Refúgio na Marginal Botafogo

sexta-feira, 20 de agosto de 2010, 00:15

Encontrar pássaros das mais diversas espécies meio à agitação da capital goiana não é difícil. As aves se abrigam nos locais mais inusitados, mesmo em ruas e avenidas com tráfego intenso. Os desmatamentos, queimadas e a oferta de alimentos são fatores que, segundo especialistas, ocasionam o movimento migratório e fazem da zona urbana um destino atrativo para os animais.

O zootecnista e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Renato Caparroz, explica que há dois processos: um é o movimento migratório feito por aves da região Sul e Norte, que ocorre em épocas específicas do ano e que é uma ação natural, sem muito impacto para a cidade e o outro, que já é ocasionado por desmatamentos e queimadas no entorno da Capital já implica algumas questões.

“Geralmente são animais que apresentam baixa capacidade de sobrevivência em função do impacto sofrido pela ação humana em seus habitats e não conseguem se adaptar ao ambiente urbano”, coloca. O professor explica, no entanto, que agosto não é um período de migrações intensas, mas segundo dados do Corpo de Bombeiros foram registradas 938 queimadas de vegetação no mês, em Goiás. Ao todo já são 3.327 em 2010.

Renato acrescenta que ao contrário do que possa ser pensado, o acréscimo de pássaros na cidade não significa algo que atrapalhe os que já estão no local. Segundo a avaliação de Renato Caparroz, a pressão é muito maior para o pássaro habituado a viver nas matas e que tem de recorrer às cidades.

As migrações de aves feitas de outras regiões do País ocorrem de acordo com as necessidades. As que vêm do Sul para a região Centro-Oeste procuram se refugiar do inverno rigoroso, já os pássaros oriundos da Floresta Amazônica buscam por alimentos em épocas de seca e vêm para o planalto central em épocas de chuva por aqui.

O cerrado é rico em insetos e pequenos animais que servem de presa para as aves. Entre eles, o cupim, o mosquito, vaga-lume, tanajuras e formigas ajudam a compor a cadeia alimentar em que os pássaros são os predadores. Em épocas de chuva, por exemplo, é natural haver uma revoada de insetos e esse é um dos motivos que atraem as aves da região Norte.

Segundo a Delegacia Estadual de Meio Ambiente (Dema), 33 cidades de Goiás possuem menos de 5% de cobertura vegetal, e Goiânia é uma delas com aproximadamente 3,45% de reserva. “Na Capital, temos apenas fragmentos de mata”, diz o delegado titular Luziano de Carvalho. “Não há mais o que desmatar”. Alguns exemplos são o Bosque dos Buritis, Jardim Botânico e a reserva localizada nas proximidades do Campus 2 da UFG.

Estes são locais frequentados pelo fotógrafo Nunes da Costa, que registra os pássaros da região metropolitana de Goiânia há 10 anos. Especializado em fotografar as aves, ele acompanha há alguns dias a presença de duas araras mãe e três filhotes na Marginal Botafogo.

O fotógrafo acredita que um outro motivo que facilita a vinda de pássaros para a cidade é que hoje já não se vê mais crianças munidas de estilingue atrás de aves por aí. O mesmo fato é citado pelo delegado Luziano. Ele não vê problemas na presença das aves na zona urbana e avalia que existe uma conscientização maior e ressalva: “Sou contra aves vivendo em gaiolas”. (Da Redação)