Inteligente, Aedes aegypti avança

Inteligente, ‘Aedes aegypti’ avança

Dengue cresce por questões culturais da população e capacidade de adaptação do mosquito transmissor

Carla Borges

A inteligência e a capacidade de adaptação do mosquito Aedes aegypti estão entre os principais desafios de autoridades de saúde e de pesquisadores para conter a explosão de casos de dengue – as notificações em janeiro deste ano foram 502% superiores às de janeiro de 2009. O mosquito tem sido encontrado em situações há pouco tempo consideradas inóspitas, como bandejas de ar-condicionado, ralos e vasos sanitários. Por outro lado, ele também tem evitado locais tradicionais, em que o combate é intenso, como pneus e latas.

“O mosquito tem migrado para locais desconhecidos, como ralos de banheiros e cozinhas”, constata a doutora em epidemiologia Nazareth Elias Silva Nascimento, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Goiás (UFG). “Ele é mais inteligente do que os meios propostos para combatê-lo”, diz.
Durante as ações realizadas pelos agentes de endemias da Secretaria de Saúde de Goiânia, foram encontrados muitos focos em vasos sanitários de imóveis fechados para aluguel. A recomendação da doutora da UFG é que a descarga seja acionada todos os dias, mesmo quando não há uso.

Nas casas ocupadas, é preciso colocar água sanitária nos ralos. Ainda assim, o mosquito deu mais uma comprovação de adaptação: a água sanitária não mata os ovos, apenas as larvas.

Outra prova da capacidade de adaptação do vetor é a transmissão vertical do vírus. Em vez do ciclo tradicional em que o mosquito adulto sadio pica uma pessoa doente, contrai a dengue e a transmite, o vírus já está sendo transmitido para os ovos. “Tudo isso reduz o período de transmissão e faz com que o vírus atinja mais pessoas”, ressalta Nazareth Elias. Esse novo comportamento do Aedes pede mudanças também na postura da população frente à doença.

Para eliminar o mosquito adulto (que transmite a dengue), as secretarias de Saúde do Estado, de Goiânia e de Aparecida de Goiânia iniciaram ontem a intensificação de emergência da aplicação de inseticida de ultrabaixo volume (UVB). Só em Goiânia – onde, em 18 dias, todas as ruas da cidade devem receber quatro aplicações do fumacê – serão usados cerca de 20 mil litros do inseticida malation, o mesmo que era usado na década de 90 e agora voltou a ser adotado pelo Ministério da Saúde (MS), depois que testes comprovaram a eficácia do produto contra o Aedes.

Além de Goiânia e Aparecida de Goiânia, onde as medidas de prevenção à dengue e combate ao mosquito Aedes aegypti foram intensificadas, outros dez municípios que concentram o maior número de casos terão ações semelhantes. Juntos, os 12 municípios respondem por 72,44% das notificações, ou 11 mil dos 15,2 mil casos registrados em janeiro. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) pode remanejar parte dos 40 veículos para aplicação de fumacê para atender esses municípios.

A gerente de Vigilância Epidemiológica da SES, Magna Maria de Carvalho, espera ainda esta semana se reunir com gestores de saúde dessas cidades para definir as estratégias que devem ser adotadas em cada local. Coordenador estadual de Controle de Vetores da SES, Jamilton de Freitas Pimenta explica que o inseticida usado no combate ao mosquito Aedes aegypti pelo Ministério da Saúde foi trocado no fim do ano passado.

Saiu o piretroide deltametrina e voltou o malation, já que o Aedes estava apresentando resistência à deltametrina. O malation também já havia sido substituído porque o mosquito havia se tornado resistente a ele anos atrás. Mas a eficiência foi retomada.