Vai dar remédio?

Revista Saúde é Vital - Setembro

Antes disso, consulte um veterinário. Só ele é capaz de indicar o tratamento certo para o seu amigo de quatro patas

por CLARA CIRINO | design LUCIANE FERNANDES e PILKER

Para espantar uma febre, nada melhor que antitérmicos. Para as dores, analgésicos. Até parece que todo mundo tem a receita na ponta da língua. Mas abrir a caixa de remédios e medicar o cão ou o gato por conta própria nunca é boa ideia. A atitude pode mascarar problemas sérios ou até mesmo piorar bastante a saúde do animal.

Tome como exemplo as dores provocadas por inflamações. Anti-inflamatórios à base de diclofenaco de sódio e outros medicamentos que contenham ibuprofen — bastante utilizados em seres humanos — causam severas agressões ao organismo dos bichos, em especial dos cães. “Neles, esses princípios ativos provocam vômitos e diarreias, decorrentes de irritações gástricas e ulcerações no estômago”, diz o veterinário Adilson Damasceno, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Já antitérmicos com paracetamol na fórmula ou mesmo o famoso ácido acetilsalicílico são o pior remédio para o mal-estar dos felinos, que, por natureza, não possuem a enzima capaz de metabolizar essas drogas. “Ou seja, seu fígado termina sobrecarregado, o que pode desencadear uma hepatite hemorrágica ou interferir na atividade da medula óssea”, explica o veterinário Vitor Márcio, da Clínica Santo Agostinho, em Belo Horizonte. Para ter noção, enquanto nosso organismo elimina essas substâncias em cerca de quatro horas, os cães levam sete para dar cabo de todas as suas moléculas e os gatos, até três dias.

É bem verdade que, muitas vezes, depois de levar o bicho de estimação ao veterinário, como manda o figurino, o dono sai de lá carregando a receita de um remédio formulado, em princípio, para o corpo humano. “É que não existem drogas para todas as enfermidades dos animais”, justifica a especialista Rosângela Alves Carvalho, também da UFG. “Por isso, a gente acaba indicando medicamentos humanos, principalmente quando se trata de problemas de coração e disfunções do sistema nervoso”, completa. Mas, no caso, toda a cautela é pouca: é o especialista quem irá determinar a dose, conforme o peso, a idade e a raça do animal.

Os donos também não devem abrir mão da consulta quando o remédio que têm em casa é de uso veterinário. O risco maior acontece quando uma medicação para cachorros é aplicada em gatos. Talcos contra pulgas à base de carbamato põem em risco o sistema nervoso dos felinos, por exemplo. E, às vezes, mesmo sem misturar as espécies, há confusão. Uma das drogas utilizadas para combater a sarna, a invermectina, vai bem para muitos cães. “Mas raças como old english sheepdog e pastor de shetland — até mesmo os mestiços delas — não suportam a substância e sofrem uma intoxicação”, exemplifica Damasceno.

DURO DE ENGOLIR

Os bichos não engolem a medicação só com a ajuda de água. Uma sugestão é escondê-la no meio de alimentos e petiscos. Só não vale quebrar uma cápsula ou diluir o comprimido em líquidos, porque aí você nunca terá certeza de que a dose indicada foi absorvida. Versões líquidas ou pastosas, formuladas com sabores especiais — morango, peixe ou carne —, sempre são mais fáceis. Por isso, se possível, dê preferência a esse tipo de produto.