Operação da polícia fecha cerco a donos que maltratam animais

O Popular - Cidades, 06/10/2010

Até o fim da semana, Dema vai percorrer 30 pontos levantados em 60 dias de monitoramento

Carla de Oliveira

Operação deflagrada ontem pela Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente (Dema) fechou o cerco contra proprietários de animais, principalmente equinos, submetidos a maus-tratos. Até o fim da manhã, as equipes da especializada visitaram cinco pontos onde podem ser encontrados animais submetidos a serviços, principalmente em carroças e carrinhos de coleta de material reciclável. Três pessoas foram encaminhadas para a Dema e tiveram os animais apreendidos.

A operação, denominada Arca de Noé, está sendo realizada em conjunto com o Batalhão Ambiental da Polícia Militar, Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental da Secretaria Municipal de Goiânia e Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (UFG). A fiscalização em 30 pontos, levantados nos últimos 60 dias pela equipe da Dema, deve continuar até o fim da semana.

No primeiro ponto visitado, na Rua Ipomeia, no Parque Amazônia, a Dema encontrou três animais, um deles apresentava sinais de maus-tratos e estava muito magro. No local, a polícia esperava encontrar mais animais, mas o outro morador, apontado como proprietário de parte dos equinos, não estava com os animais no local.

Sebastião Ferreira dos Santos, de 37 anos, negou que maltratasse o animal, que é alimentado a ração, mas que tem se recusado a comer. Sebastião coleta material reciclável na cidade, tarefa que desempenha há 20 anos. Casado e pai de três filhos, ele afirma que os animais auxiliam no trabalho que sustenta a família e recrimina a falta de cuidado. "Meus cavalos não apanham. Cuido bem deles. Sou contra maus-tratos. Tem de tratar igual filho. A gente vive dele. Se ele morrer, como faz?", questiona.

Ainda no Parque Amazônia a equipe da Operação Arca de Noé encontrou um cavalo solto em um lote baldio. O animal foi recolhido. No Parque São Jorge, em Aparecida de Goiânia, dois homens foram levados para a delegacia para prestar esclarecimentos sobre os cuidados dispensados aos animais.

Uma égua, de propriedade de Wesley Gomes de Miranda, de 22, estava com um dos cascos machucados, sangrando e sem a ferradura em uma das patas, o que não é recomendado. O animal também apresentava ferimentos na boca e pelo corpo, provavelmente em função do arreio e tração.

José Pedro da Silva, de 35, também foi levado para a delegacia. Ele é proprietário de dois animais, ambos em situação precária. Um dos animais estava muito magro e a outra prenha, já perto de parir. Ele garantiu que o animal não está sendo submetido ao trabalho. A égua possui ferradura em apenas uma das patas, o que não é apropriado.

Titular da Dema, o delegado Luziano de Carvalho explica que os animais apreendidos ficaram com seus proprietários, como fiéis depositários, que serão acompanhados por veterinários para verificar o tratamento que está sendo dispensado a eles para que sejam restabelecidos.

Segundo explica, o trabalho da Dema está sendo realizado há 60 dias, quando foram levantados os pontos de concentração de animais. Luziano assinala que um dos pontos fiscalizados está em área nobre da cidade e, além dos animais maltratados, foram flagradas várias infrações contra o meio ambiente, como pocilga em área de preservação ambiental.

Maus-tratos a animais, explica, constitui crime ambiental, punido com detenção de até 1 ano e multa, que varia de R$ 500,00 a R$ 3 mil (punição administrativa). "Conversamos com o órgão administrativo para que a multa não fosse aplicada, em função da situação de pobreza das pessoas", assinala.
O gerente de Monitoramento Ambiental da Amma, Cristiano Martins de Menezes, explicou que o local onde foi encontrada a pocilga já é alvo de processo do órgão. "Era do outro lado. Tiraram de lá e mudaram para cá. Se não retirarem os animais, vamos encaminhá-los para a zoonoses. A fiscalização será imediata. A notifição é para retirada", diz.

Veterinários vão orientar donos

Veterinários da Universidade Federal de Goiás (UFG), Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) e fiscais do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia estão fazendo a avaliação técnica dos animais e repassando orientações aos proprietários, sobre os cuidados adequados para garantir a saúde dos equinos.

Professora da Clínica de Equinos da UFG, Luciana Brandstetter explica que um dos objetivos do trabalho é uma ação educativa. "Muitas vezes o que falta é conhecimento. Essa é uma preocupação da universidade. Queremos levar a informação e ajudar a cuidar", assinala.

Luciana lembra que existe um projeto da UFG de atender e realizar o tratamento clínico dos animais vítimas de maus-tratos. "Não adianta só dizer que está errado se não disser como fazer certo", pondera.

Além de dar apoio à Operação Arca de Noé, agentes da Vigilância em Saúde Ambiental também fizeram busca a possíveis focos de mosquito da dengue. O diretor do Departamento, Geraldo Rosa, lembra que existe uma relação estreita entre os materiais recicláveis e focos da dengue. "Só aqui encontramos três grandes focos", enumera. Quantos aos animais, Geraldo Rosa afirma que a participação é no sentido de dar suporte com técnicos.