Para especialistas, atos têm caráter democrático

Data: 15 de março de 2015

Fonte: O Popular

Link da matéria:http://www.opopular.com.br/editorias/politica/para-especialistas-atos-t%C3%AAm-car%C3%A1ter-democr%C3%A1tico-1.804144

 

Às pessoas que vão às ruas da capital hoje, e aos que não vão, sobram argumentos para justificar sua postura, num debate que tomou conta do País na última semana e tem exposto o quanto a sociedade está dividida entre o apoio e a rejeição ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

O POPULAR ouviu especialistas com visões distintas da realidade brasileira contemporânea para investigar o que há por trás da decisão sobre qual lugar o cidadão quer ocupar ou que lugar deseja que o Brasil ocupe (leia entrevistas abaixo).

Para o mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de Goiás (UFG) José Antônio Soares Cavalcante, professor do Ipog e da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), em Goiânia ou em qualquer outra capital brasileira há espaço para todos sentirem insatisfação com respeito ao governo federal por causa do efeito de decisões que “não estão poupando ninguém”, conforme acredita.

“Todos estamos sendo vítimas de uma lesão que nos foi imposta nas últimas eleições. E quando o poder que venceu chegou lá, tomou decisões contrárias a todas as expectativas. Então eu não vejo nenhum tipo de estranheza nas manifestações”, enxerga o professor, autor do livro Ciência Política – Enfoque Teórico.

Na avaliação de Leonardo Barreto, doutor em Ciências Políticas pela UnB, o Brasil está passando por um momento difícil, com dúvidas sobre a competência e a capacidade da presidente Dilma Rousseff (PT) para gerir o País. “Então você tem elementos para a realização desses protestos”, afirma.

 

Autoritarismo

O autoritarismo é questão para a filósofa Marcia Tiburi, doutora pela UFRGS, ex-integrante do programa Saia Justa (GNT) e autora de livros como Filosofia Prática (Record, 2014). “Quando o autoritarismo ou as personalidades autoritárias se manifestam, creio que temos chance de questionar o sentido da democracia”, comenta a feminista, que neste mês é capa da Revista Cult, onde fala de seu projeto de criar um partido político. Ela aponta, dentre os motivos que trazem alguns às manifestações de hoje, o desejo de intervenção militar. “A pergunta que temos que nos fazer é: quem se manifesta contra a democracia se manifesta democraticamente?”.

José Antônio Soares diz que o PT, no poder desde a era Lula (2003 – 2010), tem que aprender a suportar manifestações da oposição. “Quem concorda com o discurso oposicionista atende o chamado, quem não concorda, não atende”, resume. Mas aos olhos de Leonardo Barreto, o PT suporta. “É um governo que até agora não proibiu ninguém de falar”, diz.

Preservadas as distâncias de pensamento, o professor goiano, o cientista político de Brasília e a filósofa gaúcha entram em acordo quanto à democracia impressa no gesto de protestar. “Certamente há algo de democrático em toda manifestação”, sintetiza Marcia Tiburi.