Moradores querem transformar o Parque Anhanguera

Data: 12 de janeiro de 2015

Veículo: Diário da Manhã

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Abandonados pelo poder público, moradores de grandes centros urbanos têm se preocupado cada vez mais em ocupar espaços públicos e assumir a defesa dos locais

Deivid Souza,Da editoria de Cidades

 

Recentemente tem surgido no País exemplos de pessoas que cansaram de esperar pelo poder público e resolveram assumir os cuidados com muitos espaços públicos. Especialistas explicam que esta é uma tendência no Brasil.

Em um dos casos, um grupo de moradores de Pedro Afonso, município distante 215 km de Palmas, na região oriental do Estado do Tocantins, transformaram um lixão a céu aberto em uma bela praça. O espaço com muitas flores e decoração feita de materiais recicláveis como garrafas pets e pneus levou quatro anos até ficar pronto.

Em Goiânia, um grupo de moradores do Parque Anhanguera, Região Sudoeste da Capital, liderados pela artista plástica Graça Estrela, têm trabalhado para mudar a própria realidade e a consciência dos vizinhos. Eles chamam a iniciativa de Projeto Parque Anhanguera Limpo. Por mais de dez anos eles conviveram com um depósito de lixo e entulho na esquina das ruas Getúlio Vargas e Tiradentes. Muitas foram as vezes em que eles limpavam o lugar, mas o lixo insistia em voltar. Isso aconteceu até que eles se uniram e depois de tirar uma caçamba de lixo e entulho plantaram grama e mudas de ipês. A área que recebeu as melhorias mede aproximadamente 150 m².

A aposentada, Maria Amélia Muniz, 76 anos, que reside no cruzamento se incomodava bastante com os dejetos em frente à sua casa. Foram anos até que, com o apoio de Estrela e outros vizinhos, eles transformassem a realidade.

Primeiro, os moradores alugaram uma caçamba e retiraram os entulhos e o lixo acumulado. Depois eles limparam a área e prepararam o espaço para o plantio de grama e mudas de ipês, tudo adquirido com recursos próprios.

Graça Estrela resolveu mobilizar os vizinhos da casa de sua filha porque comparava aquele espaço com as ruas que visitou na Europa e Estados Unidos durante apresentações de seus trabalhos. “Eu acho que cada um tem que fazer a sua parte e não adianta a gente ficar criticando. Se você ver o lixo você tem que conscientizar as pessoas para ajudar a manter limpo, porque assim a gente pode ter qualidade de vida”, explica.

Para Maria Amélia, que agora vigia o espaço para que ninguém jogue lixo, a ação foi um presente de Natal. “Foi Deus que mandou dona Graça, achei que era uma brincadeira quando ela falou. Ela falou outro dia ‘dona Maria a gente vai plantar grama aqui, vamos tirar esse entulho’”, relata.

MUDANÇA

A professora de Planejamento Urbano da Universidade Federal de Goiás (UFG), Erika Kneib, considera que iniciativas como esta fazem parte de uma tendência. Segundo ela, moradores de grandes centros urbanos têm se preocupado com os espaços públicos e buscado assumir a propriedade dos locais. “A infraestrutura nos grandes centros urbanos precisa de melhorias. É muito bom que a sociedade exerça seu papel social no sentido de manter essa tendência”, avalia.

Para Kneib, existe uma carência muito grande por espaços públicos de convivência devido ao crescimento das metrópoles e iniciativas do gênero podem minimizar este problema e fortalecer o senso de propriedade, tanto para cobrar dos agentes públicos sua responsabilidade, quanto para que a população cuide. “O espaço público, para muitas pessoas, é o espaço de ninguém. O coletivo precisa de locais para usufruir”, ressalta.

SAIBA MAIS

Quem quiser participar pode entrar em contato com a artista plástica, Graça Estrela no telefone 9972 9308 ou pelo 

e-mail: arara@gracaestrela.com.br