz - Renato Dias

 

 

 

 

 

 

    • História - Para Além do Jornal - Um Repórter exuma os esqueletos da ditadura civil e militar - Renato Dias

 

 

 

 

 

 

  • À sombra das ditaduras [Brasil e América Latina] - Janaína Cordeiro e outros