[UFG] Escritor e médico Carlos Fernando é encontrado morto (O Popular, 4/11/2009)

Escritor e médico Carlos Fernando é encontrado morto

Suspeita é de latrocínio porque bens sumiram. Meio cultural lamenta perda de incentivador

Marília Assunção

O sumiço de bens pessoais levam a Polícia Civil a investigar como latrocínio – roubo seguido de morte – a causa do homicídio do médico e escritor Carlos Fernando Filgueiras de Magalhães, de 69 anos. Carlos foi encontrado morto ontem à tarde no apartamento dele, no Edifício Rural, na Rua 3, no Centro de Goiânia.

A morte do médico e escritor deixa de luto o meio cultural goiano, onde ele se destacou com vários livros publicados, prêmios recebidos e pelo incentivo que deu à literatura, ao teatro, cinema e artes plásticas. Desapareceram do apartamento de Carlos dois aparelhos de televisão – um de 42 polegadas –, a carteira com os documentos pessoais e o telefone celular da vítima. Alguns desses objetos foram vistos no apartamento na sexta-feira pela diarista Evilene Alves que trabalhava há oito anos com o médico e escritor.

Amigos conversaram pela última vez com Carlos por telefone por volta das 15 horas de sábado. Desde então ele não foi visto, nem falou com mais ninguém, conforme apuraram os investigadores. A diarista disse que tentou avisar que ontem não poderia comparecer, mas o telefone não foi atendido.

O corpo foi encontrado após vizinhos estranharem um cheiro forte vindo do apartamento 103, no primeiro andar do edifício, onde Carlos Fernando residia há vários anos, sozinho. A polícia acionou um chaveiro, que precisou arrombar a porta da sala. A chave da porta da cozinha não foi encontrada na fechadura do lado de dentro, onde a diarista disse que ela sempre ficava, levando a crer que a pessoa que levou os bens saiu por esta porta e carregou a chave.

A perita do Instituto de Criminalística Terezinha Violatte disse que não havia sinais de luta no apartamento. O corpo estava em um quarto que funcionava como escritório, sobre um colchão que ficava no chão. Ele foi encontrado nu, de bruços, sob cobertores e peças de roupa e com um travesseiro sobre a nuca. Aparentemente não havia perfuração de bala no corpo.

Havia muito sangue na região do pescoço, mas isso foi atribuído ao avançado estado de decomposição, o que impediu precisar na hora se houve esganadura ou corte no pescoço, análise que será feita pelo legista. Outra hipótese da perita é a de envenenamento. Um litro contendo licor e uma garrafa de outra bebida, além de pequenos objetos, foram recolhidos pela perícia que analisará o conteúdo e a existência de impressões digitais.

A delegada Jane Cristina Gondim Melo, adjunta da Delegacia de Investigações de Homicídios, trabalha com o latrocínio como principal hipótese da morte. “Mas ele também pode ter morrido de morte natural e a pessoa que estava junto ter decidido levar os objetos, mas só o exame cadavérico vai dar essa resposta”, informou Jane. Ela considera a hipótese possível porque Carlos era hipertenso.

Por outro lado, a delegada informa que já tem um suspeito de ter estado com a vítima no dia da morte e que há sinais de que ocorreu um encontro sexual no apartamento. “Já sabemos que uma pessoa conhecida entrou. Não houve arrombamento, nem luta, o que reforça isso”, disse.

Ela solicitou imagens das câmaras do circuito interno do prédio para averiguar se a pessoa que estava com Carlos, ou se a retirada dos bens do apartamento, aparecem nas imagens. Chocados, amigos que estiveram no local evitaram comentar o caso. Um deles disse apenas que o corpo deve seguir para a Bahia, onde o escritor nasceu e onde reside a família dele.

Luto
A morte de Carlos Fernando representa uma “perda incalculável para a cultura de Goiás em todas as suas manifestações. Fosse no teatro, no cinema, na literatura, Carlos era um incentivador cultural”, resumiu o pró-reitor de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Goiás, Anselmo Pessoa. A pró-reitoria, lembrou ele, nasceu de um núcleo criado por Carlos Fernando na década de 1980.

O presidente da União Brasileira de Escritores Seção de Goiás (UBE), Edval Lourenço, destacou a qualidade das pesquisas históricas feitas por Carlos Fernando. “Ele era um pesquisador sério da história de Goiás, sabia usar as ferramentas, o que o marcou bem. A pesquisa perde com sua morte”, lamentou.

“Foi uma perda incalculável para a cultura goiana. Fosse no teatro, no cinema, na literatura, Carlos era um incentivador cultural.”
Anselmo Pessoa, amigo e pró-reitor de Extensão e Cultura da UFG

“Sua obra marcou pela seriedade das pesquisas, do uso das ferramentas de pesquisa e pela participação cultural. Perde a pesquisa histórica.”
Edval Lourenço, presidente da UBE-GO