Crimes colocam estado em evidência
Cejane Pupulin
Na última década que finaliza no próximo dia 31, Goiás chegou aos noticiários nacionais e até mesmo internacionais devido aos casos de violência. Nesses anos foram registrados homicídios passionais com descarte de pedaços do corpo humano, cirurgias que resultaram em morte, pedofilia e até mesmo roubo e troca de crianças em maternidades.
Segundo o professor de sociologia da Universidade Federal de Goiás (UFG) Dijaci David de Oliveira, os crimes desta década continuam os mesmos da passada e não existe forma de controlá-los, como o caso da inglesa esquartejada por Mohamed Ali Carvalho. O subprocurador-geral de justiça para assuntos administrativos, Fernando Viggiano, explica que sempre aconteceram crimes no Estado, mas a facilidade de comunicação causada principalmente pela internet gerou uma maior divulgação e, por consequência, repercussão em todo o País e até no mundo.
O professor complementa que o número de vítimas do pedreiro Adimar Jesus da Silva, em Luziânia, poderia ser menor se a polícia tivesse uma maior percepção e iniciado as investigações logo após o primeiro desaparecimento. “A mentalidade da polícia deve ser mudada, para agir em prevenção e não em investigação”, afirma. Viggiano concorda com a observação do professor e destaca que o serviço de investigação e inteligência ainda deve ser melhorado em Goiás.
Viggiano destaca que nesta década a segurança em Goiás sofreu avanços, mas não pode ser considerada a melhor possível. “Falta ensino e preparo para a lida diária dos policiais, em especial para área de investigação e inteligência”, explica. Viggiano exemplifica com a atual situação do Instituto Médico Legal (IML), que em um caso ou outro há trabalho de uso de DNA.
O professor Dijaci complementa que nos últimos anos percebe-se a implantação em todo o País da polícia comunitária, no Rio de Janeiro denominada de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Mas, para o sociólogo, em Goiás a polícia ainda não trabalha com esse lema. “Antigamente a população carioca tinha medo da polícia, mas agora ela é vista como fonte de apoio e ajuda, o que não é visto em Goiás”, explica. O professor exemplifica que já observou acidentes de trânsito e o policial que estava nas proximidades não ajudou os envolvidos a se entenderem. “Após uma colisão, o condutor fica desorientado e a polícia poderia ajudar a solucionar o problema. A polícia é a autoridade que serve para ajudar nesse caso”, afirma.
Outra visão
A atual secretária de Segurança do Estado de Goiás, Renata Cheim, explicou que a posição geográfica de Goiás faz do Estado rota de passagem de tráfico de drogas e de grandes quadrilhas, o que transforma o Estado em ponto de grande circulação de suspeitos. Ela complementa que em todos os casos de grande repercussão o Estado agiu de forma exemplar. “Não temos mais sequestros e roubos a banco no Estado”, analisa.
A secretária entrou para a Polícia Civil em 2000 e atuou em delegacias do interior e na capital. Ela destaca que nesta década viu a modernização tanto da Polícia Civil e da Militar, além de aumento de efetivo. Diferentemente do professor, Cheim afirma que a polícia está mais focada no trabalho humano. “A Polícia Militar (PM) há algum tempo tem um maior vínculo social com a população, já que o trabalho é voltado direto para a comunidade”, explica.
Casos de repercussão
Cheim destaca que em Goiás, durante esta década, poucos casos de crimes não tiveram solução. Cita o caso de Vilma Martins, que roubou dois bebês em maternidades e a polícia só conseguiu comprovar o crime após exame de DNA feito na ponta de um cigarro jogado pela suspeita. Entre os sem solução ainda está a localização do jovem Murilo Soares Rodrigues, 12, desaparecido desde 2004, e a morte da publicitária Polyanna Arruda, em 2009. Ela explica que aceitou o cargo, há cinco meses, para resolver prioritariamente a morte da publicitária. “Já estamos caminhando para a solução”, afirma.
A secretária explica que a melhoria da investigação e o desenvolvimento da tecnologia na investigação será fruto de um futuro próximo. Ela destaca o aumento do investimento na área de segurança de R$ 606 milhões em 2006, para R$ 1,039 bilhão em 2010.
A visão da população
O professor Dijaci afirma que a população goianiense ainda não vê a polícia como confiável devido a abordagens violentas e até mesmo desaparecimento, como o estudante Murilo, em 2004. O professor afirma que a mentalidade policial local tem paradigmas. “O jovem é visto como irresponsável e que se a investigação pelo desaparecimento iniciar rapidamente será uma perda de tempo”, diz.
O subprocurador complementa que, quando morre algum adolescente, a polícia geralmente divulga que a vítima era usuária de droga. “Mas quem é o dono da boca? Quem mandou a execução?”, questiona. Ela ressalta como muito importante a constatação de grupos de extermínio em Goiás, relacionados com os casos de desaparecidos.
Surgimento do crack
Nesta década também foi notado o surgimento de outras duas drogas: a merla e o crack. De acordo com a secretária de Segurança do Estado de Goiás, Renata Cheim, a merla surgiu no Entorno do Distrito Federal (DF), em 2003 para 2004 e logo foi trocada pelo crack. “A merla matava muito rápido e não teve aceitação em São Paulo e Rio de Janeiro”, diz. O crack entrou no mercado em seguida. “A primeira apreensão da droga foi em 2004”, diz. As duas drogas são subproduto da cocaína.