Sete diretrizes para o transporte

Sete diretrizes para o transporte

Levantamento mostra aumento no número de veículos e redução de passageiros do transporte coletivo

 

Criado em setembro de 2010, o Fórum da Mobilidade, que reúne 30 entidades e órgãos públicos, apresentou ontem um balanço das ações desenvolvidas em mais de um ano de discussão. Sete diretrizes foram apontadas como essenciais para melhorar a mobilidade urbana da região metropolitana de Goiânia, um aglomerado com mais de 2 milhões de habitantes (veja quadro). São ações conhecidas da população, que estão sendo discutidas há décadas sem, no entanto, ser implantadas na prática.

Levantamento realizado pelo grupo mostra que na capital, em 13 anos, o número de automóveis cresceu 79%, o de motocicletas 170% e de veículos com uma única pessoa, 101%. Enquanto isso, houve uma redução de 20 milhões para 16 milhões no montante de passageiros do transporte coletivo. Por outro lado, os investimentos em políticas de transporte público – que estão no centro das diretrizes apresentadas – foram reduzidíssimas.

Mas para o superintendente de Desenvolvimento Urbano e Trânsito da Secretaria Estadual de Cidades, Antenor Pinheiro, a diferença, agora, é que o Brasil dispõe de um marco regulatório – a Política Nacional de Mobilidade, recentemente sancionada pela presidente Dilma Rousseff – que estabelece prazos para implantação de ações e destina recursos para esse fim.

Esta é a mesma avaliação de José Carlos Xavier, o Grafite, presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC). “Há um cenário positivo sinalizando para estes investimentos.” De acordo com Grafite, a implantação de corredores preferenciais de transporte – uma das diretrizes definidas pelo fórum para melhoria da mobilidade – terá avanços este ano. Dos 102 quilômetros previstos, até agora apenas 3 estão sendo de fato implantados, os que fazem parte do Corredor Universitário. Pelo menos outros dois corredores, segundo ele, deverão ser implantados neste ano.

O presidente do Fórum da Mobilidade, Ilézio Inácio Ferreira, considera que a questão da mobilidade urbana nunca foi tratada adequadamente pelas autoridades públicas. Ele defende a implantação de corredores preferenciais para o transporte coletivo – uma das diretrizes apresentadas pelo fórum –, a exemplo do que foi feito em outras grandes cidades do mundo, onde o sistema ganhou 80% de aprovação.

Urbanista e doutora em Transportes, a professora da Universidade Federal de Goiás, Érika Cristine Kneib, colaborou com o Fórum da Mobilidade para definir as ações prioritárias a serem adotadas pelos atuais e futuros gestores públicos e legisladores. Segundo ela, o maior problema de Goiânia é justamente o alto índice de motorização. “As pessoas podem ter o carro, o problema é usar o veículo a todo momento para percorrer pequenas distâncias. Isso leva à imprudência, ao desrespeito à legislação de trânsito, como o uso de calçadas atrapalhando o pedestre. A questão da mobilidade envolve uma série de fatores”, explica. A professora enfatiza que cidades com qualidade de vida restringem o espaço para carros. “Abrir mais vias não é solução. Automóvel e motocicletas são incompatíveis com qualidade de vida”.

Corredores específicos ou preferenciais de ônibus – como os que operam com sistemas como Bus Rapid Sistem (BRS), Bus Rapid Transit (BRT) e Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) – são opções de todas as grandes cidades do mundo que priorizam o transporte coletivo. Os três sistemas estão previstos para ser implantados em Goiânia. Eles foram aprovados pelo Ministério das Cidades e integram o PAC da Mobilidade.

Apesar de Goiânia ter sido uma das cidades pioneiras na apresentação de proposta de VLT para o Eixo Anhanguera, o que ocorreu no mandato do governador Henrique Santillo, em 1987, a ideia nunca saiu do papel, esbarrando sempre na justificativa da falta de recursos.