‘Sisu pode ser a forma de ingresso na UFG’

Entrevista | Edward Madureira Brasil

‘Sisu pode ser a forma de ingresso na UFG’

Cleomar Almeira Daqui a exatas três semanas os estudantes retornam às aulas na Universidade Federal de Goiás (UFG), mas um dos principais desafios da instituição de ensino é preencher as 685 vagas ociosas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o que representa cerca de 63% do total autorizado para essa forma de ingresso. Para tentar atrair mais estudantes, a universidade realiza hoje a primeira chamada da lista de espera do Sisu.A relação considera a nota do candidato obtida no Exame Nacional do Ensino Médio 2011 e a política de ação afirmativa adotada pela UFG de reserva de 10% das vagas para estudantes oriundos de escolas públicas, conforme divulga o edital. As matrículas serão realizadas nos dias 8 e 9 , nos câmpus da universidade em Goiânia, Catalão, Jataí e cidade de Goiás.A baixa demanda de matriculados pelo Sisu levanta curiosidades. Na UFG teve 65 mil inscrições, enquanto o vestibular registrou apenas 34 mil. Apesar desse desnível, o sistema convencional ainda é o que tem mais adesão de matrículas. Ao POPULAR, o reitor Edward Madureira Brasil não descarta a possibilidade de o vestibular ser extinto, em detrimento do Sisu.

É possível comparar o número de inscrições e matrículas via vestibular e Sisu?

A comparação de números de inscritos no Sisu e no vestibular não pode ser feita de forma direta, porque a inscrição no vestibular demanda taxa de inscrição, realização de prova em duas fases, enquanto no Sisu é online, a partir de uma prova, o Enem. Então, é muito simples um candidato se inscrever pelo Sisu. Se compararmos número de matrículas efetivadas pelo Sisu e pelo vestibular, a proporção de estudantes que ingressou pelo vestibular é muito maior que pelo Sisu. Dos inscritos no Sisu e aprovados, bem menos da metade confirmaram suas matrículas. Dos inscritos no vestibular e aprovados, mais de 50% confirmaram suas matrículas.


A que se deve essa diferença entre a quantidade de matriculados e de inscritos?

Deve-se à facilidade de o candidato se inscrever e das múltiplas possibilidades do Sisu. Ele pode se inscrever em duas universidades e, depois, repetir a inscrição em outras chamadas. O que acontece é que, às vezes, a pessoa se inscreve para um curso, aqui, e é aprovada, mas, como ela terá jeito de se inscrever depois, desiste porque não era o curso que queria. Esse fenômeno se repete desde o início do Sisu, em todas as universidades. As que adotaram o sistema antes da UFG convivem com a mesma situação de, nas primeiras chamadas, o número de comparecimento dos candidatos ser abaixo do esperado.

Essa queda verificada entre a quantidade de matriculados e inscritos via Sisu segue uma tendência?

É muito cedo para dizer isso, no caso da UFG. Eu imagino que o número de vagas ociosas, comparando os dois processos, no final de todas as chamadas, é mais ou menos o mesmo. Ou seja, na primeira chamada o comparecimento no Sisu é bem menor. Nas chamadas subsequentes, vai se equiparando ao processo do vestibular. Então, não tem grandes diferenças entre o porcentual final de matriculados nos dois sistemas. Nesse método de adoção gradativa do Sisu, estamos usando 20% neste ano, com uma perspectiva de continuar avançando com percentuais maiores, mas isso ainda cabe uma avaliação.

 

Mas a UFG aposta nesta forma de ingresso?

Sim. O Enem e o Sisu, conjuntamente, estão se consolidando como formas de ingresso nas universidades. Acho natural que elas vão aderir a esse sistema, de forma integral, em um futuro que não dá para dizer se será em dois, três ou quatro anos. Vai depender muito de como o sistema se mostrar confiável. Cada problema que acontece, como vazamento de questões, levanta um questionamento interno sobre a velocidade dessa adesão. Muitas estão adotando somente na primeira fase. Outras como 100% para ingresso. Mas o principal problema, hoje, é a prova do Enem em si, que é alvo de críticas de muitos especialistas.

 

O senhor concorda com quais críticas?

Concordo, em partes, com a questão da regionalidade, que pode ser contemplada pelo Enem. A gente perde com uma prova de questões únicas para o Brasil inteiro, com reflexo direto na formação de etapas anteriores ao ensino superior, que enfocam no regional. A meu ver, a metodologia utilizada no Enem, que é a teoria de resposta ao item, pode contemplar isso. É possível fazer uma prova nacional, no mesmo dia, com questões regionais em cada espaço. Então, precisamos de um diálogo mais aprofundado para aprimorar o modelo. Eu defendo, também, que as universidades federais assumam a aplicação do Enem, em seus respectivos dominíos, o que, certamente, vai trazer um avanço em segurança para todo o processo.

 

Apesar de a adesão a esse sistema de ingresso ser gradativa e necessitar de avaliação prévia dos conselhos da universidade, qual a expectativa da UFG em relação ao fim do vestibular?

Eu estou no meu penúltimo ano de mandato e não acredito que neste ano ou no próximo haja uma substituição completa do vestibular pelo Enem. É possível, após avaliação, que o porcentual de vagas continue avançando. O principal termômetro para nós é o coordenador de curso. Ele quem vai dizer como isso funcionou na chegada dos estudantes. Se o sistema gerar transtornos porque alunos chegaram muito tardiamente, vai ser um questionamento. Por isso, não acredito que nestes dois anos haja a substituição. Depois, a diretriz vai pertencer a quem estiver no comando. Mas o entendimento é de que isso seja absorvido, gradativamente, nos próximos anos, como mostra a tendência nacional. Em algumas universidades temos a notícia de questionamentos sobre a ocupação das vagas predominantemente por pessoas de outros estados.

 

A UFG tem um porcentual disso?

A princípio, em relação ao Sisu, cerca de 75% dos estudantes são oriundos do próprio Estado. O vestibular também é mais ou menos a mesma proporção.

 

Mas o Sisu atrai mais candidatos de outros Estados, não?

A contar dos dados dessa primeira experiência, não. Ele pode até atrair, mas temos um fator que dificulta isso. O ensino médio, em Goiás, é muito forte. Somos, tradicionalmente, exportadores de estudantes para outros Estados. Então, são muito preparados para competir. Mesmo que estudantes de outros Estados queiram entrar aqui, encontram concorrência muito forte.

 

Caiu a quantidade de vagas ociosas na UFG?

É muito cedo para falar, no nosso caso, mas os números do Brasil mostram isso. Todos os anos temos um número de vagas ociosas na UFG de mais ou menos 10%. Então, das 6 mil vagas, cerca de 500 não são preenchidas porque o candidato não atinge os critérios mínimos para ingresso. O número de candidatos é, em geral, na segunda fase, menor que o número de vagas. Com o Sisu, o problema continua. Não foi preenchido mais de 50% das vagas oferecidas pela seleção unificada, mesmo com duas chamadas. Agora, vamos passar a fazer chamadas públicas, para ganhar tempo, porque, senão, chegaremos a um momento em que o semestre já tem mais de 25% e o aluno já entra reprovado.


O que é feito, na prática, para que a evasão diminua a cada ano?

Políticas de assistência estudantil cada vez mais fortes, como restaurante e moradia universitárias e bolsa de estudos. Também contribui o Espaço das Profissões, para que o aluno conheça, diretamente com os universitários da área, a rotina do curso pretendido. Mas muitas causas estão fora do poder da universidade e envolve até questões estruturais.

 

Como estão os planejamentos para a construção dos dois câmpus da UFG - um em Aparecida de Goiânia e outro em Cidade Ocidental - anunciada no ano passado?

Acreditamos que neste ano serão iniciadas as obras. Em 2013 contrataremos os professores e, em 2014, começaremos as aulas. Mas ainda estamos em fase de negociação com o Ministério da Educação sobre o orçamento previsto. Mas cada campus deve ter 90 professores e cerca de 150 funcionários. Há uma tendência de que, em Aparecida de Goiânia, os cursos sejam na área de teconologia, engenharias e, na Cidade Ocidental, na formação de professores. Mas, seguramente, teremos investimentos de R$ 30 a 40 milhões em cada campus. A UFG tem, ainda, um projeto de se fazer presente nas Regiões Norte e Nordeste do Estado.