Uma mão lava a outra!

Uma mão lava a outra!

Fazer o bem ao próximo é também fazer o bem a si mesmo. Essa é a premissa básica do trabalho voluntário que, segundo os especialistas em comportamento, desempenha um papel muito importante na formação humana, moral e ética das crianças e jovens.
Mas diante dos tantos apelos tecnológicos de hoje, como estimular o interesse das futuras gerações pelo voluntariado? Na opinião de quem já tem experiência na área, quanto mais cedo se inicia esse envolvimento, mais ela se tornará uma prática.
E mais: a escola pode ser grande precursora disso. É o caso da jornalista Janda Nayara, 24 anos. Ela conta que desde os 8 anos de idade participa de trabalhos voluntários. “Minha mãe me levava para as ações na igreja, ajudando famílias carentes, montando cestas em datas comemorativas etc”, conta.
Hoje, Janda é a doutora Docinho do grupo Medicócegas, que todos os sábados leva alegria às crianças que passam por tratamento de câncer no Hospital Araújo Jorge. O grupo foi criado há 12 anos e  leva essa “brincadeira” muito a sério.
Para ela, o fato de ter começado ainda na infância foi determinante para suas escolhas no futuro. “Estudei no Colégio Sesi de Campinas e lá eles incentivam o voluntariado. Entrei no Medicócegas por intermédio de uma professora, que era mãe de uma das fundadoras do projeto”, lembra.
Hoje, após 7 anos na trupe, ela sabe que a orientação escolar foi fundamental para sua formação. “Eu sempre fiz várias atividades, mas queria algo que, de fato, me identificasse. E na escola me mostraram isso; que é preciso fazer algo, mas sempre de forma prazerosa”.
Janda aprendeu essa lição ao participar do projeto Paz, Voluntariado e Cidadania, desenvolvido há 12 anos pelo Sesi de Campinas como forma de estimular as práticas sociais entre os alunos.
Wilma Botelho, coordenadora pedagógica da escola e fundadora do projeto, explica que a proposta é fazer com que os jovens conheçam a realidade fora da sala de aula. “Queremos mostrar para eles que existe um mundo diferente e real lá fora e que, enquanto pessoas, é possível fazer algo para melhorar essa realidade”, pondera.

Formação ética e social
A coordenadora afirma que a iniciativa acontece o ano todo. Primeiro, os professores são levados a conhecer as instituições filantrópicas parceiras do colégio, depois os educadores planejam, em parceria com os alunos, o trabalho que será realizado.
“São visitas e serviços de apoio durante o ano e, no encerramento, promovemos uma grande campanha de arrecadação de alimentos”, destaca ela. Na sua opinião, todos os alunos que atuam no projeto, que inclui do 6° ano do Ensino Fundamental ao Ensino Médio, participam e acabam levando uma sementinha para a vida adulta.
“Tenho uma aluna que fez faculdade de Direito, mas que continua com o voluntariado, trabalhando dentro da sua formação de forma filantrópica uma vez por semana”, revela. A exemplo do Sesi de Campinas, a atividade voluntária, quando é exercida de forma educativa e voltada para a formação ética e social dos adolescentes, acaba se encaixando no chamado Voluntariado Educativo.
Sílvia Maria Louzã Naccache, coordenadora do Centro de Voluntariado em São Paulo (CVSP), comenta que o voluntariado educativo tem como meta promover a aprendizagem, preparando o aluno para a vida e para o mercado de trabalho, além de também melhorar a qualidade de vida da comunidade beneficiada.
Para incentivar essas ações educacionais, ela cita o Instituto Faça Parte. “É um projeto nosso que nasceu 2001 com a missão de promover a cultura do voluntariado e estimular a participação da juventude como parte ativa da construção de uma nação socialmente mais justa”, pontua.
O projeto reconhece e divulga ações que tenham como foco a formação ética e profissional do aluno e da comunidade. “É função da escola preparar o jovem para a vida de forma a mostrar que ele possui poder de ação perante a sociedade”, destaca Wilma.

Identificação
Para o professor de Psicologia Social da Universidade Federal de Goiás (UFG), Fernando Lacerda, a adolescência é um período que prepara o indivíduo para a vida adulta e, portanto, a participação dos jovens em projetos e ações de voluntariado é muito importante. “É nessa fase que a pessoa começa a pensar no seu papel social e busca formas de ter uma intervenção sobre a realidade”, ressalta.
Lacerda confirma que a realização de atividades filantrópicas oferece ao jovem uma nova visão da sociedade e seus problemas, mas é preciso ficar atento à outras questões. Segundo ele, a maior preocupação é que, ao mesmo tempo em que o terceiro setor se fortalece, diminui a intervenção do Estado.
“As pessoas podem agir, mas sem se esquecer de que as grandes mudanças vem com atuação política”. O professor destaca que é preciso ter muito cuidado em delegar às organizações não-governamentais todas as formas possíveis de se fazer filantropia.
Para ele, é fundamental que o jovem tenha consciência de que pode atuar perante os problemas sociais de diversas maneiras. “O voluntariado é apenas uma das muitas possibilidades”, completa.

Entidades religiosas ainda são referencial

Enquanto a maioria das instituições educacionais ainda não investe no voluntariado como forma de contribuir para a formação humana e moral de seus alunos, as organizações religiosas tomam a dianteira e atraem um número cada vez maior de crianças e adolescentes.
Na Igreja Católica, eles se reúnem em torno da Pastoral da Juventude. Dentro da comunidade espírita, as ações se centram na Mocidade. Outro movimento religioso que realiza um trabalho engajado é a Seicho no Iê.
A filosofia fundada por Masaharu Taniguchi há 82 anos no Japão que prega o amor ao próximo e o respeito à natureza não poderia deixar o voluntariado de fora. E foi justamente no contato estabelecido na igreja que a estudante Pollyane Chiba dos Santos, 19, descobriu o quanto é bom ajudar o outro.
“Para mim, é uma coisa natural, pois desde os 10 anos participo de ati­vi­dades filantrópicas”, acrescenta ela. Mesmo ocupada com a Facu­lda­de de Design, ela passa toda a ta­rde de quinta-feira  no Crer (Ce­ntro de Re­a­bi­litação e Readap­tação Dr. He­nrique Santillo).
Lá ela ajuda os pacientes por meio da Artete­rapia. “Tratar bem as pessoas, ajudar um amigo próximo... tudo isso já significa mu­ito para alguém. Agora, se a pessoa puder ir até um hospital e doar o seu tempo, melhor ainda! O trabalho voluntário tem que ser para você mesmo e não para sair mostrando para os outros”, argumenta.

Saiba mais...

Para quem tem interesse em participar de ações ou projetos de voluntariado, o primeiro contato pode ser feito por meio do Centro Goiano de Voluntários (CGV), que recebe, capacita e encaminha as pessoas para as instituições e entidades filantrópicas de Goiás.
“Qualquer pessoa, em qualquer idade, pode se cadastrar. A única exigência é o comprometimento. O indivíduo precisa estar realmente disponível para ajudar o próximo”, explica Helca de Sousa Nascimento, coordenadora técnica da Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), responsável pelo CGV. Para mais informações, os telefones são (62) 3201-9444 e 3201-9486.