A geografia do ensino

 

Para reitor da UFG, ensino a distância é um auxílio indispensável para o acesso à cidadania plena

Gilberto G. Pereira

A Universidade Federal de Goiás completa 50 anos nesta segunda-feira, 13. Como é a maior instituição de ensino do Estado, as comemorações pipocam em vários lugares. Em um deles, há um motivo muito especial para se acenderem novas velas de boas expectativas. É o Centro Integrado de Aprendizagem em Rede (CIAR), recentemente criado pela atual gestão da universidade e responsável pelos cursos de educação a distância (EaD).

O homem mais entusiasmado com o CIAR é o próprio reitor. Segundo Edward Madureira Brasil, a EaD vai ajudar o país a formar professores de qualidade. Exemplo disso é a primeira turma de graduação, que é do curso de Administração, a concluir agora no final do ano. “Tenho absoluta tranquilidade em dizer que os cursos a distância oferecidos pela UFG não devem absolutamente nada aos presenciais”, diz Madureira.

A EaD no Brasil ainda sofre um grande preconceito. A sociedade e até mesmo parte do mercado veem esse tipo de formação com um olhar atravessado, desconfiando da capacidade de se formarem profissionais à distância. “Não tiro a razão das pessoas que têm essa impressão”, diz o reitor. “Afinal, a educação a distância no país se iniciou de forma bastante equivocada e teve uma expansão também muito equivocada”, avalia.

Esse equívoco, analisa Madureira, se deu pela baixa preocupação das instituições privadas que instalaram os primeiros cursos em relação à infraestrutura de logística, de rede física, por não oferecerem aos alunos o apoio dos tutores, nem o apoio dos produtores de conteúdo. “Eram cursos criados em sua maioria (não na totalidade, temos cursos sérios na iniciativa privada) com alunos apenas realizando cursos para obterem um grau.”

A instituição tem de contratar um quadro eficiente de tutores, diz o reitor, e o tutor tem de ter contato direto com o aluno. O professor que elabora os conteúdos também precisam ter esse contato com o aluno nos pólos. “Hoje a UFG está presente em aproximadamente 30 pólos espalhados pelo Estado, onde temos encontros presenciais regularmente com os alunos”, comenta.

Disciplina
A questão dos pólos é importante porque é por meio deles que a instituição consegue criar oportunidades de estudo para alunos das cidades do interior do Estado. Mas quem acha que estudar à distância é uma tarefa fácil, se engana. “A evasão na EaD é muito maior do que na presencial, pela dificuldade que existe em se administrar a liberdade de horários para o estudo”, diz Madureira.

Embora a EaD exista no Brasil há quase um século, e nos países como os Estados Unidos e Canadá já se cultivem uma tradição nesse tipo de ensino, as instituições federais brasileiras começaram a investir nesta área há pouco tempo, só a partir de 2004. E a entrada mais rigorosa se deu em 2007.

Segundo Madureira, quando ele assumiu a reitoria, havia apenas dois cursos em processo de elaboração, o de Física e o de Biologia. Atualmente, são seis cursos de graduação funcionando no CIAR. Além dos três já citados, há também Educação Física, Artes Visuais e Artes Cênicas. A rede é completada por uma série de outros cursos de Especialização e Extensão.

O sistema de avaliação dos cursos a distância é a essência do funcionamento e da credibilidade de suas matrizes. Isso porque é na hora de avaliar que a instituição tem a garantia maior de que o aluno realmente fez sua parte. Mas até lá, a universidade tem de dar a ele todo o suporte. Biologia e Física, por exemplo, não são fáceis, mas os estudantes contam com o apoio pedagógico e com laboratório nos pólos.

“Todas as avaliações são presenciais (estou falando das instituições que fazem educação a distância com seriedade). Nos nossos cursos, quem forma em EaD tem o mesmo diploma, como não poderia deixar de ser, e, seguramente, a mesma qualidade de formação dos presenciais”, avalia o reitor.

Qualidade
O entusiasmo do reitor pela modalidade de ensino a distância é contagiante. Segundo ele, é um tipo de formato democrático e flexível, e ao mesmo tempo exige bastante do aluno. Há encontros presenciais frequentes, com aulas práticas. “É uma modalidade que veio para ficar. A tecnologia é eficiente, e eu tenho certeza de que os cursos são de excelente qualidade”, reforça.

Madureira explica que o funcionamento da instalação dos pólos de EaD se dá por meio de parcerias. Atualmente existem cerca de 30 pólos espalhados pelo Estado de Goiás, em cidades como Águas Lindas, Quirinópolis, Posse, Formosa, Alexânia, Goianésia, Uruana, Porangatu. Escolhendo sempre localidades estratégicas, a rede vai abraçando todo o território goiano.

Para instalar um pólo, a UFG faz parceria com as prefeituras ou a Secretaria Estadual de Educação, que fornecem o espaço físico. A universidade entra com os tutores especializados, o material didático e outras ferramentas, como computadores.

Todos os cursos oferecidos são de formação de professores. E esta é uma das razões pelas quais o reitor se entusiasma com a modalidade, porque o país sofre com um déficit no contingente de profissionais capacitados para dar aulas. “A EaD vai ajudar a formar professores altamente capazes”, diz.

Um curso como o de Física, por exemplo, tem uma importância fundamental no eixo de transformação social e econômica que o Brasil quer criar. Boa parte da economia moderna passa de alguma forma pelo conhecimento de física e de química, principalmente nas áreas que precisam de inovação tecnológica. Além de haver uma escassez crônica de professores de física no país inteiro. Madureira comprou essa ideia e entrou com força no investimento.

Segundo ele, a Universidade Aberta do Brasil, ligada ao CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que por sua vez é vinculada ao Ministério da Educação, tem um grande mérito nesse espaço aberto para o ensino a distância. A EaD já existia dentro do governo federal antes da UAB, mas só começou a funcionar de vez quando esta última foi criada e entrou em ação.

“A EaD passou a ser estruturada de uma forma mais efetiva”, diz o reitor. “Em 2006, participamos do chamado Projeto Piloto da UAB, que foi esse curso de Administração, que agora vai formar a primeira turma na UFG. Quando cheguei à reitoria esse projeto da UAB já ia bem avançado e nossa universidade estava de fora. Consegui abrir um espaço, pegar uma carona e entramos juntos também.”

Dicotomia
De acordo com Madureira, a sociedade e muitos governantes precisam acreditar mais no potencial de desenvolvimento do Brasil. Para tanto, é preciso que se invista cada vez mais na educação, mas esta tem de ser encarada como uma coisa suprapartidária.

Além disso, diz o reitor, é preciso romper com a dicotomia segundo a qual ou se investe em educação básica ou se investe em educação superior. Segundo Madureira, o governo federal nos últimos oito anos vem conseguindo romper com esta dicotomia.

Na opinião do reitor, é fundamental investir na educação como um todo, porque não existe educação básica de qualidade sem educação superior de qualidade. “E a recíproca é muito verdadeira. Aqui na universidade, recebemos o produto da educação básica e aqui mesmo formamos profissionais que vão atuar lá. Ou seja, ambas as pontas precisam receber investimentos pesados”, conclama.

É nesta reivindicação de educação de qualidade e necessidade de professores que o reitor endossa o projeto de ensino a distância. Segundo Madureira, muitas vezes, o prefeito entra em contato reivindicando um Campus da UFG. A resposta é “olha a universidade não vai conseguir pôr um Campus em 246 municípios, nem é esse nosso objetivo.”
Mas, em contrapartida, o reitor sugere a oportunidade de se abrir um pólo de EaD, “por que o senhor não põe um pólo da Universidade Aberta do Brasil? Um pólo da UAB pode receber cursos da UFG, UnB, UEG, ou até da universidade de outro Estado”, argumenta.

Modernidade
Essa modalidade a distância é uma coisa moderna, que funciona bem, continua o reitor. “É uma modalidade que tem garantia de qualidade, sem a necessidade da infraestrutura enorme que a gente tem para construir um Campus.”
Segundo ele, existem projetos de uma possível expansão da universidade em ter Campus no Norte do Estado, no Nordeste e no Entorno. “Aí a gente teria uma cobertura interessante. Mas o a EaD é uma grande aliada”, diz. Segundo ele, o governo federal está com um programa de instalação de pólos em mais ou menos mil municípios brasileiros.

Ou seja, de cada cinco cidades, uma deverá receber o pólo da UAB. O projeto da Universidade Aberta contempla não só as instituições de ensino federais, as públicas estaduais e municipais também. Mas, no caso das primeiras, que são de responsabilidade do governo federal, mais de 90% delas já possuem um núcleo de EaD.

O papel da educação pública básica, explica o reitor, é proporcionar a todos os brasileiros a oportunidade de uma formação adequada. Esta formação tem de ser boa o bastante para dar à pessoa que passou pela educação pública a possibilidade de escolher o seu destino.

Se a pessoa quiser entrar na universidade ou fazer uma formação técnica, ela deverá estar pronta para tal escolha. “Em todo caso, todos precisam ter o mínimo necessário para exercer sua cidadania na plenitude.” Madureira acredita que a EaD tem uma grande contribuição a fazer neste sentido.