Sempre cabe mais um no Goiânia Noise Goiasnet

18/11/2010

Rogério Borges - O Popular

“O Goiânia Noise vem fazendo isso há alguns anos. Ele deixou de ser um festival só de punk, heavy metal ou rock de garagem. Com os nossos parceiros, temos um guarda-chuva de estilos muito mais amplo hoje.” Quem diz é Fabrício Nobre, sócio do selo Monstro Discos e um dos idealizadores do maior festival de música alternativa de Goiás e um dos mais importantes do País.

Ele faz essa afirmação com a autoridade de quem participou ativamente de toda a concepção do evento, de seu amadurecimento e de seu crescimento a ponto de se tornar uma referência nacional na área e que, em sua 16ª edição, está mais plural do que nunca.

Apesar de o festival estar começando oficialmente nesta sexta-feira (19), sua programação vem agitando a cidade desde o último final de semana, resultado de parcerias e a realização de eventos em conjunto. Esse formato trouxe ao Noise, além de atrações ligadas ao perfil mais conhecido do festival, artistas que pouca gente poderia sonhar que estariam nesse grande encontro de música alternativa.

Na terça-feira, por exemplo, Leila Pinheiro, um dos grandes nomes da MPB, tocou no Câmpus 2 da UFG, ao lado da Banda Pequi. No mesmo local haverá o show de encerramento, no domingo, com ninguém menos que Gilberto Gil, muito bem acompanhado da banda mato-grossense Macaco Bong.

Pluralidade

Em outras palavras, todo mundo quer tocar no Goiânia Noise. O festival se tornou palco nobre do rock alternativo brasileiro, local privilegiado de contato com bandas do exterior e onde se pode receber influências de ritmos afins. Trata-se, hoje, de uma possibilidade para as bandas de aprender com os colegas de profissão e ter contato com um público exigente e antenado, que conhece bem o que está sendo apresentado, que tem sede por novidades. Ao mesmo tempo em que reforça sua vocação para a diversidade, o evento tem conseguido manter sua identidade. Este ano, por exemplo, estão em Goiânia bandas representativas de estilos como heavy metal e punk.

Mesmo montando uma programação das mais ecléticas da história do festival, os organizadores continuaram a dar amplo espaço para as bandas goianas. A maratona de shows vai até domingo, com as atrações roqueiras se concentrando hoje e amanhã nos palcos dos teatros Yguá e Pyguá, do Centro Cultural Martim Cererê, e no espaço Ambiente Skate Shop, no Setor Bueno, perto do Parque Vaca Brava.

São nada menos que 33 atrações. Boa parte delas é formada por bandas de Goiás. Também há convidados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Brasília e Espírito Santo, além de músicos dos Estados Unidos, Reino Unido e Argentina.

Lendas

“O Goiânia Noise é reconhecido hoje nacional e internacionalmente. O nome do evento está circulando em feiras e as bandas que tocam aqui também estão andando por aí”, comemora Fabrício Nobre. O que explica, por exemplo, que o festival consiga reunir num mesmo palco artistas de tendências diferentes, indo do pernambucano Otto aos gaúchos do Krisium, dos paulistas do Cólera aos hermanos da Cuadros Invitados. Certamente muita gente de fora do Estado virá a Goiânia para ver atrações como a cantora Nina Becker, a veterana banda gaúcha Walverdes e Viv Albertine, lenda viva do punk rock inglês.

“Já mostramos para o Brasil que temos um cenário forte de música alternativa e público qualificado para curtir esse som”, alega Nobre. Segundo ele, o Noise e os artistas a ele ligados são respeitados por publicações especializadas. “Antes, você enviava um CD e o cara lá de São Paulo, do Rio, nem olhava direito. Agora não. Já há demanda por esses produtos. A gente sabe que o camarada que recebe um disco de rock alternativo feito aqui vai colocá-lo no topo da lista para análise. Os caras ligam atrás das novidades.” Muito dessa repercussão se deve ao barulho que o Noise consegue fazer. “Esse festival é o maior do Estado até em termos de patrocínio privado e de apoio do poder público”, revela Nobre.

E como a palavra de ordem é democratizar o som, a organização do festival deste ano delegou funções aos parceiros na iniciativa, como a produtora Fósforo Cultural, a Universidade Federal de Goiás e a Central Única das Favelas. Todos fizeram curadoria dos muitos eventos que antecederam o Noise, como as séries de shows do Compacto Petrobras e do Un-Convention e as discussões da 3ª Conferência Brasil Central Music.

O efeito de mais cabeças pensando a maratona musical fez com que o festival deixasse de ser apenas uma sequência de shows, mas também um fórum de debates em que as ideias e os gostos de todas as tribos têm espaço. É um enorme palco que não acaba mais.