José J. Veiga na Companhia das Letras

Data: 19 de março de 2015

Fonte/Veículo: O Popular

Link direto para a notícia: http://www.opopular.com.br/editorias/magazine/jos%C3%A9-j-veiga-na-companhia-das-letras-1.806732 

19/03/2015 05:00

Rogério Santana

Gabriel Martins, detentor dos direitos autorais da obra literária de José J. Veiga, transferiu recentemente o direito de publicação para a editora Companhia das Letras, que, para o momento do centenário do autor, publicou os títulos Os Cavalinhos de Platiplanto e A Hora dos ruminantes. Para que as edições ganhassem mais relevância, considerando que o projeto gráfico é de encantar leitores, sobretudo os que ainda mantêm devoção ao livro impresso, a editora tem convidado críticos literários a apresentar leitura específica para determinada obra do autor de Corumbá de Goiás.

Para as duas já divulgadas, coube a Silviano Santiago prefaciar os contos de Os Cavalinhos de Platiplanto com o prefácio A realização do desejo. Numa formulação quase de síntese, o crítico postula que “a arquitetura dramática dos contos de Veiga se arma a partir da vizinhança de grupos divergentes, sendo que um deles, o mais fraco, acaba por sofrer reprimendas terríveis como consequência da busca por autonomia e liberdade de ação”. Notável observação, uma vez que a polarização nos contos do primeiro livro de Veiga domina a ordem de organização da convivência, fazendo ressaltar a força que subjuga os menos preparados para o enfrentamento no cotidiano do desejo.

Não menos instigante é o prefácio de Antonio Arnoni Prado para o romance dos A Hora dos ruminantes. Numa abordagem sucinta, mas peculiar, o crítico revela que é na operação narrativa em que a rotina é posta de cabeça para baixo em Manarairema, “que o livro desvenda toda a extensão de uma realidade social e humana que escapa aos enquadramentos meramente retóricos de um recorte de época em que predominou a voga da chamada literatura fantástica”. Sem que esteja literalmente denominado, a realidade social e humana está delimitada na maior parte da obra de Veiga no ambiente rural ou semiurbano. É justamente esse espaço tão caro aos habitantes da região central do Brasil que nos permite, entre outros fatores, uma sintonia com a obra do autor de Objetos Turbulentos.

Rogério Santana é professor da Faculdade de Letras da UFG e curador do seminário José J. Veiga – 100 Anos, promovido pela instituição e pelo Sesc e que termina hoje no Teatro do Sesc (Rua 15, Centro)