Zuhair Mohamad
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Áreas verdes do Câmpus Samambaia, na Região Noroeste, são as preferidas pelos traficantes para vender drogas

 

Nas mesas do pátio da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), na tarde de ontem, alguns rapazes consumiam maconha livremente. O vigilante passa, olha e vai embora. O pátio da FIC é apontado como um dos pontos de tráfico de droga dentro da UFG, segundo pessoas ouvidas pelo POPULAR. O estacionamento da faculdade e o bosque que fica atrás do prédio também são locais de venda de droga, assim como a mata fechada que fica próxima à Faculdade de Educação Física, de acordo com um vigilante que pediu para não ser identificado.

No câmpus Samambaia, onde está a FIC, na região noroeste de Goiânia, ninguém desconhece os locais onde o consumo e o tráfico de droga ocorrem livremente; sabem inclusive quem vende. Uma das servidoras da universidade, que também não quer ser identificada, fornece o endereço da página do Facebook de um dos traficantes, na qual ele expõe diversas fotos no pátio da FIC. Em 23 de dezembro último, ele postou uma foto com dinheiro, arma, munição e aparelhos celulares.

A servidora conta que, na semana passada, traficantes e ladrões de carros se enfrentaram no estacionamento da FIC. Segundo ela, dois ladrões tinham deixado um carro roubado no local para “esfriar”, ver se era rastreado, e os traficantes que operam no lugar tentaram expulsar os ladrões do local. Segundo ela, houve tiroteio.

A universidade nega o tiroteio. De acordo o diretor do Centro de Gestão do Espaço Físico (Cegef) da UFG, Marco Antônio Oliveira, durante a ronda, os vigilantes perceberam um homem armado junto com um menor de idade. Assim que se aproximaram, o homem fugiu pela mata e o menor e outras três pessoas, uma adolescente e outros dois adultos, foram detidos e encaminhados à Polícia Federal (PF). Na versão de um vigilante, o homem armado ameaçou os colegas com a arma antes de fugir. Por ter menores envolvidos, a PF encaminhou todo o grupo para a Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais (Depai). Segundo o vigilante, o menor apreendido é o mesmo que foi morto na noite de domingo (25), no Jardim Bom Jesus, em Goiânia.

A venda de droga se tornou tão natural dentro da universidade que os traficantes estão disputando os pontos de venda, conta o vigilante. No Espaço das Profissões, evento promovido pela UFG em abril do ano passado, as quadrilhas se enfrentaram pelas chamadas “bocas de fumo”. Segundo outro vigilante, responsável pela ronda, como a polícia não pode entrar no campus, os traficantes dos setores próximos, Itatiaia e São Judas Tadeu, usam os bosques e os estacionamentos da universidade como “boca de fumo”. “O comercio se dá tanto de dia como de noite”, conta.

Mas é de noite que a situação fica mais crítica, conta uma aluna do curso de Jornalismo. Segundo ela, a escuridão do campus favorece a criminalidade. “Não há iluminação suficiente no campus e isso propicia o tráfico de drogas e outros crimes.” Tanto a aluna como o vigilante reclamam a condição patrimonial da vigilância. “Dá até vontade de fazer alguma coisa, mas não temos poder de polícia”, afirma o vigilante.

O diretor do Cegef, responsável pela segurança no campus, diz que a vigilância é patrimonial, mas acrescenta que o maior patrimônio da UFG são as pessoas. “Os vigilantes são responsáveis, sobretudo, pela integridade das pessoas”, afirma. Os vigilantes, quando se deparam com alguma situação que demanda de detenção, eles acionam a polícia, conta.

Oliveira diz que os trechos que devem ser usados para trafegar no campus, as passarelas, são iluminados e que a área é monitorada por Câmeras, o que reduziu as ocorrências de roubos e furtos. Em novembro do ano passado, O POPULAR mostrou que, com a instalação das câmeras, os crimes haviam migrado e os crimes para os arredores do campus.

Quanto ao consumo de drogas dentro do campus, Oliveira afirma que isso ocorre na universidade da mesma forma que ocorre em qualquer lugar da cidade.

Em novembro, O POPULAR mostrou que a instalação de câmeras de segurança no local fez com que houvesse uma redução nas ocorrências dentro dos prédios, mas que também as polícias civil e militar que atuam nos arredores do câmpus Samambaia apontam uma subnotificação dos crimes por parte das vítimas.