Depois da chuva, torneiras secas

O Popular - 29/09/2010


Sujeira da chuva comprometeu João Leite e deixou 450 mil pessoas sem abastecimento


Em vez de melhorar a oferta de água na Região Metropolitana de Goiânia, a chuva que caiu segunda-feira deixou mais uma vez os moradores na seca. Durante todo o dia de ontem os bairros das Regiões Central, Leste e Sul da capital e mais de cem setores de Aparecida de Goiânia ficaram sem fornecimento. O problema atingiu cerca 450 mil pessoas. A normalização do serviço está prevista para amanhã, mas a Saneamento de Goiás (Saneago) não determinou horário.

A explicação da Saneago foi que a chuva carregou sujeira para dentro do Ribeirão João Leite, o que tornou a água imprópria para consumo. A poluição arrastada para o manancial formou uma espuma branca na superfície do ribeirão e permaneceu por todo o dia de ontem. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em uma hora caiu 25,6 milímetros cúbicos de chuva, o que é considerada uma precipitação forte.

De acordo com o superintendente na Região Metropolitana da Saneago, Rivadávia Matos Azevedo, a chuva trouxe óleo, terra e lixo para dentro do ribeirão. "As características químicas da água ficaram alteradas", disse. A cor e o cheiro da água também denunciavam a sujeira proveniente de bairros localizados antes da área de captação da empresa pública, na região do Jardim Guanabara.

Ainda na noite de segunda-feira os técnicos da Saneago perceberam que as condições da água eram inadequadas. A captação ficou interrompida desde a zero hora até o meio da tarde de ontem, pois a qualidade da água não era possível ser melhorada nem mesmo com aplicação de produtos químicos. Em consequência disso, todos os reservatórios do sistema João Leite foram esvaziados e a estação de tratamento foi totalmente paralisada.

No fim da tarde de ontem o tratamento da água e a vazão do Ribeirão João Leite foram normalizados. No entanto, o fornecimento voltará ao normal somente amanhã. A Saneago recomendou uso comedido das reservas domiciliares nos próximos dias. Para a doutora em Climatologia Geográfica da Universidade Federal de Goiás (UFG), Juliana Ramalho Barros, é normal as primeiras chuvas trazerem a poluição atmosférica e lavarem a poluição do solo, mas foi a primeira vez que a professora viu acontecer a paralisação na oferta de água com essa justificativa. "O problema tem relação com a falta de preparo no período da seca, com a ausência de cuidado e planejamento", criticou.

Prejuízo
 - A população percebeu a interrupção do serviço logo de manhã. O cabeleireiro Lindomar Rodrigues de Oliveira já não tinha água às 8 horas, quando abriu o comércio, no Centro. "Foi um dia perdido e vou ficar no prejuízo", reclamou. O Colégio Simetria, no Bairro Feliz, ficou com o reservatório particular vazio a partir das 11 horas e teve de suspender as aulas da tarde.


A rede municipal de ensino também sofreu com a falta d’água. Entre escolas e Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis), que lidam com crianças de até 6 anos, 28 unidades ficaram sem aulas nas Regiões Central e Sul. "Não tem como manter os alunos na escola sem condições de higienizar e principalmente sem oferecer a merenda", diz a secretária Municipal de Educação, Márcia Carvalho.

A falta de água chegou à casa de Luzia Carvalho pouco antes do meio-dia, quando a assistente social iria preparar o almoço. "Minha sorte foi que tinha um pouco de água armazenada, em um filtro de barro", contou a moradora do Setor Sul. O abastecimento retornou no começo da noite de ontem, mesmo assim Luzia preferiu comprar três litros de água mineral para se garantir.

No Setor Oeste, o músico Carlos Roberto Mendes reclamou que em "uma metrópole como Goiânia não pode faltar um serviço básico dessa maneira, sem aviso prévio". O número de telefone da Saneago usado no atendimento ao consumidor ficou com linhas sobrecarregadas ontem e também foi alvo de críticas dos usuários.