Analista vê fato como novidade
Data: 16 de março de 2015
Fonte: O Popular
Link da matéria: http://www.opopular.com.br/editorias/politica/analista-v%C3%AA-fato-como-novidade-1.804760
Caio Henrique Salgado
Ao analisar as manifestações contra o governo federal, realizadas ontem em todos os Estados brasileiros, cientistas políticos ouvidos pelo POPULAR apontam para uma novidade na história recente do Brasil: a grande adesão a um movimento identificado com pautas conservadoras de centro-direita. Para eles, o contexto carece de estudos mais aprofundados para ser melhor compreendido.
O cientista político Francisco Tavares, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), afirma que, historicamente, as mobilizações que tomavam as ruas tinham uma relação direta com pautas de centro-esquerda.
“A pauta de economia liberalizante, de defesa da família e contra o comunismo é uma novidade. Isso vai demandar um acúmulo de dados para entendermos melhor o que está acontecendo no País. Se analisarmos os movimentos das Diretas Já e o Fora Collor, vemos que eles eram identificados com a esquerda política. É algo extremamente diferente na história política brasileira”, afirma Francisco.
Pauta definida
Também professor da UFG, o cientista político Pedro Célio faz análise semelhante e aponta para a necessidade de estudos aprofundados. “Pela primeira vez a direita consegue a simpatia das ruas”, sustenta. No entanto, ele analisa que os movimentos refletem a situação do País e apresentam, diferentemente dos protestos de 2013, uma pauta definida.
“O objetivo hoje é de cunho partidário. Essas manifestações, muito bem organizadas, fazem questão de se afirmar contra o governo (federal), contra o PT. Isso é evidente”, diz Pedro Célio.
Francisco Tavares avalia que a presença de uma pauta bem definida é um dos reflexos da “decomposição” das manifestações de 2013, marcadas pela junção de várias pautas de divergentes. Segundo ele, os movimentos ali presentes agora seguem separadamente.
“Ali você tinha o “Fora Dilma”, ligado a um grupo mais conservador, a extrema esquerda, o centro, todo mundo misturado (...) Eu diria que agora, há um rescaldo. O movimento pelo passe livre continua, a esquerda governista também continua nas ruas levando um certo número (de pessoas) e a direita também”, avalia.
Pedro Célio resume sua análise dizendo que “a bola” agora está com a presidente Dilma Rousseff (PT). “Qual resposta vai dar para isso tudo? É uma questão de gestão e ela certamente precisa fazer alguma coisa.”
Zuhair Mohamad
“O que leva um governo a se desestabilizar não é a existência de corrupção, mas a força política (...) O impeachment é uma possibilidade remota, mas não impossível.” Francisco Tavares, cientista político
“Não há crise institucional e sim uma crise de popularidade. A estratégia da oposição é a de sangrar o governo, que deveria reagir a reforma política e garantia das conquistas sociais.” Pedro Célio,cientista político