Gato por lebre

Data: 21/12/2014

Fonte/Veículo: Diário da Manhã

Link direto da notícia: http://www.dm.com.br/texto/201080

 

A ceia de Natal é o momento mais esperado do ano por várias pessoas, dia esse que reunimos os amigos, familiares e entes queridos, para celebrar o nascimento de Jesus Cristo. Na comemoração, o que sempre se espera é muita comunhão e fartura posta a mesa, mas infelizmente encontramos aproveitadores que fraudam alimentos. É por esse e outros motivos que devemos ficar atentos na hora de comprar e escolhermos os produtos para a ceia.

Alerta o médico veterinário

O médico veterinário Saulo Fernandes Mano de Carvalho, do Departamento de Polícia Federal e doutor em Ciência Animal EVZ/UFG, nos explica como é feita essas fraudes e pontual cais os alimentos mais frudados.

O Brasil apresenta-se como um dos principais países na produção mundial de alimentos. Este ano, fontes do Ministério da Agricultura (Mapa) apontam que o agronegócio é o responsável por 30% das exportações e 24% dos empregos. Em dez anos de demanda mundial de alimentos deve crescer em 20% e com o atual ritmo de crescimento, em 2050 nosso País pode ser responsável por 40% da produção mundial de alimentos.

O papel da Industria de Alimentos deve focar na qualidade dos processos e produtos com implantação e monitoramento  de programas visando assegurar a qualidade higiênico sanitária de seus produtos. Já o Estado, através de seus órgãos de regulação e fiscalização, deve avaliar a implantação e a execução dos programas de autocontrole para que os alimentos cheguem inócuos à saúde pública.

 

Infelizmente, devido ao baixo efetivo de servidores nos órgãos de regulação, algumas indústrias e pessoas fraudam alimentos para auferir mais lucros. Entre os produtos mais fraudados estão leite, pescado, carnes (bovinas, suínas e aves) e também o mel.

A fraude do leite ocorre quando adiciona-se água em sua composição, sofre subtração de qualquer um dos seus componentes, adiciona-se substâncias conservadoras ou de quaisquer elementos estranhos a sua composição for de um tipo, mas se apresentar rotulado como de outro, de categoria superior, estiver cru e for vendido como pasteurizado e for exposto ao consumo sem as devidas garantias de inviolabilidade. Já se foi o tempo em que apenas a água era acrescida ao leite. Hoje a fraude é mais sofisticada e os fraudadores acrescentam uma série de substâncias nocivas à saúde pública como:

Conservantes: formol, água oxigenada, hipoclorito de sódio, citrato de sódio.

Restauradores de densidade: ureia, maltodextrina, amido, cloretos, sacarose.

Restauradores de crioscopia: álcool etílico.

Aumento no volume: soro proveniente da produção de queijos.

No Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul teve casos de fraude no leite noticiados amplamente pela imprensa este ano. Os criminosos adicionavam água oxigenada e formol para “recondicionar” leites mal armazenados e em deterioração.

Da mesma forma que o leite, o pescado também é passível de adulteração. As mais comuns são a fraude econômica no pescado glaciado, a fraude por adição de tripolifosfato de sódio e a troca de espécies. O glaciamento, que é a camada de gelo que envolve o pescado congelado, é benéfico para proteger o pescado da rancificação de suas gorduras e da desidratação pelo frio. Porém, não é informado ao consumidor que glaciamento é o mesmo que embalagem, deste modo, a quantidade de gelo deve ser descontada do peso do pescado. Geralmente isto não acontece e pagamos por gelo a preço de pescado. No caso do tripolifosfato de sódio, quando é aplicado ao pescado, ele provoca grande retenção de líquidos, aumentando consideravelmente o volume e preço do produto. A troca por espécies faz com que o consumidor pague por um pescado mais nobre, mas leve para casa um  de valor inferior. Por exemplo: troca-se linguado por panga e polaca do Alasca por merluza. Após cortado em filés e glaciado, a diferença entre estas espécies é imperceptível.

Já nas carnes, as aves e embutidos (linguiças, mortadelas, presuntos, salsichas) são os que mais sofrem fraudes. Ocorre principalmente a injeção de água/salmoura acima do limite permitido, adição de conservantes em excesso, adição de gelo em embalados e introdução de carne mecanicamente separada (CMS) em produtos não permitidos, como as linguiças frescais. Nas carnes bovinas temos as fraudes da divergência dos cortes e acréscimo de cortes não declarados, muito comuns em picanhas. Recentemente houve casos de abusos com a aplicação de líquidos em carne bovina in natura. O peso aumentava em até 30% com a adição de líquidos. Esta fraude culminou na Operação Vaca Atolada da Polícia Federal, que prendeu várias pessoas em Belo Horizonte (2012) e Porto Alegre (2013).

No caso dos méis, sua adulteração é clássica e muitas vezes caseira. Os méis falsos e adulterados podem se passar por verdadeiros facilmente por possuírem características visuais muito homogêneas, e portanto, fáceis de imitar. Depois da adição de melado de cana, por exemplo, quando vistos nas prateleiras, é muito difícil dizer quais são puros e quais não são.

De tempos em tempos somos surpreendidos com fraudes em alimentos noticiados em veículos de comunicação, algumas resultam em operações envolvendo polícias, órgãos de fiscalização e o Ministério Público. Tais fraudes devem ser combatidas, porque além de causarem prejuízo econômico, podem trazer sérios riscos à saúde do consumidor. Sabendo de casos como estes, devemos comunicar os fatos à Agrodefesa, Ministério da Agricultura, Polícia Federal, Polícia Civil, Ministério Público ou Procon. Portanto, cuidado com os produtos adquiridos para a ceia de Natal e outras comemorações de fim de ano. Fique atento!

Dicas de uma nutricionista

A nutricionista Laís Ferreira, conversou com o DMRevista e deu dicas de como escolher o alimento certo para sua ceia de Natal ficar deliciosa e nenhum dos convidados ter algum tipo de má digestão.

DMRevista – Quais cuidados as pessoas devem tomar na hora de comprar os produtos para a ceia de Natal?

Nutricionista – Na hora da compra dos alimentos para a ceia de Natal, primeiramente deve-se verificar se estão dentro do prazo de validade, mas também é necessário ficar atento a determinadas características que indicam a qualidade do produto, tais como:

u Os produtos congelados devem estar em temperatura e balcões adequados, de acordo com as recomendações do fabricante. Devem estar firmes e sem sinais de descongelamento, não apresentando acúmulo de líquido dentro e fora da embalagem;

u Procure comprar carnes, peixes, ovos, leite e derivados de origem conhecida. Eles devem estar embalados e ter o número do registro do serviço de inspeção federal (SIF);

u As castanhas e frutas secas têm que estar armazenadas de forma adequada, garantindo que permaneçam crocantes e sem umidade. É sempre importante estar atento ao prazo de validade destes produtos também.

 

Não compre

produtos com:

u Latas estufadas, amassadas ou com pontos de ferrugem;

u Vidros com a tampa amassada ou enferrujada;

u Vidros com líquido turvo, espuma ou presença de depósitos estranhos não característicos do produto;

u Embalagens a vácuo que apresentem bolhas de ar ou líquido;

u Embalagens UHT (longa vida) estufadas, amassadas, com a aba solta, tampa aberta ou lacre violado;

u Produtos com rótulo danificado ou pouco legível.

DMRevista – Algumas indústrias e pessoas fraudam alimentos para auferir mais lucros. Entre os produtos mais fraudados estão leite, pescado, carnes (bovinas, suínas e aves) e também o mel.

O que pode acontecer com pessoas que ingeriram esses tipos de alimentos?

Nutricionista – Pode ocorrer quadros de diarreia, dores abdominais, vômitos, febre, mal-estar e em casos extremos podem causar até a morte.

DMRevista – A fraude do leite ocorre quando adiciona-se água em sua composição entre outras substâncias. O que pode acontecer com o prato feito e com o indivíduo?

Nutricionista – Algumas das substâncias adicionadas ao leite adulterado, destacam-se a uréia e o formol. O uso contínuo desse leite pode provocar a longo prazo danos ao sistema digestivo e até mesmo o câncer.

DMRevista – As carnes, as aves e embutidos (linguiças, mortadelas, presuntos, salsichas) são os que mais sofrem fraudes. Ocorre principalmente a injeção de água/salmoura acima do limite permitido. Qual o principal prejuízo que se pode ter ao ingerir um alimento assim?

Nutricionista – O consumo elevado desses alimentos está relacionado ao aumento da incidência de doenças cardiovasculares, hipertensão arterial dentre outras.