Catástrofe ambiental, petróleo no mar

Catástrofe ambiental, petróleo no mar

 

Há três mil anos, o petróleo já era utilizado na construção de castelos e em­barcações, na preparação de múmias, na cura de doenças da pele, na iluminação e em outras práticas que viabilizavam o trabalho humano. Por ser matéria-prima de uma extensa variedade de produtos, hoje o petróleo é retirado da natureza em grande escala.
De tempos em tempos a­contecem problemas em relação à derramamento do petróleo no oceano. Os motivos va­riam entre acidentes de navios petroleiros, rompimento de cascos e explosões de plataformas de petróleo. Os impactos ambientais do derramamento de óleo são alastrastes. A man­cha se propaga pelo mar, matando milhares de peixes, aves e corais, além de contaminar a água.
Um dos maiores exemplos de impactos ambientais foi a catástrofe no Golfo do Méxi­co, em 2010. Depois de uma explosão na plataforma, cinco mil barris, com quase 800 mil litros de petróleo, jorraram diariamente no mar do Golfo. A calamidade foi considerada pelo Instituto de Desenvol­vimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), como uma das maiores catástrofes ambi­entais do mundo e a maior dos Estados Unidos.
Tudo porque mais de 1.600 quilômetros de águas foram contaminadas pela mancha de óleo. Diversas praias americanas ficaram em estado crítico, assim como as pescas foram prejudicadas, espécies frágeis acabaram extintas e a indústria petrolífera terminou arrasada economicamente. 
O presidente Barack Oba­ma chamou o vazamento de "um desastre ambiental sem precedentes." Dois anos depois do ocorrido, o derramamento ainda atrapalha a economia e o meio ambiente do planeta. No final de 2010, mais de 400 golfinhos foram encontrados mortos na costa do Golfo, e estudos de instituições ambi­en­tais, à exemplo do Green­peace, comprovaram a suspeita das mortes estarem associadas à catástrofe.
Em relação à economia, a explosão afeta ainda hoje o sul dos Estados Unidos, principalmente a região costeira da Flórida, Mississipi e Alabama. A justificativa se aplica à obstrução das zonas úmidas, se­gundo estudos do Green­peace. A poluição do oceano e a a­mea­ça da vida selvagem marítima e litorânea preocupam os especialistas, apesar dos intentos esforços de recuperação da região afetada.

Nanotecnologia
Logo depois do desastre do Golfo do México, os estudos sobre o vazamento de petróleo se intensificaram. Em Goiânia, por exemplo, existem debates recorrentes ao derramamento do óleo na costa bra­sileira. Em parceria com a Petrobras, o Instituto de Quí­mica (IQ), da Universidade Federal de Goiás (UFG), vem intensificando as pesquisas em nanotecnologia e limpeza do petróleo nos oceanos. 
Segundo o doutor em química analítica em ciências ambientais, Roberto Cardoso Fernandes, a manipulação da matéria na escala nanométrica, as resinas magnéticas têm a capacidade de remover metais em ambientes aquáticos, o que pode ser utilizado no tratamento da água. “As nanopartículas são capazes de remover contaminantes onde não há eficácia de outros processos químicos.”
Há quem defenda que a na­notecnologia, de acordo com Fernandes, é a garantia de que o mundo atingirá, enfim, o desenvolvimento sustentável. “Ao mesmo tempo em que as vantagens dessa tecnologia são nítidas para o meio ambiente, começamos a atentar o impacto das pequenas tecnologias na saúde do ser humano e na natureza.”
Em janeiro deste ano, os estudos recorrentes à limpeza de oceanos foram aprimorados pela descoberta de uma solução eficiente e barata para limpar derramamentos de petróleo. A Vermiculita Expan­dida Magnética, desenvolvida pelo Instituto de Química da UFG, tem o poder de remover o óleo do oceano e depois ser retirado da água com auxilio de imas. 
Fernandes explica que a Vermiculita é um minério composto por alumínio e magnésio, comumente usado na construção civil e na agricultura por ter alto poder de absorção. “Quando o mineral é submetido a altas temperaturas, obtêm-se a Ver­miculita Ex­pan­dida, capaz que extrair óleos, como o petróleo, em ambientes aquáticos, à exemplo de oceanos e lagos de alta profundidade.”
Outro diferencial do projeto é a magnetização do material, podendo ser atraído por imãs, oferecendo uma solução bastante útil em casos de derramamento de petróleo. “O benefício da criação é retirar grandes quantidades de po­luentes sem ser acompanhando pela extração de água.”
O projeto foi patenteado em 2005 pela UFG, em parceria com físicos da Univer­sidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Apesar disso, até hoje não foi desenvolvida em escada comercial. “A pesquisa é de suma importância para todo o mundo. Os estudos com­provam que Goiás está firmemente ativo nas pesquisas e poderá ser, futuramente, referência nacional em projetos ambientais”, afirma o especialista.

Alternativas para os derramamentos

Parecido com a catástrofe ocorrida no Golfo do México, o Brasil enfrentou ano passado, uma de suas maiores calamidades ecológicas. O vazamento de petróleo na Bacia de Campos, Rio de Janeiro, no final do ano passado, comprova mais uma vez que deve-se intensificar os cuidados em relação à retirada em grande escala do óleo. 
Foram mais de 300 barris de petróleo que vazaram todos os dias, durante um mês, nos poço da empresa americana Chevron. Segundo o ambientalista Aristides Sofiati, da Uni­versidade Federal Fluminense, o acidente serve para alertar os riscos da corrida pelo pré-sal. O vazamento provocou uma mancha de 162 km² no mar. 
“O vazamento da área do poço contaminou toda a área. A luta para a limpeza da bacia ainda hoje está sendo visionada. A área vai ficar marcada, independentemente do sucesso dos trabalhos de limpeza. Toda a cadeia alimentar está com­pro­metida”, explica o especialista. 
De acordo com ele, os animais que não morreram em consequência direta do contato com o óleo, estão morrendo de fome. “A procura de alimento em outra área, deixa a região morta. O volume de óleo acumulado na área foi de 882 barris, até 140 mil litros.”

Limpezas 
Em um mundo em que o petróleo é matéria prima para diversos produtos insubstituíveis, o que se pesquisa hoje são formas alternativas para limpeza segura dos oceanos. Sofiari explica que escolher a técnica de contenção e remoção para limpar a mancha é a opção mais usada pelas empresas
“Longas hastes que flutuam na água, sustentadas por boias e que portam uma espécie de saia que pende por sobre a água, contêm o petróleo e impedem que a mancha se espalhe. Isso torna mais fácil remover o óleo da superfície, por meio de barcos com aparelhos de sucção que encaminham o óleo a tanques de contenção”, reitera o especialista. 
Uma mancha de grande proporção, como a do Golfo do México e da Bacia de Cam­pos, pode requerer igualmente o uso de absorventes, que são grandes esponjas que absorvem o petróleo da água. “As equipes de resgate podem a­tear fogo ao óleo, mas isso re­sulta em fumaça tóxica e provavelmente não poderia ser usado em locais próximos a assentamentos populacionais costeiros.”
Muitas vezes, o petróleo derramado em águas tropicais é tratado com dispersantes. Esses produtos químicos promovem dissolução mais rápida do óleo na água. Sofiari explica que os dispersantes podem cau­­sar a fragmentação de uma mancha, permitindo que o petróleo se misture com a água e seja ab­sorvido pelo sistema aquático.
O melhor método para en­frentar manchas de petróleo, de acordo com o ambientalista, é o uso de agentes biológicos. O mecanismo resume-se nos fer­tilizantes, à exemplo de fósforo e o nitrogênio, que são espalhados por uma costa atingida por uma mancha de petróleo. 
“O objetivo é fomentar o crescimento de microorganismos, que promovem a dissolução do petróleo aos seus componentes naturais, tais como ácidos graxos e dióxido de carbono”, diz Sofiari. 


Principais vazamentos de petróleo no mundo

 

Estados Unidos – Louisiana 
* A maré negra que atingiu a costa do estado americano de Louisiana gerou uma catástrofe nacional nos Estados Unidos. Envolveu a embarcação americana Exxon Valdez, em em 24 de março de 1989.

México – Baía de Campeche
* Em 3 de junho de 1979, a plataforma mexicana "Ixtoc 1" se rompeu na Baía de Campeche, no México e derramou 420 mil toneladas de petróleo no mar. A enorme maré negra afetou uma área de mais de 1.600 quilômetros quadrados.

Rússia – Rios Usa e Kolva
* A ruptura de um oleoduto na República Autônoma dos Komi, no norte da Rússia, em agosto de 1994, causou uma catástrofe ambiental de grandes dimensões, com um vazamento de entre 200 mil e 300 mil toneladas de petróleo.

Golfo Pérsico
* Um dos maiores vazamentos de petróleo da história foi provocado pelo Governo do Iraque, que em janeiro de 1991, aonde jogou no Golfo Pérsico mais de 1 milhão de toneladas de óleo dos poços do Kuwait para dificultar o desembarque aliado. 
Estados Unidos – Golfo do México
* Depois de uma explosão na plataforma, em 2010, cinco mil barris, com quase 800 mil litros de petróleo, jorraram diariamente no mar do Golfo do México. Mais de 1.600 quilômetros de águas foram contaminadas pela mancha de óleo. Diversas praias americanas ficaram em estado crítico.