O presidente da discórdia

O presidente da discórdia

A eleição para a presidência da Rússia, no último dia 4, foi mar­cada por polêmicas e protestos. Acusado de fraudar o processo eleitoral, Vladimir Putin, o candidato eleito, terá que enfrentar desafios muito maiores do que os gritos da oposição.
Ele venceu com 63,6% dos votos e, apesar de toda a polêmica em que está envolvido, o professor de Geopolítica da UFG (Universidade Federal de Goiás), Romualdo Pessoa Campos Filho, acredita que a eleição afirmou a liderança do ex-primeiro ministro na Rússia. “A diferença de votos foi muito acentuada. Não se pode afirmar que uma eleição foi forjada num montante de votos desses”, argumenta.
Campos Filho observa que o processo eleitoral livre na Rússia é recente. Começou há apenas 20 anos e que as fraudes podem ser comuns. Na sua opinião, as críticas em relação a Putin estão ancoradas no interesse de fragilizar o governo e que esse deve ser o primeiro desafio a ser vencido pelo novo presidente. “Eles querem que a imagem dele seja a de um governo fraco, pois a Rússia exerce um protagonismo, principalmente entre o Brics e o G20. As últimas posições da Rússia impedindo a invasão da Síria, que poderia alterar a geopolítica da região e inclusive possibilitar a invasão do Irã, cria um embate geopolítico”, alerta o professor.

Desgaste
Posição semelhante tem a professora de Política Internacional da PUC-GO, Maria Aparecida Guimarães Skorupski. Para ela, o percentual de votos legitima o novo presidente, mas as críticas a ele se devem a outro motivo. “O Putin esteve muito tempo no poder e a falta de alternância gera desgaste político”, considera.
Putin governou a Rússia durante oito anos (de 2000 a 2008). Com uma política mais fechada, contrastando com a de seu antecessor, Bóris Yeltsin, ele retomou o crescimento da economia e ganhou a simpatia da população.
Em 2008, ajudou o colega de partido, Dimitri Medvedev, a se eleger presidente, o que resultou em sua nomeação como primeiro-ministro. No mesmo ano foi aprovado um projeto que estendeu o período de mandato do presidente de 4 para 6 anos e dos deputados, de 4 para 5 anos.
Embora a manutenção do poder do Partido Único, representado por Putin, assuste o ideal de democracia dos ocidentais, não há motivo para alarde, afirma Campos Filho. “Se a população rus­sa vota na manutenção é porque no horizonte dela ele é o melhor candidato. A­lém disso, os russos viram necessidade de escolher um candidato forte que não fosse submisso ao Ocidente. Essa é uma característica muito forte na Rússia; esse sentimento nacionalista é histórico ali”, explica.
Além de conseguir reconhecimento e até a legitimidade de seu governo perante o sistema internacional, o novo presidente russo terá outros desafios pela frente. “Primeiro ele deve remontar um projeto de desenvolvimento do país. A Rússia ainda tem uma dívida social interna muito grande e ele vai ter que responder por isso”, ressalta a professora Maria Aparecida.

Sempre no poder

1975
* Ingressa como agente na KGB, a polícia secreta russa. Lá permanece por  15 anos, tornando-se diretor para assuntos internos da organização

1994
* Torna-se vice-prefeito de São Petesburgo


1996
* Assume o cargo de diretor de políticas externas no governo de Bóris Yeltsin


1998
* É nome­ado di­retor do Serviço Federal de Segurança
da Federação Russa

1999
*  Indicado como secretário do Conselho de Segurança e, em seguida, primeiro ministro da Rússia


1999
* Como o presidente Boris Yeltsin renunciou em dezembro do mesmo ano, Putin assume a presidência

2000
* É eleito com 53% dos votos presidente da Federação Russa


2004
* Reeleito com 71,9% dos votos

2007
* Não podendo reeleger-se novamente, indica o candidato do seu partido, Dimitri Medvedev, à presidência


2008
* Com Medvedev no poder, Putin é novamente nomeado primeiro ministro

2008
* Em dezembro, Medvedev aprova um projeto, proposto por ele um ano antes, que prevê a ampliação dos mandatos presidencial, de 4 para 6 anos


2012
* No dia 4 de março, Putin retorna à presidência com 63,6% dos votos