Siglas de esquerda aumentam votos

O Popular - Política, 06/10/2010

PSOL, PCB E PSTU melhoraram desempenho em relação a 2006 e ganham apoio de politizados e descontentes

Carla Borges

Os três partidos de esquerda que têm representação em Goiás tiveram uma melhora significativa de desempenho na eleição deste ano, em comparação com a de 2006, quando os mesmos cargos - governador, senador, deputado federal e deputado estadual - estavam em disputa. PSOL, PSTU e PCB comemoram o desempenho nas urnas, apesar da pequena estrutura e de os votos não terem sido suficientes para eleger nenhum representante. O melhor desempenho proporcional foi do PSOL, que conquistou 1,41% dos votos válidos para deputado estadual, somados os votos nominais e de legenda.

A votação do PSOL para deputado estadual foi a que mais cresceu, comparando as dos demais cargos em 2010 e em 2006. O partido saiu de 25.726 votos para 42.078, um aumento de 63,5%. O PSOL foi fundado em 2005, formado em grande parte, em Goiás, por dissidentes do PSTU, que, por sua vez, eram dissidentes - muitos deles - do PT. O PSTU conseguiu sua melhor evolução na votação para deputado federal. O partido teve 858 votos em 2006, somando nominais e de legenda, e passou para 1.941 em 2010.

Já o PCB teve seus votos aumentados em 126% para deputado federal. Na eleição de 2006, o partido teve 1.321 votos, número que saltou para 42.078 no domingo. Já os votos para deputado estadual não foram computados, porque a candidatura de Paulo Winicius Maskote, único candidato a federal do partido, foi cassada pela Justiça Eleitoral porque ele não havia votado no plebiscito do desarmamento nem regularizou a situação eleitoral. Quem tentou votar no número do candidato, encontrou a opção nulo na urna eletrônica.

Tendência
 - O sociólogo e cientista político Nildo Viana, da Universidade Federal de Goiás (UFG), que estuda a evolução dos partidos políticos no Brasil, diz que a análise evolutiva no Brasil e na Europa mostra a tendência de crescimento dos partidos de esquerda. "Até que chegam ao governo, quando tornam-se mais conciliadores e conservadores e mudam o discurso", avalia. Para Nildo, foi o que aconteceu com o PT, que substituiu o discurso ideológico, com propostas socialistas, pela conciliação.


Nildo observa que parte dos líderes do PSOL, PSTU e do PCO estavam no PT. Grande parte de seus eleitores também votava no PT quando ainda o vislumbrava como alternativa de esquerda no cenário político brasileiro. A maioria dos eleitores desses partidos, acredita o sociólogo, vem de eleitores mais politizados, que são mais ligados aos programas e à ideologia. "Essa é a parte mais fiel", diz Nildo.

Apesar dessa característica, a análise dos votos do PSOL deixa claro que o desempenho do partido é melhor quando os candidatos são seus dois maiores líderes em Goiás, Elias Vaz, que exerce o terceiro mandato de vereador em Goiânia, e Martiniano Cavalcante. O partido teve mais do que o dobro de votos para governador em 2006, quando Elias Vaz era o candidato, do que em 2010, quando foi representado pelo sindicalista Washington Fraga. Para deputado federal, ocorreu processo semelhante. Em 2006, um dos candidatos era Martiniano, que puxou votos, embora não tenha sido eleito.

Presidente do PSOL em Goiânia, Elias Vaz, que teve mais de 45 mil votos para senador no domingo, avalia com naturalidade o fato de o partido ter nomes mais consolidados do que outros. "É natural que alguns tenham mais visibilidade. O Washington (Fraga) tornou-se mais conhecido", diz. Para Elias, o balanço é positivo. "Há a derrota política e a eleitoral. O PSOL teve derrota eleitoral, mas politicamente se fortaleceu".

Secretário político do PCB em Goiás, Fernando Viana afirma que o partido saiu da eleição fortalecido, com contatos abertos em várias localidades. Ontem à tarde, enquanto atendia O POPULAR, Viana participava de uma reunião com líderes políticos 12 municípios, que querem estruturar o partido em suas cidades. O PCB está se reorganizando em Goiás desde 2002. "O partido gerou a expectativa de que mesmo sendo de esquerda, tem viabilidade eleitoral", avalia. Para ele, o resultado seria melhor se não fosse o problema com Paulo Maskote.

O advogado Rubens Donizzeti, candidato a senador pelo PSTU, também aponta o crescimento do partido, apesar de apontar várias dificuldades do processo eleitoral. "Mesmo assim, vemos que houve compreensão por parte dos eleitores, tanto que nosso votos cresceram praticamente 100% em todos os cargos", aponta. "Mostramos ao eleitora nossa proposta de realizar um governo de frente popular e ele entende", acredita.