Zoo registra 36ª morte este ano e MP apura presença de onça solta

Dessa vez, animal morto era um queixada macho adulto. Guarda Municipal denuncia que felino solto nas imediações do parque coloca plantel, servidores e população em risco

Deire Assis/ O Popular

No dia em que a direção do Parque Zoológico de Goiânia confirmou a ocorrência da 36ª morte ocorrida em meio ao plantel da unidade desde janeiro - um queixada adulto, macho, que apresentou apatia na segunda-feira -, o Ministério Público (MP) estadual anunciou a instauração de um inquérito civil público para apurar, entre outras coisas, a denúncia de que há animais selvagens soltos nas imediações do parque, entre eles uma onça. O felino já teria atacado outros bichos, conforme fazem crer registros fotográficos entregues por um guarda municipal que prestou declarações ontem à promotora Marta Moriya Loyola, do Núcleo de Defesa do Meio Ambiente do MP em Goiânia.

De acordo com o denunciante, a suspeita é de que a onça - supostamente uma suçuarana - esteja utilizando galerias de água pluvial abandonadas como moradia. Na declaração prestada à promotora, o guarda municipal, do quadro de servidores responsáveis pela segurança do zoo, o felino teria sido visto por um colega no dia 6 de junho, nas proximidades do parque infantil, perseguindo um gambá. O animal teria corrido em direção à mata ao perceber a presença do funcionário. Segundo afirmou o guarda à promotora de Justiça, "o fato de a onça estar solta é de conhecimento da direção do zoo."

O guarda contou ainda que em abril duas armadilhas foram instaladas no interior do parque "provavelmente para apreender animal de médio porte", declarou. As armadilhas teriam sido desativadas pouco depois e encontram-se, segundo ele, abandonadas. O denunciante relatou a existência de um jacaré açu, também solto, na unidade. O réptil, disse o guarda em sua declaração, teria sido visto por um tratador do zoo no Lago dos Macacos ameaçando os bichos.

Fotos - Entre as fotos entregues ao MP, há animais de médio porte mortos - supostamente roedores - com várias marcas de ataque. Uma das fotos mostra uma gaiola identificada pelo guarda como uma das armadilhas que teriam sido instaladas no interior da unidade com o objetivo de capturar bichos selvagens soltos. O guarda denuncia a inexistência de esquemas de controle de saída de animais do Zoológico e de segurança para os bichos. Ele relata, inclusive, que um cachorro teria entrado no parque e matado dois macacos.

"Os relatos do guarda municipal demonstram que a situação no Parque Zoológico de Goiânia é absurda, caótica. Mostra que a segurança no local está de fato comprometida", declarou ao POPULAR a promotora de Justiça Marta Moriya Loyola. Na portaria de instauração do inquérito civil público, a promotora relata a ocorrência anterior de ligações telefônicas feitas ao órgão, em março deste ano, denunciando que guardas municipais que trabalham no zoo estariam sofrendo "pressões" para "não relatar ocorrências diárias nos livros de registro" da unidade. Entre os despachos de ontem, Marta Moryia Loyola solicitou que a direção do zoo seja notificada dos fatos e convocada a prestar esclarecimentos sobre as denúncias.

O secretário municipal de Meio Ambiente, Clarismino Luiz Pereira Júnior, acredita ser "muito remota" a possibilidade de haver um felino do plantel do zoo solto no parque. Ele defendeu o profissionalismo da atual equipe técnica da unidade - "nunca na história do Zoológico tivemos uma equipe tão preparada" -, ressaltou ser legítima a investigação feita pelo MP e comentou a denúncia de que a direção da unidade teria conhecimento da suposta existência de uma onça solta no local.

"Eu confio na equipe que está lá e não acho que se exporia a esse ponto. Se a direção tomou conhecimento desse tipo de denúncia e não adotou providência, isso é extremamente grave", frisou. Sobre a possibilidade de haver também um jacaré vivendo livremente na área do zoo, Clarismino já afirmou não ser improvável, já que há alguns animais selvagens de vida livre em áreas verdes de Goiânia. "Outro dia uma equipe da Amma encontrou um jacaré no Córrego Anicuns", contou.

Queixada estava isolado

Um queixada macho pertencente ao plantel do Parque Zoológico de Goiânia morreu entre as 19 horas de terça-feira e as 7 horas de ontem. O animal foi encontrado assim que os funcionários chegaram para trabalhar, em seu recinto, onde havia sido isolado fisicamente dos demais da sua espécie, um grupo formado por outros cinco exemplares.

De acordo com o diretor-técnico-operacional do zoo, veterinário Alcides Mendes de Souza Júnior, o queixada amanheceu apático e recusou a alimentação. Foi tratado com antibiótico e anti-inflamatório mas não reagiu. O animal foi encaminhado a Universidade Federal de Goiás.(D.A.)

Moradores relatam bichos soltos

Marília Assunção

Ver animais de pequeno porte, como quatis e guaxinins, andando pelas calçadas da Alameda das Rosas não é novidade para quem mora, trabalha ou se exercita no calçadão. Os bichos atravessam a grade e, não raro, morrem atropelados na rua. "Outro dia uma conhecida precisou recolher alguns desses bichos para o carro não atropelar", contava ontem a servidora pública do Ministério da Saúde, Lusia Couto.

Outro que também viu um bicho solto, ainda que dentro do alambrado, foi o médico José Rosa, que mora de um lado e vai a pé para o trabalho, do outro lado do parque. "Era um veado campeiro grande que estava perto da grade e não na área reservada para ele", citou. O professor Pedro Henrique Bernardi também já assistiu inúmeros roedores e outros bichos de pequeno porte passeando pelas calçadas.