Preso na Bahia acusado de matar médico Carlos Fernando

Preso na Bahia acusado de matar médico Carlos Fernando

José Antônio Martins da Silva foi detido na cidade de Seabra. Eles se conheciam há mais de 4 anos

Malu Longo

O acusado de assassinar o médico e escritor Carlos Fernando Filgueiras Magalhães, de 69 anos, no fim de outubro, mantinha relacionamento com a vítima há mais de quatro anos. José Antônio Martins da Silva, de 23, foi preso por volta das 19h30 de quarta-feira, na cidade baiana de Seabra, distante 1.250 quilômetros de Goiânia, localizada na Chapada Diamantina, para onde tinha fugido após cometer o crime. Um pouco assustado com a repercussão do caso, mas aparentando calma, ele chegou no fim da manhã de ontem à Delegacia Estadual de Homicídios, acompanhado do delegado titular Jorge Moreira da Silva e dois agentes policiais.

O cumprimento do mandado de prisão temporária expedido pelo juiz Jesseir Coelho Alcântara da 1ª Vara Criminal no dia 20 de novembro atraiu para a Delegacia de Homicídios até mesmo o Delegado Geral da Polícia Civil, Aredes Correia Pires. Ele acompanhou a chegada de José Antônio, que estava algemado, trajando camisa listrada rosa, calça jeans e sapatos sociais. A cabeça quase raspada mostrava que o acusado, que chegou a usar cabelo rastafari, tentou mudar a aparência.

Diante do grande número de repórteres, José Antônio falou pouco e baixo, mas admitiu que assassinou o médico a quem conhecia do próprio Edifício Rural, no Centro de Goiânia, onde ocorreu o crime. O rapaz, sem antecedentes criminais, trabalhava como garçom num restaurante em frente ao prédio onde passou a residir. Este foi o ponto de partida para que o delegado Jorge Moreira confirmasse a participação de José Antônio no crime. “Intensificamos as investigações em torno dos moradores e ex-moradores do prédio”, explicou o delegado.

Na delegacia, José Antônio contou que planejava se transferir para Brasília e que Carlos Fernando havia lhe prometido dinheiro. “Ele não cumpriu o prometido e nós discutimos. Tínhamos bebido e entramos em luta corporal”. Foi nesse momento que o rapaz matou o médico e escritor com dois golpes de faca no pescoço. “Fiquei desesperado, por isso, peguei as coisas para vender”. Na fuga, o rapaz levou um aparelho celular, um aparelho de TV LCD e um jogo de facas. O celular foi vendido e os demais objetos foram deixados na casa de um amigo.

Outra varredura, desta vez nas empresas de transporte terrestre, culminou na descoberta do paradeiro do rapaz. José Antônio, que é natural de Riverlândia, distrito de Rio Verde, no Sudoeste goiano, embarcou em um ônibus da Viação Novo Horizonte rumo a Seabra no dia 5 de novembro. Na cidade baiana ele tem uma prima vereadora e um tio que já foi presidente da Câmara Municipal local. Nenhum deles, conforme o delegado Jorge Moreira, tinha conhecimento da vida do rapaz em Goiânia. Uma equipe da Delegacia de Homicídios permaneceu em Seabra durante uma semana, acompanhando os passos de José Antônio, que chegou a vender veículos e, ultimamente, trabalhava em um restaurante.

“Ao ser preso, ele não esboçou reação e nem tentou negar o crime”, contou Jorge Moreira. No depoimento, o preso confessou ter matado o médico, mas negou que o objetivo fosse o roubo. “Peguei as coisas no apartamento para poder fugir”.

Professor da UFG, diretor e autor teatral

Malu Longo

Carlos Fernando Filgueiras de Magalhães foi encontrado morto no dia 3 de novembro. Vizinhos estranharam o cheiro forte vindo do apartamento 103, no Edifício Rural, onde o médico e escritor morava sozinho. O corpo estava em um dos quartos sobre um colchão no chão. Ele foi encontrado nu, de bruços, sob cobertores e com um travesseiro sobre a nuca, onde havia muito sangue.

Um dos intelectuais mais conhecidos e respeitados do Estado, Carlos Fernando era natural de Paratinga (BA), cidade às margens do São Francisco. Em Goiânia, cursou medicina na UFG, onde se tornou professor, e começou longa carreira artística. Estreou no Show do Esqueleto, promovido pelos acadêmicos de medicina, foi diretor e autor teatral, tendo participado de mais de 70 espetáculos, e escreveu vários livros. Durante o regime militar foi preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional.