Especialista sugere que e-drug possa ter efeito relaxante

Bruno Folli, iG São Paulo | 18/08/2010 13:30

Drogas sonoras são vendidas pela internet sob a promessa de causar efeitos como os de drogas ilegais

As drogas digitais sonoras estão se popularizando e têm despertado a preocupação de especialistas mundo afora. Elas são arquivos de mp3 baixados pela internet e supostamente capazes de produzir alterações na consciência semelhantes aos efeitos de substâncias ilegais como maconha, ecstasy ou LSD.

Ainda não existem estudos que comprovem a eficácia das drogas sonoras, também chamadas de e-drugs. Elas podem ser simples placebos, com efeitos baseados na auto-sujestão de seus usuários.

As e-drugs são baseadas na bineural beats, uma técnica que consiste na reprodução de frequências distintas em cada ouvido. Isso forçaria o cérebro a produzir uma terceira frequência, que iria equilibrar os outros dois estímulos. Ao criar essa terceira frequência, o cérebro desencadearia também sensações parecidas com as de entorpecentes.

Embora a técnica tenha sido descrita em 1839, ela nunca foi comprovada. Todos os estudos feitos até hoje são inconclusivos e, por isso, não há nada que confirme a eficácia das e-drugs – apesar dos inúmeros vídeos postados na internet por usuários delas.
Contudo, a ciência já verificou em diversos estudos que a música é capaz de influenciar comportamentos e pode ser usada até como método terapêutico.

“A música traz benefícios a pacientes com demência. Ela melhora o comportamento e a atenção deles”, afirma a neurologista Sônia Baruque, da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

De acordo com a musicoterapeuta Tereza Raquel Alcântara Silva, da Universidade Federal de Goiás, a música também influencia o sistema límbico, responsável pelas emoções. “Por isso, acho que faz sentido o conceito de uma e-drug, apesar de não haver comprovações”, diz ela.

Muitos internautas, usuários das e-drugs, afirmam que elas potencializam o efeito de outras drogas, como maconha. Também não existem estudos para sustentar ou derrubar essas afirmações, mas a ideia soa plausível para os especialistas. Como a música interage com o estado de humor da pessoa, também poderia interagir com os efeitos de entorpecentes.

Sons repetidos - Tereza já analisou algumas das drogas sonoras e constatou que elas apresentam um som repetitivo, sem dissonância. “O som consonante é previsível, como um jingle de comercial. E isso favorece estados de relaxamento”, afirma. Em oposição a este princípio, sons dissonantes poderiam agir como estimuladores, mas a especialista não chegou a analisar nenhuma e-drug estimuladora.

Esse tipo de música pode ajudar o organismo a liberar serotonina, hormônio que causa bem-estar ao ouvinte. “Não há uma receita certa para isso. A relação entre música e humor é relativa, ela varia de acordo com as preferências da pessoa”, explica.