Transporte ruim e monopolizado

Transporte ruim e monopolizado

Passageiros de várias cidades do Sudoeste Goiano, que desejam viajar de ônibus para Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e para São Paulo, têm várias opções na hora de fazer o embarque. Para os dois destinos é possível comprar passagens em diversas empresas: Nacional Expresso, Viação Uberlândia, Motta e Gontijo. Mas, quando se trata de ir para a própria capital do estado, os goianos ficam reféns de uma única concessionária: a Expresso São Luiz, que domina a rota Goiânia-RioVerde-Jataí-Mineiros há várias décadas.
Essa incoerência atende pelo nome de monopólio, quando só uma empresa domina o mercado. Já são anos e anos de exploração do serviço pela  Expresso São Luiz, e a população da capital e do Sudoeste se vê obrigada a conviver com atrasos constantes, desrespeito, atendimento ruim e ônibus sucateados.
Paralelo ao serviço ruim, a concessionária colhe cada vez mais lucros e amplia os braços de atuação de um dos maiores impérios de transporte do Centro-Oeste. Se no início das atividades, a empresa explorava somente as concessões de linhas que ligavam Santa Helena, Rio Verde, Doverlâ­ndia, Iporá e Jataí a Goiânia, em 1956 a companhia deu um salto e passou a fazer a rota interestadual Cuiabá-Brasília, para não muito tempo depois se expandir pela linha Rio Verde-São Paulo.
E o apetite para crescer parece ser cada vez mais voraz. Ao perceber o grande fluxo migratório para o Sudoeste Goiano, a Expresso São Luiz abocanhou linhas para Barreiras (BA), Caruaru e Recife (PE), e Maceió (AL). E não ficou só nisso. Hoje, é possível se aventurar em um dos ônibus da frota, e passar por cidades do Médio e Norte mato-grossense, como Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sinop, Colíder e Alta Floresta. Como se não bastasse toda essa musculatura, o grupo ainda detém 70% da Viação Xavante, que tem base em Barra do Garças, cidade-polo do Vale do Araguaia, na divisa com Goiás.

Sobram reclamações
Devido à qualidade ruim do serviço prestado pela concessionária, várias reclamações já chegaram à ouvidoria da AGR (Agência Goiana de Regula­ção). Os protestos, que não são só contra a Expresso São Luiz, motivaram o  órgão a encomendar, em novembro, um estudo técnico a uma universidade de Brasília para analisar a qualidade do serviço oferecido pelas empresas que operam as linhas de ônibus no estado (Leia o box Como reclamar na AGR nesta página).
O levantamento, que está perto de ser concluído, pretende mapear as regiões onde existe demanda reprimida de passageiros para que mais licitações sejam abertas e haja mais ônibus em circulação nas rodovias goianas. Atualmente, segundo a AGR, todas as linhas no estado são licitadas, mas em casos urgentes e emergenciais, concessionárias podem ser nomeadas para operar no sistema, sem o crivo do processo licitatório.
Enquanto o estudo não é concluído e não são tomadas outras providências, os passageiros agonizam e se viram como podem nas rodoviárias. O caminhoneiro Francisco Correia da Silva Filho, 36 anos, mora em Aparecida de Goiânia.
O caminhão que ele conduzia, em Rio Verde, quebrou na terça-feira, 6. Sem o veículo de trabalho, o jeito foi recorrer ao ônibus para retornar para casa. O motorista teve que esperar das 7 da manhã até as 19h20, já que todas as passagens nos outros horários já tinham sido vendidas.
“Os ônibus estão todos lotados. Essa empresa (Expresso São Luiz) é péssima. Ela não tem transporte adequado. Os funcionários dela são muito mal-educados. Tratam a gente muito mal. Uma cidade do porte de Rio Verde deveria ter empresa que oferecesse um serviço de qualidade”, opina o passageiro. “Um taxista queria me levar até Goiânia por 400 reais”, revela.
Apesar de ainda incipiente, no Sudoeste, alguns motoristas têm operado no transporte clandestino até Goiânia. E alguns cobram praticamente o mesmo valor pago nos guichês.
Para “fugir” da empresa que opera a linha para a capital, alguns passageiros buscam alternativas legais como caronas com parentes e amigos. Esse é caso de dona Marly Rodrigues, moradora do Conjunto Morada do Sol, em Rio Verde. Ela e a família fazem o que podem para escapar do serviço oferecido pela concessionária que detém o monopólio. Vale até dividir o preço da gasolina.
Na última ida ao litoral nordestino, ela e o marido viajaram para Natal. O casal comprou um pacote turístico que deu direito a dois lugares em um ônibus turístico de Rio Verde a Brasília, de onde então seguiram para o Nordeste de avião.  “A gente sempre viaja de carro próprio com amigos ou familiares. Fazemos o possível para fugir da Expresso São Luiz. Eu quase não viajo de ônibus. São Luiz de jeito nenhum”, desdenha.
Para quem precisa fazer o trajeto toda semana até Goiânia o tormento é maior. Esse é o tormento enfrentado pela professora Claudinéia Feitosa, que mora em Jataí, e faz mestrado em educação na UFG (Universi­dade Federal de Goiás), na capital. Toda terça-feira ela viaja e só retorna para casa às quintas.
O ônibus, no qual ela vinha, teve que parar em Rio Verde por causa de um problema. “Parece que o painel molhou, entrou água e está com problema”, relatou ao esperar mais de 30 minutos, quando finalmente o motorista retornou à rodoviária para o embarque.
O atraso frequente é outra deficiência apontada pelos passageiros. Claudinéia conta que em certa ocasião, esperava o ônibus na rodoviária do centro, em Goiânia. O horário previsto para o embarque era às 10 horas. “Saímos quase meio-dia. Cheguei às 17h30 em Jataí. Às vezes, o ônibus quebra”, revela a passageira, que se sente incomodada com o monopólio. “Você fica a mercê de uma empresa. Não há opções”, sentencia ela, que defende a vinda de outra concessionária para operar a linha.
A estudante Lidiceli Pereira Menezes, 19 anos, mora em Mineiros, e costuma viajar regularmente pelo Sudoeste e também para a capital. Na rodoviária de Rio Verde, onde iria embarcar para Acreúna, ela aguardava por um ônibus, meia hora além do horário que constava na passagem. Além da costumeira espera prolongada, a adolescente conta que já houve ocasiões em que foi mal atendida por funcionários da empresa.
A reportagem do Tribuna do Sudoeste entrou em contato por telefone com a sede da Expresso São Luiz, em Goiânia, e chegou a falar com duas funcionárias, mas estas informaram que não estavam autorizadas a responder pela empresa. Uma delas informou que somente o gerente-geral Fabiano Mane poderia comentar as reclamações dos usuários do transporte, mas ele estava em reunião. Até o fechamento desta edição, ele não retornou ao contato.

Avião vira alternativa para quem tem pressa de chegar

Com a correria da vida agitada, o tempo, sem dúvida, se tornou um recurso escasso e precioso para muitos profissionais e homens de negócios. E quem tem pressa e dinheiro para chegar ao destino já ficou cansado de esperar pela melhoria de um serviço de transporte, que é demorado e pouco eficiente, entre Goiânia e Rio Verde.
Empresários, médicos, produtores rurais, advogados e executivos fizeram os cálculos e chegaram à conclusão de que como o tempo é precioso, compensa tirar mais dinheiro do bolso para ter um transporte que possibilite a eles chegarem com mais rapidez ao destino pretendido, mesmo que isso implique pagar um valor quase quatro vezes maior em relação à tarifa cobrada pelo ônibus.
De Goiânia a Rio Verde, uma viagem em ônibus direto dura, em média, três horas e meia. Mas quando o trajeto é feito em veículos que passam pelas rodoviárias de Santo Antônio da Barra, Acreúna e Indiara, o passageiro só vai chegar à capital depois de 4 horas e meia na rodovia. Em comparação, um avião que sai do Aeroporto Municipal General Leite de Castro, em Rio Verde, às 20h40, pousa no Aeroporto Santa Genova, em Goiânia, depois de 30 ou 35 minutos da decolagem.
“Custa quase quatro vezes mais, mas muita gente já percebeu a segurança do voo, a agilidade, o conforto. Muitos empresários passaram a usar o avião. Hoje, as passagens aéreas são mais acessíveis”, confirma Fernando Gui­marães Melo, gestor de segurança operacional do aeroporto de Rio Verde.
Como reclamar na AGR
Além de entrar em contato com a Expresso São Luiz, passageiros que estiverem insatisfeitos com a qualidade do serviço prestado pela empresa podem encaminhar reclamações para a ouvidoria da AGR (Agência Goiana de Regulação).
Mas, antes de registrar a queixa é necessário pegar o máximo de dados, como horário previsto e linha do ônibus, placa do veículo, além do defeito constatado. As informações completas e detalhadas facilitam o trabalho de fiscalização da AGR. Em casos de reclamações constantes sobre ‘quebras’ de veículos, causadas por manutenção inadequada, a concessionária pode até ser multada.

Telefones

* 0800-704-3200 (Esse é o telefone que
consta em ônibus e em terminais rodoviários)
(062) 3201-7551/3201-7552
* Fax: (062) 3201-7578
* E-mail: ouvidoria@agr.go.gov.br
* Endereço: Rua 08 (Rua do lazer),192, Quadra 5, Lote. 30 - Setor Central. Goiânia – Goiás. CEP: 74.013-030

Passagens aéreas
* Voo Goiânia – Rio Verde
* Partida – 7h18
* Chegada – 8h05
* Duração: 47 minutos
* Valor: R$ 116,85 e R$ 256,13*

Voo Rio Verde-Goiânia (de segunda a sexta)  
* Partida: 20h40  
* Chegada – 21h10
* Duração: 30 a 35 minutos
* Valor: a partir de R$ 129,90
* Capacidade do avião: 47 passageiros e 4 tripulantes
* Informações: (064) 3612-3638/ (62) 3265-1500/
03007898747/3003-8747
* Passagens compradas com antecedência apresentam valor menor, conforme simulação no site da companhia aérea    

Ônibus de Rio Verde para Goiânia
* Todos os dias:
1h45 – 7h20 - 10h25- 12h20- 15h e 19h10
* Valor: R$ 37
* Duração da viagem: entre 3h30 e 4h30
* Informações: (064) 3622-1245 e (62) 3272-2300
0800-6464-500
* Sede da Expresso São Luiz: Rua dos Ferroviários,
Chácara 1, Setor Esplanada dos Anicuns, Goiânia