Por todos os lados

Por todos os lados

O coração de Goiânia bate no centro da ci­dade. As ruas mo­vi­mentadas, os bancos lotados, lojas cheias e o caótico eixão passando de um lado para o outro, como se fosse uma locomotiva maquiada. Caminhar por dez minutos na Avenida Anhanguera é uma tarefa que requer pulmão. A fumaça dos carros e dos ônibus paira no ar. De vez em qua­ndo a chuva desce para aliviar, mas isso é só às vezes.
Mas, para aqueles que achavam que a poluição na capital era restrita apenas a regiões mais centrais da cidade, doce engano. De acordo com a professora do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), da Universidade Fe­deral de Goiânia (UFG), Juliana Ramalho, novos resultados sobre a poluição do ar em Goiânia demonstram que não houve um aumento significativo, mas sim uma expansão do ponto de vista espacial dos índices de poluição.
Se antes a poluição era concentrada nas chamadas ilha de calor, fenômeno climático que ocorre em regiões com elevado grau de urbanização, agora não são apenas setores como o Centro, Oe­ste, Aeroporto, Marista e Bueno que registram maiores níveis poluentes. “Próximo ao campus da UFG, de Apa­recida de Goiânia e também setores mais afastados já apresentam índices semelhantes a essas regiões mais centrais”, diz a professora.
Segundo Juliana, essa expansão é extremamente co­m­plicada.  A professora as­si­­na­la que é difícil medir a qualidade do ar em Goiânia, pois faltam aparelhos e profissionais responsáveis por essa função. Portanto, verificar o nível nessas outras regiões parece ainda mais improvável.

Coleta
A visão de especialistas da área é que o número de medidores em Goiânia é insuficiente. São apenas dois pontos de coleta de dados de verificação do ar. Um se encontra na Praça Cívica e o outro se localiza no Terminal das Bandeiras, no setor Jardim Europa. Este último foi recentemente reativado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH).
Mesmo com toda essa carência, Juliana avalia como produtiva a parceria entre o Iesa e a SEMARH. Para ela, faltava esse diálogo entre a pesquisa e os órgãos ambientais responsáveis . A SEMARH é a responsável pela manutenção e coleta do material dos filtros. Após isso, todos os dados são repassados  para pesquisa.
Outra parceria entre a SEMARH e a UFG é a produção de fascículos educativos, que estão sendo elaborados por professores da universidade, e  que serão distribuídos para professores da rede pública. O intuito é despertar a conscientização dos alunos por meio do material que será trabalhado em sala de aula.
Os medidores aferem o material particulado, ou seja, o nível de partículas em relação a um determinado volume de ar. A retirada dos filtros nos pontos de coleta é trimestral e bastante minuciosa. Elementos como gás carbônico, enxofre, poeira, ozônio e até mesmo chumbo já foram encontrados no ar da capital.
Para o Gerente de Monito­ramento Ambiental da Agê­n­cia Municipal de Meio Ambi­ente (AMMA), Ramiro Cristi­ano Menezes, os pontos de coleta fixos não contribuem de forma significativa para a medição da qualidade do ar na cidade.
Foi pensando nisso que o Gerente da AMMA apresentou um programa de sistema de monitoramento flexível. O investimento do projeto é de R$1,6 milhão, o que para ele dificulta a aprovação imediata do programa.
“Com o monitoramento flexível poderíamos identificar em diferentes regiões da cidade a qualidade do ar e assim fiscalizar. Já aconteceu de ter vazamento de amônia próximo ao Campus da UFG. Tivemos de isolar a área para resolver o problema”, relata Menezes. Para ele, isso demo­nstra o quanto é necessário que os órgãos competentes realizem esse controle da emissão de poluentes.
Para o Gerente da AMMA, outro ponto importante é a troca de motores convencionais por motores elétricos. De acordo com Menezes, essa substituição tem sido feita na frota de ônibus da capital, o que diminui bastante o nível de poluição nas regiões de trânsito constante dos ônibus.
Menezes ainda afirma que a frota de carros de Goiânia é muito nova, o que é um ponto positivo no quesito emissão de poluentes. Afinal, quanto mais novos os carros, menor o nível de poluição deles.

Soluções
A situação por aqui não é tão alarmante quanto em São Paulo, onde a preocupação com a qualidade do ar já se tornou uma questão de saúde pública, como cita Juliana.  Mas, para ela, o momento é de prevenção. O trabalho realizado na universidade requer diálogo com o poder público, o setor privado e ao mesmo tempo com a sociedade.
“A nossa ideia é montar uma rede, e que ela se amplie. É preciso investir no transporte coletivo e alternativo, em novos corredores de circulação e até mesmo, numa instância maior, na qualidade do combustível que utilizamos”, declara a professora.
Segundo Juliana, investir no transporte coletivo seria uma das medidas mais rápidas, assim como tirar do papel os 140 quilômetros de ciclovias do Plano Diretor de Goiânia. Outro fator negativo apontado pelo Gerente de Monito­ra­mento da AMMA é o da au­sência de um plano de controle de poluição veicular. Menezes afirma que todo veículo deveria passar por essa inspeção no momento do licenciamento no Departamento de Trânsito do Estado de Goiás.

A responsabilidade é de quem?

De um lado o Departa­me­nto de Trânsito do Estado de Goiás (DETRAN-GO), do outro a Agência Municipal de Trânsito (AMT). A única coisa que os dois têm em comum é que nenhum deles assume a responsabilidade de monitorar a emissão de poluentes da frota veicular da capital.
Quem garante que essa responsabilidade não é da AMT é o Diretor de Fiscalização de Trânsito, Vicente José de Mendonça Júnior. “Não fazemos porque não é da nossa competência, e não seria justo com o município que assumíssemos mais essa função”, diz.
Para o diretor de fiscalização da AMT, o órgão poderia contribuir de forma esporádica, em regime de cooperação junto à AMMA, na realização de blitz de medição de emissão de poluentes em veículos que transitam nas ruas, embora, de acordo com o diretor, a AMT não possua os equipamentos necessários para realizar essa função.
De acordo com o Código Brasileiro de Trânsito no artigo 24, inciso XX, a responsabilidade de fiscalizar o nível de emissão de poluentes dos veículos é de competência municipal. Ou seja, a lei parece desbancar a máxima que a AMT não possui encargos em relação a esse dilema.
Quando questionado sobre o assunto, o Diretor de Operações do DETRAN-GO, Coronel Sebastião Vaz, afirmou que essa questão tem que ser compartilhada. Tanto o município quanto o estado têm responsabilidades a cumprir. O Coronel assumiu que, na prática, nada está sendo feito.
A inspeção veicular que ficaria a cargo do DETRAN-GO, no momento de licenciamento dos veículos, ainda não saiu do papel. “Essa não é uma gestão apenas de órgãos de trânsito, por isso estamos discutindo com a SEMARH e criando projetos para resolver essa situação”, concluiu o Coronel Vaz.  
A gerência de comunicação da SEMARH confirmou que de fato existe um projeto em parceria com o DETRAN-GO, o chamado Plano de Controle de Poluição Veicular (PCPV), só que esse projeto ainda está em fase de elaboração e que ele ainda tem um longo caminho a percorrer até de fato entrar em vigor.
Enquanto a maior parte das capitais do país já possui esse Plano de Controle de Poluição Veicular, Goiás fica para traz mais uma vez. Com tanto empurra-empurra fica difícil saber de quem é a responsabilidade.

Saúde
Goiânia conta hoje com uma frota de 1.030.796 veículos. O número impressiona. Afinal, a população é de 1.318.148 pessoas, de acordo com a estimativa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2011. Quase um carro para cada habitante.
Imagine respirar toda essa fumaça diariamente. Esse é um dos grandes problemas que o goianiense tem enfrentado no dia a dia. Quanto mais o ar estiver poluído, maiores são os riscos à saúde da população em decorrência das inúmeras doenças causadas pelo excesso de gases tóxicos na atmosfera.
O médico Maik Moura Borges confirma que a poluição do ar pode causar doenças respiratórias, câncer de pulmão, doenças coronárias e também aumentar o número de partos prematuros.
Mas o médico alerta que existem ações individuais que poderiam diminuir os danos da poluição.  (Veja o quadro)

Prevenção contra os males do ar


* Evite o centro da cidade em horários movimentados, procurar horários alternativos para circular no trânsito, minimizando a permanência nos corredores de tráfego
* Se mantenha hidratado, beber água é fundamental
* Quando o tempo estiver seco e úmido, faça uso de soro fisiológico no nariz
* Praticar exercício físico melhora as defesas contra a poluição
* Comer frutas e alimentos com betacaroteno e vitamina E
* Estudos mostram que uma dieta rica em antioxidantes naturais ajuda a ter uma saúde melhor