Museu ainda vivo

Apesar da resistência e do pouco conhecimento dos estudantes, os museus permanecem como opção colaborativa importante para a Educação. Iniciativas de inserção na internet e na televisão destacam a relevância destas instituições

A resistência e o preconceito existem: museus aparentemente transmitem uma imagem obsoleta, de imobilidade e são vistos como algo desinteressante por crianças e jovens que, muitas vezes, nem os conhecem. Imagem que, segundo a coordenadora do curso de Museologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Maria Luiza Rodrigues de Souza, não corresponde à realidade. “Os museus são instituições dinâmicas, que sempre vão existir, principalmente em parceria com a área educacional”, afirma a professora.
Maria Luiza ainda complementa que as visitas guiadas ao Museu Antropológico da UFG mostram que os alunos se encantam com a exposição permanente quando vão ao museu. O problema, segundo ela, é que nem sempre eles têm essa oportunidade. “Às vezes o professor nem sabe que pode levar os alunos para uma visita guiada ou desenvolver uma atividade pedagógica dentro do museu”, enfatiza. D
Dificuldade que não só os museólogos tentam resolver. Na internet já surgem iniciativas para divulgar os museus, como o projeto ERA Virtual – Exposições Virtuais de Museus Brasileiros, que pode ser acessado por meio do site www.eravirtual.org. A página eletrônica disponibiliza visitações virtuais imersivas aos acervos de exposições de museus brasileiros. Entre as opções está o Museu Casa de Cora Coralina, localizado na Cidade de Goiás, única instituição goiana disponível para visitação no site. Museu que está inserido no mundo virtual com músicas, imagens de toda a sua área e, inclusive, narrações feitas pela antiga moradora, Cora. Uma conquista ainda distante para os outros museus goianos. “Os museus hoje tëm como desafio a tarefa de se inserirem nas novas tecnologias. O Museu Antropológico, por exemplo, está trabalhando para informatizar a exposição permanente”, conta Maria Luiza.
Informatização importante para a divulgação dos museus. Divulgação que, no caso dos goianos, também pode ser vista na TV, nos programas do projeto Museu Vivo, idealizado pelo diretor e produtor Ângelo Lima. Os 12 primeiros programas, todos já gravados, estão sendo veiculados na TV Capital (canal 32 da televisão aberta) e no canal 21 da NET, todos os domingos, às 17h30. Com cerca de 20 minutos de duração cada, divididos em três blocos, a atração conta de forma didática um pouco sobre os museus de Goiânia, Pirenópolis, Cidade de Goiás e Nova Veneza, além de mostrar muito da história de cada um desses municípios e do Estado em que estão inseridos.

Museus na TV
Ângelo Lima conta que a ideia do projeto Museu Vivo surgiu em 2006, como, segundo ele, uma batalha pela memória, para mostrar que Goiás tem museus e que estes não são coisas mortas ou chatas e, sim, coisas vivas. “Nós queríamos fazer 24 programas, mas pela Lei Goyazes [de Incentivo à Cultura] fomos liberados para fazer 12. Fizemos os 12 e o projeto está fazendo um sucesso danado. As pessoas estão gostando muito, porque não tem nada parecido em Goiás”, enfatiza.
O produtor afirma que o principal objetivo é suscitar na cabeça das pessoas a ideia de que é importante conhecer os museus, porque eles são os guardiães da história. História que, em Goiás, explica Ângelo, é pouco difundida e desconhecida da maioria da população. “Povo sem memória não existe, não constrói história. E o brasileiro é um povo que trata muito mal sua memória, não preza por ela”. Na tentativa de reverter isso, Ângelo Lima conta que os programas da série Museu Vivo foram feitos com linguagem didática e são muito dinâmicos, retratando não só o museu em foco, mas também a história do lugar e dos antigos moradores da região.
Mestre em Museologia pela Universidade de São Paulo (USP), Manuelina Duarte afirma que já acompanhou alguns dos episódios da série Museu Vivo e apoia a iniciativa. “Posso dizer que é sempre muito importante que se abram espaços para a divulgação dos museus nos grandes meios de comunicação”. Ela afirma que, para a quantidade de museus que o Brasil tem, a visibilidade deste setor ainda é pequena e há um enorme potencial e diversidade que parte dos brasileiros desconhece.

Nas escolas
A intenção de Ângelo Lima é novamente conseguir a aprovação na Lei Goyazes para mais 12 programas. Enquanto isso não acontece, ele planeja veicular todos os programas da série Museu Vivo e depois repeti-los, até o final do ano. “Não é o mesmo público. Depois disso, vamos tentar colocar em outros canais, porque quanto mais divulgar, melhor. Mais gente vai ver, se educar e conhecer esses museus”.
Outro objetivo do diretor é levar o projeto às escolas, já que a linguagem didática também foi utilizada para que os programas fossem adequados ao ambiente educacional. Mas o Museu Vivo ainda não foi testado em nenhuma instituição de ensino, não se sabe qual será a reação dos estudantes. “Eu acho que a criança vai assistir o programa e pedir aos pais que a levem para conhecer os museus pessoalmente. Os vídeos suscitam essa vontade nas crianças”.

Museus + Educação
Mas nem por isso, os estudantes estão distantes dos museus. Manuelina Duarte é também coordenadora de Estudos da Rede de Educadores em Museus de Goiás (REM-GO) e afirma que a Educação sempre foi uma grande parceira dos museus. “A maior parte do público de museus no Brasil é composta por visitas agendadas por escolas, mas é necessário ampliar muito mais este universo, já que poucas famílias tomam a iniciativa de levar os filhos aos museus e delegam essa responsabilidade às instituições de ensino”.
Pior, segundo o atual coordenador da REM-GO, Tony Boita, é a qualidade das visitações. “Normalmente as visitas aos museus são muito chatas e a culpa é da ação educativa mal elaborada. Os professores e os museus são culpados. Por isso, ambos têm que se unir para desenvolver, em conjunto, ações educativas permanentes”, enfatiza.
Para Manuelina, outra forma de aumentar o interesse dos estudantes é aproximar o patrimônio preservado do dia-a-dia e incentivar a ação exploratória e a descoberta, o que é mais estimulante do que 'ensinar' sobre patrimônio.

Rede de educadores
“A ação educativa precisa ser pensada de forma bem criativa, aproveitando o fato de que os museus trabalham com Educação não-formal, que não tem as amarras necessárias da Educação formal e podem reinventar seus métodos”, explica Manuelina. Nesse sentido atua a REM-GO, segundo Tony Boita. Ele conta que o objetivo da rede é ajudar os professores a desenvolverem o aprendizado potencial que há nos museus. “É uma nova forma de chamar a atenção dos alunos, porque os professores vão ao museu, mas têm pouco conhecimento. Nós oferecemos conhecimento teórico para que eles comecem a aplicar em sala de aula. Com maior interesse dos professores, os alunos também terão interesse e as visitas não serão mais entediantes”.
Manuelina ainda completa que a Educação pode fazer uso dos museus para diversos fins, visto que, como recortes de elementos relativos a vários aspectos da vida, os acervos museológicos podem contribuir para o aprendizado de todas as áreas do conhecimento. “Por outro lado, os museus fazem uso da Educação como área capaz de ampliar seus potenciais como meios de comunicação, pois a Educação pode transformar mentalidades a respeito da noção de patrimônio e ajudar no desafio de aprofundar esta relação entre a sociedade e os museus”.

Saiba mais

Programe uma visita ao museu
Para os professores que têm interesse em aproveitar todo o potencial de informação e conhecimento dos museus, eis algumas dicas:
1 – Buscar informações sobre o museu antes de planejar a visita;
2 - Conversar com os educadores do museu para trocar ideias;
3 - Fazer um trabalho prévio de preparação com os alunos e uma retomada posterior para dar um fechamento à proposta;
4 – Confirir a bibliografia disponível, inclusive na internet. A Biblioteca Central da UFG já começa a ter uma bibliografia específica sobre museus devido a criação do Curso de Museologia, recém-aberto na universidade.