Olhar amoroso

Data: 16 de março de 2015

Fonte: O Popular

Link da matérias: http://www.opopular.com.br/editorias/magazine/spot-1.145070/olhar-amoroso-1.803760

 

Mantovani Fernandes

Olhar amoroso

 

A catarata, doença cada vez mais comum, também acomete os bichos. Com maior incidência entre os cães, ela pode ser curada pelo mesmo procedimento utilizado no ser humano, o cirúrgico. Embora não muito praticada em Goiânia, principalmente em razão do alto custo, em torno de R$ 3 mil, a cirurgia é simples e recupera a visão. A veterinária Ana Carolina Almeida de Góes, 29 anos, formada pela UFG e mestre pela USP, diz que há quem não meça esforços, procurando recursos até em outras cidades.

 

A catarata é comum em cachorros?

É bem comum. A catarata é hereditária na maioria das vezes. Claro que há outras causas. As raças mais predispostas a ter a doença são poodle, cocker spaniel e lhasa apso. Ela se manifesta geralmente a partir de 2 a 4 anos de idade.

 

Como se manifesta?

Ela se manifesta no cão ainda jovem. A perda da visão ou a dificuldade visual pode ser progressiva na catarata que se desenvolve lentamente, isso é o mais frequente. E há casos de diabético que perde a visão de um dia para outro.

 

Quais os sintomas?

O mais importante é a dificuldade visual. O animal começa a esbarrar em objetos. Em alguns casos os olhos ficam vermelhos, lacrimejando. A pupila fica branca. Geralmente é bilateral, mas os olhos apresentam estágios diferentes de evolução.

 

E as consequências?

A perda visual. Mas felizmente é uma cegueira reversível. O tratamento é estritamente cirúrgico. Quanto mais precoce o diagnóstico e a cirurgia, maiores as chances de recuperação visual.

A cirurgia é diferente da realizada em humanos?

A técnica é igual, muda alguma coisa por causa das diferenças anatômicas. É simples no aspecto geral, mas é minuciosa tecnicamente.

 

Por que o custo é alto?

É um custo relativamente alto. Toda a aparelhagem é de alto custo, os mesmos equipamentos usados em humanos.

 

O tratamento é apenas cirúrgico?

A cirurgia retira a catarata. Operado, o olho fica sem a lente natural. Implantar uma lente nova aumenta o custo. Sem essa lente, o cão volta a enxergar, embora com qualidade ruim. Na cirurgia em humanos, todos recebem essa lente intraocular. Nos Estados Unidos e na Alemanha não se faz a cirurgia no cão sem implantar a lente. No Brasil há variação no procedimento. Só não colocamos nos cães por questão de custo ou quando é uma catarata muito complicada.

 

E se não tratar?

O cão fica cego. A catarata também pode causar inflamação nos olhos (uveíte), glaucoma secundário, descolamento de retina. Se chegar a esse ponto, a catarata fica inoperável. E há aumento de pressão, que causa muita dor. E a rotina é bem variada. Há casos de alterações de superfície ocular como olhos secos, úlcera de córnea, perfuração, alterações de pálpebra, glaucoma, descolamento de retina. Cada raça tem seus problemas.

 

O tratamento é uma forma de amor aos bichos?

É nítida a preocupação dos donos com seus cachorrinhos. Já tive paciente com catarata e seus donos a levaram para São Paulo para ser operada. Só mais recentemente a técnica foi popularizada. Antes o veterinário generalista cuidava de tudo. Hoje já tem especialistas como oftalmo, nefro, endócrino, cardio, ortopedista, ultrassonografista.

 

O que pensa das críticas do tipo “troque seu cachorro por uma criança pobre”?

Diariamente vejo em redes sociais as pessoas falando isso. Não tem nada a ver. Você não pode fazer conta do dinheiro dos outros. A pessoa gasta o que ela quiser.

 

Há atendimentos gratuitos?

A gente ajuda na medida do possível. Fazemos trabalhos sociais. Mas é difícil atender muitos casos de cota social. Toda empresa tem que ter responsabilidade social.