Diplomado pelo computador

Quase 15% do total de matrículas de graduação do país são feitas em cursos de ensino à distância. O dado é do Censo da Educação Superior de 2010, divulgado no final do ano passado. Segundo o estudo, desde 2000, quando passou a ser analisada, essa modalidade de ensino vem crescendo no país. Informações divulgadas pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), comprovam isso: só em 2010 foram mais de 900 mil matrículas.
Para a coordenadora do grupo gestor de Educação à Distância da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Vera Nisaka Solferini, são muitas as justificativas para o crescimento do ensino à distância no Brasil. A popularização da internet e as facilidades tecnológicas são as principais. “Hoje em dia estar conectado é o mais importante e as pessoas estão conectadas de várias maneiras.”
Como já há acesso à internet rápida em quase todo o país, essa conexão não precisa ser presencial. A praticidade é outro fator importante. “É mais prático para uma pessoa que já está no mercado tanto complementar a sua formação quanto adquirir uma nova”, avalia.
Vera lembra que hoje já não é mais preciso que o estudante se desloque de sua cidade para frequentar um centro de excelência e ter uma boa formação. Assim, o ensino à distância se tornou uma solução para quem não tinha condições de cursar uma universidade.
Este era o caso de Modesto Batista Borges. Graduado em Gestão de Recursos Humanos pela Universidade Estácio de Sá, ele cita que os cursos não-presenciais são uma boa opção para quem trabalha o dia todo e precisa organizar o tempo para estudar.
Sua estreia no ensino à distância não foi na graduação, mas em cursos técnicos. Antes de ingressar no Ensino Superior, Borges fez vários cursos de capacitação à distância, sendo quatro deles pela UnB (Universidade de Brasília).
O passo seguinte foi a graduação e agora ele faz pós-graduação nas Faculdades Integradas de Jacarepaguá, também à distância. Fácil? Nem tanto! Borges explica que ter disciplina é um requisito básico. “É diferente porque é você quem faz seus horários de estudos. Se você não adequar seu tempo, não estudará, e com isso terá problemas e corre até o risco de ser reprovado”, destaca ele.

Flexibilidade
Por outro lado, o ensino à distância garante a flexibilidade de horários, o que é considerado uma grande vantagem. “As aulas são gravadas; então você pode revê-las. Elas ficam disponíveis para o aluno, que ainda pode contar com uma biblioteca virtual.”
Mas a diferença acaba aí! Na opinião de Borges, não existe desencontro entre os cursos presenciais e à distância em relação aos conteúdos. E no caso dos não-presenciais, segundo ele, há ainda a vantagem do contato mais constante com o tutor. Algo que, muitas vezes, as aulas presenciais não proporcionam. “Há muito mais acesso à assistência”, enfatiza o estudante.
Ao contrário de Borges, o aluno do curso de licenciatura e bacharelado à distância em Letras/Libras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Thiago Cardoso Aguiar, não vivencia esse contato tão próximo com o professor.
Por isso, conforme ele, não é sempre que dá para tirar todas as dúvidas. “Às vezes temos que procurar em outros meios”, ressalta, acrescentando que isso, no entanto, é mais positivo do que negativo porque “estimula a autonomia do aluno.”
Se antes a educação à distância era vista com descaso pela sociedade, hoje o cenário é outro. Tanto assim que os diplomas já nem especificam mais se o curso foi feito presencialmente ou pela internet, conforme destaca Borges.
Mas nem todo mundo pensa assim. Aguiar diz que ainda sente um certo preconceito nas pessoas quando fala que faz um curso superior à distância. “Essa modalidade ainda não é bem vista. Muitas vezes parece que as aulas não-presenciais é para quem não quer estudar direito.”
Para a maioria dos alunos à distância, entretanto, esse pensamento não expressa a realidade. “Tem gente que empurra com a barriga, mas isso também acontece com os cursos presenciais.” Vera concorda com Aguiar sobre a questão do preconceito.
Ela afirma que ainda existem pessoas que acreditam que a modalidade vai sucatear o ensino. “Acham que a qualidade é pior. E é lógico que tem cursos com baixa qualidade, assim como acontece com os presenciais.”
Para ela, a visão distorcida se dá principalmente por desconhecimento. E, ao contrário do que muitos pensam, o estudante Aguiar enfatiza que, normalmente, o curso à distância é muito mais difícil porque exige uma dedicação maior.
Ele lembra que escolheu essa modalidade por falta de opção, já que a UFSC foi a primeira instituição de Ensino Superior do país a oferecer o curso à distância. Quanto à qualidade, ele não tem do que reclamar.
No seu caso, inclusive, já há bons resultados: antes de terminar o curso, ele foi aprovado para o mestrado em Linguística da Universidade Federal de Goiás (UFG). E já está cursando a pós. Na avaliação de Aguiar, no ensino à distância não há dificuldade nem mesmo quando o assunto é o relacionamento com os colegas. Ele explica que são feitos trabalhos em grupo e que há troca de experiências entre alunos de diferentes estados. “Tenho colegas do Tocantis e de Minas Gerais, com quem tenho mais contato do que com os amigos que moram por aqui. A plataforma proporciona isso;  e é um contato legal, que acrescenta.”

Futuro: ensino conectado

Hoje fala-se muito em educação à distância, mas o futuro pode apontar para um caminho bem diferente. “As pessoas estão cada vez mais familiarizadas com a interação não-presencial”, destaca a coordenadora do grupo gestor de Educação à Distância da Unicamp, Vera Nisaka Solferini.
Por isso, tantas iniciativas nesse sentido estão emergindo. Ela explica que na Unicamp são oferecidos apenas cursos de pós-graduação à distância, mas que, nos cursos de graduação, o uso de tecnologias nas diferentes disciplinas é muito incentivado.
“Hoje ainda dá para separar. Mas daqui algum tempo, será difícil separar o que é presencial do que não é.” Como assim? Ela explica: “ Antes, falávamos com as pessoas presencialmente. Hoje as pessoas estão mais conectadas e, por diversas maneiras, seja por redes sociais, celular, torpedo SMS, e-mail... Você se relaciona de diversas maneiras e não dá para separar o presencial do que é distante”.
A tendência, segundo ela, é que essa linha fique cada vez mais tênue. Já que a conexão é tão grande, Vera sugere substituir o termo 'ensino à distância' por 'ensino conectado'. “Para quem está distante, você não ensina. É aquele aluno que, presencialmente, não interage. Então, é mais conexão do que distância”.
Ela acredita que essa conexão é uma tendência geral. “Os alunos se relacionam pelo ambiente virtual, por blogs, por redes sociais, por páginas eletrônicas que fazem da turma na internet. A conexão é multimídia e multiplataforma”, completa, acrescentando que hoje todos estão mais conectados do que em qualquer outra época, o que torna o termo “ensino à distância” cada vez mais inadequado.