Uma pioneira da poesia

Data: 14 de dezembro de 2014

Fonte/Veículo: O Popular

 

14 de dezembro de 2014 (domingo)

 

Leodegária de Jesus, a autora do livro de poemasOrchideas, que inaugura a Coleção Cidade de Goiás, do Ateliê Tipográfico da UFG, nasceu em Caldas Novas em 8 de agosto de 1889 e morreu em 12 de julho de 1978, em Belo Horizonte (MG). Segundo informa a professora e crítica literária Darcy França Denófrio no prefácio da obra, Leodegária foi a primeira mulher a publicar livros de poemas em Goiânia. Antes de Orchideas, lançado em 1928, em São Paulo, ela publicou ainda Coroa de Lírios(1906), que escreveu com apenas 15 anos de idade e foi em editado em Campinas (SP), dois anos mais tarde.Orchideas é uma obra mais madura – a autora tinha então 39 anos e há muito já havia se mudado de Goiás. Ambas, no entanto, tratam do tema “amor” – a segunda, porém, é marcada, conforme Darcy, “por um indisfarçável saudosismo” de sua terra natal.

Filha do professor José Antônio de Jesus e de Ana Isolina Furtado Lima de Jesus, Leodegária estudou na cidade de Goiás, no Colégio Sant’Ana. Foi grande amiga de Cora Coralina e, ao lado de outras mulheres letradas da antiga Vila Boa, fundou em 1907 o semanário A Rosa.

Por conta da cegueira progressiva do pai, a família de Leodegária, em busca de tratamento para ele, se mudou para Araguari e depois para Uberlândia, em Minas Gerais, onde, em 1921, a escritora fundou e dirigiu o Colégio São José, para moças.

Quando o pai morreu, Leodegária mudou-se para Rio Claro (SP) e depois para Belo Horizonte (MG), onde permaneceu até o fim da vida. Ao longo da sua trajetória, contribuiu para vários veículos literários.
Em 2011, a Editora Cânone, também de Goiânia, editou a obra completa de Leodegária de Jesus, incluindo seus dois livros de poemas, além de algumas crônicas e outras poesias inéditas, que foram reunidos no volume Lavra de Goiases 3 – Leodegária de Jesus, organizado por Darcy França Denófrio.

Poema

Supremo Anhelo

Voltar a ti, ó terra estremecida,

E ver de novo, á doce luz da aurora,

O valle, a selva, a praia inesquecida,

Onde brincava pequenina outr’ora;

 

Ver uma vez ainda essa querida

Serra Dourada que minh’alma adora;

E o velho rio, o Cantagallo, a ermida,

Eis o que sonho unicamente agora.

 

Depois... morrer fitando o sol no poente,

Morrer ouvindo ao desmaiar fagueiro

De tarde estiva o sabiá dolente.

 

Um leito, emfim, bordado de boninas,

Onde dormisse o somno derradeiro,

Sob essas verdes, placidas collinas.

Do livro Orchideas, de Leodegária de Jesus