Esgoto recebe 7,5 mil litros de óleo por dia

 

Lyniker Passos

O óleo de cozinha, depois de utilizado, se torna resíduo indesejado. Ainda assim, aproximadamente 7,5 mil litros de óleo são descartados de forma incorreta por dia em Goiânia. A constatação é de estudo feito pela bióloga Carmencita Tonelini Pereira, que hoje é especialista em tratamento e exposição final de resíduos sólidos e líquidos pela Universidade Federal de Goiás (UFG). A especialista tomou como base o número de habitantes de Goiânia – 1,2 milhão, levando em conta que uma família de cinco pessoas descarta por mês 1 litro de óleo pelo esgoto. Na capital apenas uma empresa faz o recolhimento do produto, que pode ser reciclável. Essa única empresa consegue recolher por mês apenas 15 mil litros de óleo. A Comurg e a Saneago não possuem programas específicos para amenizar o problema.
Em seu estudo original, a bióloga também avaliou o descarte de óleo em Anápolis e verificou que estabelecimentos comerciais de pequeno porte geram em média 30 litros do produto. Ela explica que o óleo pode ser utilizado na fabricação de sabão para o próprio consumo e na produção de biocombustível. “Restaurantes e lanchonetes podem apostar na comercialização do óleo com a possibilidade de vender por R$ 0,50 a 0,80 o litro”, afirma.
 
A empresária Marisa Berganesco Ferreira, proprietária da Biocoleta, empresa que recolhe óleo vegetal em mais de 3.240 residências e 250 restaurantes e hotéis em Goiânia, desenvolveu uma técnica para facilitar o recolhimento do óleo de forma adequada. “Hoje utilizamos o supercoletor, uma espécie de cestinho, que custa em torno de R$ 8”, disse. Marisa trabalha com a reciclagem em escolas e comércios. O supercoletor reveste uma garrafa pet e auxilia, como se fosse um funil, a entrada do óleo de cozinha no recipiente.  
 
Ela trabalha há dois anos com o reaproveitamento do produto voltado para a fabricação de sabão de vários tipos. A ideia surgiu quando Marisa iniciou um projeto semelhante em escolas. “Confeccionávamos sabonete, foi aí que percebi que as donas de casa tinham dificuldade para descartar o óleo de forma adequada”, relata. A empresária possui uma parceria com a Comurg para a divulgação de seu trabalho. “Em mutirões nosso trabalho é conscientizar as pessoas”, disse.

Danos 
Marisa defende que o óleo deve ser descartado de forma correta para evitar danos à natureza e também à higiene domiciliar. “O descarte indevido causa muita poluição, causa entupimento do encanamento, além disso, atrai insetos como as baratas”, ressalta. 
As gorduras também interferem de maneira negativa no tratamento de esgotos. A reportagem não conseguiu contato com o profissional responsável pelo tratamento de esgoto da Saneago. Mas a assessoria de imprensa informou que não existe um programa específico para evitar os danos causados pelo óleo. No estudo de Carmencita a bióloga constata que o descarte incorreto provoca obstrução nas tubulações. “O entupimento da rede força os esgotos a infiltrarem no solo, contaminando o lençol freático, ou atingindo a superfície”, acredita. 
 

Carmencita afirma ainda que faltam políticas públicas para questões ambientais. “Os governantes deveriam ficar atentos às causas ambientais, o ambiente deve ser um projeto de todos e as promessas não devem ficar só no papel”. Ela encabeçou um projeto de uma ONG em Goiânia que não existe mais. “A nossa ONG acabou porque não tínhamos apoio de ninguém. Todos queriam algo em troca e não percebiam que nosso trabalho era de suma importância para o ambiente, a qualidade das águas e a preservação ambiental”, relatou.

Ambiente
A ONG da bióloga trabalhou na capital por dois anos, mesmo sem apoio a organização conseguiu ao menos conscientizar algumas pessoas. “Fizemos muito mais que certas entidades”, defendeu. Ela diz que hoje muito se fala em preservação ambiental, sustentabilidade, “mas quantas pessoas realmente estão interessadas em preservar?”.