Insegurança atinge 45% de goianos

Jornal O Popular – 16/10/2010

Insegurança atinge 45% de goianos

Pesquisa mostra que 7,7% dos goianos sofreram tentativa de roubo e 60% têm dispositivo de segurança

A insegurança faz parte da realidade de quase metade da população: 47,2% dos brasileiros e 45,2% dos goianos não se sentem seguros nos locais onde vivem, embora nem todos os que se dizem vulneráveis tenham passado por algum episódio recente de violência. É o que revela um suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado ontem. Os dados referem-se a 2009.

Goiás aparece no levantamento como o segundo Estado brasileiro onde os entrevistados mais relataram ter sido vítimas de tentativa de furto ou roubo no último ano: 7,7% dos entrevistados revelaram ter passado por essa situação. O índice nacional foi de 5,4%. O porcentual de pessoas que foram vítimas de roubo ou furto no ano anterior à realização da pesquisa também é maior em Goiás, onde 9% afirmaram ter sofrido esse tipo de violência, contra 7,3% dos brasileiros (veja quadro).

Essa situação de insegurança cotidiana levou a população a apelar para recursos que aumentem a sensação de proteção, também quantificados pelo recorte da Pnad. Mais de 60% dos goianos contam com um ou mais dispositivos de segurança em casa. Os mais comuns são grades nas portas e janelas, cerca eletrificada, fechaduras extras, barras, olhos mágicos e interfones.

Depois de sofrer um assalto e ser feita refém junto com o marido, o filho e três sobrinhos, a professora Karla Teixeira da Silva conta que só a instalação de dispositivos de segurança a convenceu a não se mudar de sua casa, no Setor Alto do Vale, em Goiânia. O roubo aconteceu em 2005 e Karla conta que ficou apavorada. "Quando começava a escurecer, eu entrava em pânico. Disse a meu marido que só continuaríamos aqui se reforçássemos a segurança", conta. Hoje, a casa tem cerca elétrica, alarme e circuito de câmera.

Medo
O avanço da criminalidade faz com que aumente também a sensação de insegurança da população, avalia o sociólogo Nildo Viana, da Universidade Federal de Goiás (UFG). "Uma vez que a pessoa foi vítima de violência, o nível de insegurança tende a aumentar", constata. "A convivência com pessoas que foram vítimas também afeta mesmo que não sofreu diretamente a ação", acrescenta.


Nildo pondera que houve um aumento real da violência em todo o País a partir da década de 80. Ele também aponta um papel fundamental dos meios de comunicação nesse cenário, especialmente devido a programas que têm como foco a violência e a criminalidade. "Eles fazem com que as pessoas se sintam mais inseguras, porque dão a aparência de que a criminalidade é generalizada. Quem assiste a esses programas muitas vezes tem uma visão ingênua", afirma.

O sociólogo Cleito Pereira, também da UFG, aponta dois fatores determinantes para essa realidade dimensionada pela pesquisa do IBGE: o aumento da criminalidade e da indústria do medo. "A insegurança e o medo estão muito relacionados com a gigantesca exclusão social que coloca uma parcela significativa, principalmente de jovens, na criminalidade", afirma. "Junto a isso, temos os vendedores de segurança e a sociedade vivendo cada vez mais confinada em verdadeiras fortalezas."

Além da "guetização", Cleito alerta para um dado já apontado por várias pesquisas, inclusive do próprio IBGE: a maioria dos autores é de jovens, com idade entre 15 e 24 anos. "A exclusão desses jovens tem de ser levada em conta. Eles estão fora da escola, do mercado de trabalho e dos mecanismos sociais básicos", diz o sociólogo.

Nildo observa que nem todos os tipos de violência são notificados e cita como exemplo a violência doméstica e sexual, principalmente entre pessoas de classes mais altas. Ele também chama a atenção para outro dado da pesquisa: nem todos procuram a polícia. Entre as vítimas de roubo, apenas 48,4% da amostra nacional procuraram a polícia para denunciar.

Em Goiás, esse porcentual aumenta para 56%. Questionados, 36% dos brasileiros e 30,1% dos goianos afirmaram que não comunicaram porque não acreditam na polícia. "Eles têm medo porque muitas vezes o policial é também agente da violência", resume Nildo.