Número de laqueaduras tem redução

REPRODUÇÃO HUMANA

Número de laqueaduras tem redução

Nos últimos dez anos, planejamento familiar na região centro-oeste mudou

Vinícius Jorge Sassino

O planejamento da família mudou no Brasil, em especial na Região Centro-Oeste. Por décadas, até o ano de 1996, a região liderou em quantidade de mulheres que recorriam à laqueadura como principal método contraceptivo, uma realidade que ignorava a idade dessas jovens mães e as suas próprias vontades. Uma década depois, a proporção de mulheres laqueadas no Centro-Oeste brasileiro diminuiu 34% e o homem passou a assumir um papel protagonista na contracepção. Em Goiás, a quantidade de vasectomias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) aumentou 1 em 1999 para 765 em 2009.

Hoje, a Região Norte é a que mais concentra brasileiras que recorrem à laqueadura como método contraceptivo. A cirurgia é definitiva e recomendada como última opção para evitar a gravidez. As mudanças de comportamento da família brasileira são evidentes, inclusive com uma crescente procura de mulheres laqueadas pela cirurgia de reversão do procedimento, para que possam engravidar outra vez.

Somente o Laboratório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG) atende anualmente entre 400 e 500 mulheres que desejam religar as trompas uterinas.

Levantamentos do Ministério da Saúde e dos planos privados de saúde e pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), apurados pelo POPULAR, mostram que caiu a proporção de mulheres que recorrem à laqueadura, enquanto aumentou o uso de métodos contraceptivos não definitivos, como o diafragma intra-uterino (DIU) e o diafragma. O homem passou a fazer parte do planejamento familiar, e a vasectomia deixou de ser mito. Essa realidade é mais evidente na Região Centro-Oeste, onde a queda da laqueadura e o aumento da vasectomia ocorrem de forma mais expressiva do que no restante do País.

Mudanças
No ano de 1988, Goiás era o Estado onde as mulheres mais recorriam à laqueadura. Sete entre cada dez mães que usavam algum método contraceptivo eram laqueadas. A realidade despertou atenção internacional e chegou a motivar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa, para apurar o uso da cirurgia como barganha eleitoral. Em 1996, quando o IBGE realizou a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), a realidade permanecia praticamente a mesma. Em todo o Centro-Oeste, de cada dez mulheres em idade fértil, seis preferiam a laqueadura a outros métodos contraceptivos.

O IBGE voltou a fazer um levantamento dez anos depois, em 2006, cujos dados foram analisados pelo Cebrap. O relatório do estudo foi divulgado no ano passado e apontou uma redução da proporção de mulheres laqueadas no Centro-Oeste. São, agora, menos de quatro a cada grupo de dez mulheres férteis. “Houve uma queda importante das laqueaduras junto às mulheres mais jovens. A cirurgia passou a ser uma opção cada vez mais procurada pelas mulheres mais velhas”, disse ao POPULAR José Luiz Telles, diretor do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde.

Diante da explosão da esterilização feminina, principalmente nas décadas de 80 e 90, a legislação passou a permitir que somente mulheres com mais de 25 anos e com pelo menos dois filhos façam a laqueadura. Ainda assim, elas só devem se submeter ao procedimento cirúrgico 60 dias após a tomada da decisão. “Mas a gente sabe que muitos médicos fazem a cirurgia nos hospitais privados logo após o nascimento do segundo filho”, afirma o diretor do Ministério da Saúde.

Índice de reversão chega a 15%

Vinicius Jorge Sassine

De cada 100 mulheres que procuram atendimento no Laboratório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), 15 fizeram laqueaduras e, agora, querem de volta a possibilidade de ter filhos. Como as chances de êxito numa cirurgia de reversão da laqueadura são reduzidas (entre 40% e 60%), muitas precisam de técnicas de fertilização em laboratório, principalmente a fertilização in vitro (os chamados bebês de proveta).

“A cultura do brasileiro ainda é fazer a laqueadura”, afirma o diretor do Laboratório de Reprodução Humana, Mário Approbato. “Há 15 anos, isso era uma loucura. Hoje, com mais informação, caiu a quantidade de laqueaduras, mas muitas são feitas na rede particular”, ressalta Rodopiano Florencio, professor de Reprodução Humana da UFG e com atuação no laboratório do HC.

Rodopiano considera “temerária” a política de estímulo à laqueadura e à vasectomia desenvolvida pelo governo federal. Mas, para José Luiz Telles, diretor do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, cabe ao casal a decisão pela melhor forma de planejar a família.

José Luiz cita como exemplo o fato de mais 60 mil brasileiras terem aderido, pelo SUS, ao DIU e ao diafragma como métodos contraceptivos. Eram 142,9 mil em 2003 e 202,6 mil em 2008. “Nas décadas passadas, havia uma política de esterilização em massa das mulheres, principalmente das mais pobres. Isso foi feito, muitas vezes, contra a vontade da mulher.”