Falta de manutenção gera buracos

Falta de manutenção gera buracos

Especialista afirma que operações do tipo tapa-buracos são apenas paliativas
 

A falta de manutenção do asfalto de Goiânia faz os buracos surgirem com frequência nas ruas da capital. Essa é a constatação da professora de engenharia civil da Universidade Federal de Goiás (UFG) Lilian Ribeiro de Rezende. O asfalto tem, em média, vida útil de 15 anos. “Com o tempo, ele entra em deterioração, por isso é importante existir a gestão das vias urbanas. Teria de investir em manutenção preventiva. A operação tapa-buraco é emergencial.” 

 

A especialista valoriza um trabalho que, atualmente, a Prefeitura de Goiânia não prioriza. Devido a alta demanda enfrentada pela Agência Municipal de Obras (Amob) na recuperação de buracos, o órgão não trabalha no sentido de prevenir novas danificações que surgem em um asfalto que possui, em sua maioria, pelo menos 30 anos. “Não conseguimos fazer o trabalho preventivo”, afirmou o diretor de operações da Amob, Gustavo Zanelati.


Lilian, que é doutora em geotécnica, explica que o trabalho de prevenção consiste em uma avaliação periódica do asfalto. “Quando surgir qualquer defeito, por exemplo, uma trinca ou afundamento mínimo que seja, a equipe já avisaria o gestor, que adotaria soluções técnicas para corrigir o defeito”, explica a especialista. Ela afirma que o buraco é o estágio mais avançado de uma danificação e também esclarece que não existe uma fórmula única para um asfalto de qualidade. “O asfalto é agregado de brita zero, brita em areia e ligante asfáltico”, informa.


A engenheira defende, por isso, que a abordagem de manutenção deve ser correta. “A porcentagem de cada material vai variar de acordar com o clima e o tráfego do local.” Existe ainda um produto, chamado polinero, que torna o material mais durável, segundo ela. O material é recomendado para vias de trânsito intenso, como, por exemplo, em corredores de ônibus. “Mas eleva os custos.” 
A especialista destaca a maneira como a operação tapa-buracos é feita. “Se você tampar de maneira inadequada, mesmo que seja utilizado o melhor material, ele vai abrir de novo.” Ela explica que a terra do fundo da cratera interfere na durabilidade do novo asfalto que será lançado. “Às vezes é necessário fazer um remendo profundo para obter um melhor resultado”, conta Lilian.

70 reclamações
Para quem trafega diariamente pelas ruas e avenidas de Goiânia a sensação é de que o asfalto da cidade está tomado de buracos, que representam riscos constantes aos motoristas. A percepção da maioria dos condutores não está longe da realidade. Por dia, pelo menos 350 crateras são tampadas pela Amob. O resultado do surgimento das constantes danificações é a insatisfação da população, que vê seus veículos danificados, o tempo de percurso prolongado e o risco de acidentes expandido. Os mais insatisfeitos utilizam o telefone 156, da Prefeitura de Goiânia, para reclamar de problemas pontuais. Todos os dias o atendimento ao cidadão recebe 70 reclamações de goianienses, referentes ao assunto. 
O trabalho da Amob em relação ao asfalto é voltado para atender as solicitações da população, principalmente nas vias de grande fluxo de veículos. Segundo informou o diretor de operações do órgão, Gustavo Zanelati, as 14 equipes que trabalham na operação tapa-buracos executam apenas o serviço de recuperação. “As equipes da Amob são compostas por seis funcionários braçais.” Ele afirma que o trabalho é voltado apenas para o buraco na via. “Em segundo plano trabalhamos com recapeamento.”

Trabalho
Na manhã de ontem, o trabalho de tapa-buracos ocorreu no setor Bueno, com destaque para a Avenida T-4, Parque Atheneu, Jardim Maria Elisia e Chácara do Governador. Na T-4, os moradores chegaram a improvisar uma sinalização no grande buraco formado no final da avenida, que lá estava desde o último final de semana. Segundo os moradores, um motociclista quase foi atropelado por um carro durante o feriado, após ter batido com a moto no buraco e caído ao chão. O carro estava em alta velocidade, mas conseguiu frear antes de acertar o condutor da moto.


Hoje a operação da Amob vai atender a região de Campinas e do Setor Aeroporto, que também apresentam grandes buracos. Na maioria dos locais indicados os motoristas precisam desviar das crateras, reduzindo a velocidade e fazendo manobras perigosas que colocam em risco desde o próprio motorista até os pedestres e outros veículos estacionados.
O serviço de tapa-buracos realizado pela Amob perdeu agilidade também após o Ministério Público Estadual constatar irregularidades em quatro caminhões da EcoTech Engenharia que realizavam o trabalho com tecnologia avançada. Os caminhões lançavam jatos de spray compostos por pneus triturados, britas e emulsão asfáltica.


Gustavo Zenalti acredita que o trabalho seria mais eficiente se houvesse prevenção. “Grande parte do asfalto de Goiânia tem mais de três décadas. A partir dos 20 anos o asfalto já começa a apresentar defeitos.” Ele também destaca que a oscilação de temperatura também influencia significativamente na preservação da capa asfáltica.
A recomendação do Mistério Público ocorreu pelo promotor de Justiça do Centro de Apoio Operacional do Patrimônio Público, Fernando Krebs, após a instauração de inquérito civil público para apurar denúncia sobre ilegalidades na locação dos caminhões ao custo de R$ 18 milhões pelo período de 12 meses. A denúncia levou o MP a formular uma representação no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) em desfavor ao contrato com a EcoTech.