Resultado nem sempre confiável

Data: 17 de fevereiro de 2015

Fonte/Veículo: O Popular

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17/02/2015 05:00

Janda Nayara

Emagrecer é um desejo da maioria das pessoas, mas para conseguir o corpo almejado é preciso unir reeducação alimentar e atividades físicas. A fórmula pode parecer simples, mas essas atitudes nem sempre trazem resultados satisfatórios para pessoas obesas ou com sobrepeso, o que tem contribuído para aumentar a procura por alternativas intervencionistas, como o uso do balão intragástrico, que assim como as técnicas cirúrgicas que reduzem a capacidade do estômago, também provoca esse efeito e induz a pessoa a um menor consumo de alimentos.

O balão é inserido vazio no estômago do paciente através de endoscopia, em ambiente hospitalar ou clínico, sob sedação. Em seguida, ele é preenchido com soro. O procedimento que tem duração média de 20 minutos não tem cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS) e nem dos planos de saúde, mas a demanda cresce vertiginosamente, segundo os médicos consultados pelo POPULAR.

Os profissionais entrevistados atribuem o “boom” do balão intragástrico a três fatores principais : proibição de inibidores de apetite pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aumento do índice de obesidade no País e a extensão da permissão do procedimento para pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) a partir de 27, ou seja, sobrepeso. Antes, o procedimento era indicado apenas para pessoas com IMC acima de 30 - o cálculo do IMC é feito dividindo o peso (quilos) pelo quadrado da altura (metros).

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica capítulo Goiás, Leonardo Sebba, diz que o balão já tinha perdido espaço no mercado quando as decisões da Anvisa a cerca do uso de anorexígenos e liberação do procedimento para pessoas com sobrepeso impulsionaram novamente o mercado. “As empresas cresceram o olho nesse novo público, mas a propagação desses fabricantes e até mesmo o acompanhamento inadequado durante o uso do produto, sem o acompanhamento multidisciplinar, fez com que os resultados não fossem satisfatórios”.

O médico Francisco Albino Rebouças Júnior, cirurgião do aparelho digestivo e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), ressalta que cada procedimento tem seu público e que o balão intragástrico hoje tem outro perfil. “Inicialmente indicado para superobesos que passariam por cirurgia no futuro, hoje ele pegou o grande mercado de pacientes que não tem indicação de cirurgia ou daqueles que não querem operar”.

As mulheres são as que mais lotam os consultórios em busca de métodos redutores de peso, e de acordo com Sebba, isso é consequência da pressão estética a qual são submetidas pela sociedade.

Resultados

Sebba alerta que com o balão intragástrico a perda de peso fica em torno de 10% a 15%, e, por ser reversível, os casos de pessoas que recobram os quilos são recorrentes. Ele também destaca que o procedimento oferece riscos. “São raros, mas existem. Pode romper o estômago, obstruir o intestino, dilacerar o esôfago etc. Eu vejo com muito cuidado, as indicações deveriam ser selecionadas para ter resultado considerável, mas hoje muitas pessoas não buscam uma indicação de tratamento que se encaixe ao seu perfil, elas já chegam nos consultórios com a ideia pronta”. O custo também não é nada barato, acrescenta o cirurgião. “Com todo os gastos fica entre R$ 7 e 12 mil”.

Para Rebouças Júnior o balão serve como impulso para sair do ciclo vicioso da obesidade. “O resultado a longo prazo não é bom, já que a maioria dos pacientes recuperam o peso quando retiram o balão. Por isso, ele deve ser aproveitado como estímulo para se exercitar, mudar os hábitos, com acompanhamento multidisciplinar de nutricionistas , psicólogos e preparador físico”.

A estudante Lídia Lima, de 30 anos, foi uma destes pacientes que recuperaram o peso após a retirada do balão. Mesmo com acompanhamento de uma nutricionista e fazendo atividade física, ela não conseguiu ter sucesso com o procedimento. Pesava 100 quilos quando implantou a tecnologia e só perdeu três quilos durante os seis meses de uso. “Parece que me acostumei com o balão. Só não sentia fome nos primeiros dias, depois foi tudo igual, exceto pelo desconforto dos gases”.

Quando retirou o balão intragástrico, Lídia não só recuperou os 3 kg perdidos, como engordou mais 20 kg. Em dezembro, ela passou por uma cirurgia bariátrica. “Já perdi 18kg e estou muito feliz, me sentindo mais bonita e com vontade de manter essa perda. Estou me alimentando bem melhor e acho que agora vai dar certo”, conta.