Discurso em 140 caracteres

Tribuna do Planalto - 04/09/2010

Péricles Carvalho Estagiário convênio Tribuna/UFG

Apesar do boom de políticos, Twitter e redes sociais tem efeito médio nas campanhas eleitorais, dizem estudiosos

A inserção da internet no debate eleitoral configurou uma nova maneira de fazer política e já diferencia as eleições de 2010 das anteriores. As redes sociais passaram a ser utilizadas exaustivamente pelos candidatos e equipes de assessoria de campanha, e quase não existem candidatos que estejam fora das chamadas redes sociais. Todos criam contas em sites como o Twitter, Orkut e Facebook visando interagir com o eleitorado e divulgar informações de campanha. O modelo seguido pelos políticos nacionais é a bem-sucedida utilização das redes sociais feita pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no período da sua campanha eleitoral.

De acordo com o professor da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Goiás (UFG) Luiz Carlos Fernandes, que estuda o tema, a utilização das redes sociais na campanha norte-americana foi bastante diferente da maneira como estes recursos são utilizados no Brasil. Ele ressalta que Barack Obama conseguiu mobilizar as pessoas no Twitter e aumentar significativamente a arrecadação de verbas para a campanha, fato que não se vê por aqui.

Entre os principais problemas envolvendo a utilização do Twitter no Brasil, o estudioso aponta que a maioria dos candidatos utilizam o microblog para divulgação de agenda e reprodução do que circula na imprensa. Luiz Carlos constata que poucos no meio político utilizam as redes sociais para interagir com a população, o que acaba dificultando a criação de uma imagem sólida dos políticos. Outro ponto negativo citado pelo professor diz respeito aos fakes que são criados por assessorias de imprensa. Ele ressalta que o que se busca é credibilidade, e quando o político afirma que está postando e quem está por trás é um assessor, por exemplo, acaba agregando uma imagem negativa. Uma alternativa é a criação de dois perfis, ou então, deixar bem claro para o internauta quem é que está realmente postando.

Importância da internet

Para a cientista política e professora da UFSCAR Maria do Socorro Braga, o Twitter tem um papel importante nestas eleições. Ela ressalta que muitas vezes o serviço de microblogs acaba definindo o que veremos nos jornais amanhã. Sobre este poder de definir as notícias, o professor Luiz Carlos afirma que existe, sim, essa possibilidade. “É possível antecipar muito do que se vê”, afirma ele, que prossegue dizendo que o movimento contrário, de disponibilizar conteúdos da mídia para o Twitter também é possível, e muito utilizado. De acordo com as observações de Luiz Carlos, há uma tentativa de argumentação por parte dos políticos, e o discurso de “moderno” para aqueles que utilizam as redes sociais acaba se constituindo em uma contradição, uma vez que os sites são mal utilizados pelos candidatos.

O poder de penetração das discussões do Twitter também é limitado. Para a cientista política, o impacto da internet ainda é médio, devido ao fato de que uma pequena parcela da população tem acesso à rede. Segundo Luiz Carlos, as discussões políticas no Twitter atingem apenas uma parcela da população chamada de “formadores de opinião”, e são estes que muitas vezes repassam as informações obtidas para o resto da população.

Em sua pesquisa para tese de doutorado, Luiz Carlos começou a analisar em maio deste ano os perfis no Twitter de políticos, e deve finalizar a pesquisa em maio do ano que vem. Após um ano, o professor quer ter uma radiografia da utilização desta nova ferramenta de campanha. A respeito de suas observações, o professor conta que presenciou muito bate boca, troca de agressões, avaliações de debates e até denúncias. No Twitter, qualquer pessoa que realizar cadastro pode postar frases curtas de, no máximo, 140 caracteres. Sobre a evolução dos candidatos no Twitter, ele pondera que alguns melhoraram e outros pioraram.

Dados preliminares do estudo de Luiz Carlos apontam que dos 34 vereadores de Goiânia, 24 tem contas registradas no Twitter, e apenas 14 usam de maneira mais efetiva o sistema. Uma análise mais apurada permite constatar que é grande o número de políticos que possuem contas ativas, porém, ou não utilizam, ou então postam de maneira errada – não compreendendo a real função do microblog. Sobre a permanência destes políticos na rede após o período eleitoral, o professor afirma que “os mais inteligentes vão continuar utilizando e se relacionando com os eleitores”.

O professor também ressalta que os mais ativos, que consequentemente são os mais autênticos, possuem maior credibilidade, conseguem construir vínculos mais fortes com o eleitorado. Pesquisas apontam que o número de brasileiros que acessam a rede mundial de computadores vem aumentando significativamente a cada ano, o que evidencia que a a utilização da internet como palco eleitoral deve ser cada vez mais maior.

Candidatos ao Senado aceleram campanha

As campanhas dos candidatos ao Senado em Goiás tem seguido o ritmo de seus respectivos candidatos ao governo do Estado. Na coligação encabeçada pelo governadoriável Marconi Perillo (PSDB), os candidatos Lúcia Vânia (PSDB) e Demóstenes Torres (DEM) buscam fazer suas campanhas acompanhando, sempre, as atividades do candidato majoritário da chapa. A pesquisa Rádio 730/ Grupom divulgada na última sexta 03, aponta a liderança de Demóstenes e Lúcia Vânia na disputa pelo Senado.

Lúcia oscilou negativamente em relação à última pesquisa Grupom. Nos últimos dias ela tem se dedicado à campanha nos municípios, de onde afirma ter o sustentáculo de sua campanha. Na mesma pesquisa, Demóstenes Torres subiu de 46,3% para 50,2%. O democrata, que lidera as pesquisas de intenção de voto desde o início do processo eleitoral, tem cumprido a extensa agenda da coligação pelo interior do Estado. Da última quarta-feira, 01, até este sábado, ele, Lúcia e Marconi percorreram cerca de 25 municípios.

Outro candidato cuja presença vinha sendo reclamada nos eventos de campanha do candidato a governador da Coligação Goiás no Rumo Certo, Vanderlan Cardoso (PR), e que agora parece ter intensificado sua participação, é o cantor sertanejo Renner (PP). Na pesquisa Grupom/Rádio 730 realizada em julho, ele tinha 2,1% das intenções de voto e na que foi divulgada na última semana ele já aparece com 6,4%. Na quinta, 2, Renner participou de caminhada em Aparecida de Goânia ao ado de Vanderlan e foi assediado por fãs por onde passou.

Na última semana correu um boato de que Renner desistiria de concorrer ao Senado, fato que foi desmentido no mesmo dia pela assessoria do candidato. Para negar a informação de que ele não estaria participando das ações de campanha, a assessoria de Vanderlan informou que o candidato ao Senado está bastante ativo na campanha e, tem buscado participar sempre dos eventos no interior do Estado, principalmente na região do Entorno do Distrito Federal. O bom resultado do candidato se deve, em muito, à carreira como cantor, que o tornou conhecido em todo o país.

A pesquisa Grupom também aponta que o candidato Pedro Wilson (PT) oscilou negativamente e tem 14,6% das intenções de voto. Na última semana, o candidato participou de vários eventos na região metropolitana, e recebeu o apoio da Matriz de Campinas. Em seus discursos, criticou o candidato José Serra, do PSDB, por propor o fim das conferências públicas. Os candidatos Paulo Roberto Cunha (PP), Elias Vaz (PSOL) e Adib Elias (PMDB) oscilaram negativamente na pesquisa. Nos últimos dias, Adib Elias tem acompanhado Iris Rezende em suas viagens ao interior. Na última sexta-feira, 03, o candidato esteve na região de Posse, no Leste de Goiás, com a comitiva do governadoriável.